Antigos documentos dizem ter existido em Vale de Cambra (terra de Cambra) um mosteiro dúplex – de que não há os menores vestígios – e que teria a sua fundação no século IX, quando já o território cambrense estava livre da dominação arábica pela conquista por D. Afonso III das Astúrias.
Claro que tal facto não é para admirar dado o fertilíssimo vale que o Caima sulca de nordeste para sudoeste e já bem povoado por essa época.
Para justificar a existência de tal mos- teiro aponta-se o facto do filho de Gondezinho Eres, ou Gundezinho Eroni que aparece na corte leonesa cerca do ano 925, já em 897 haver feito doação e dote de muitos mosteiros entre o Douro e o Vouga, vindo a lucrar nestas doações o mosteiro de Pedroso que figura no século XIII, como possuidor de bens em Cambra.
E por isso se crê referir-se a um mosteiro a doação que em 924 o abade Donâni e a devota Létula fizeram aos frades de uma igreja fundada por este filho de Gondezinho.
Quanto ao lugar em que ficaria tal mosteiro, é que quase nada se sabe, presumindo-se simplesmente ficar em terras de Cambra, pois que teria de ficar dentro do dote da doação e este era constituído pelas «villas» de Saltelo (Soutelo) Richarrozos, Arones (Arões) e Vila Meã.
Como já dissemos, o mosteiro era dúplex, pois na doação se fala de frades e monjas, além daqueles Donani e Létula serem os superiores dele.
Voltando porém a face para outros dados, referentes à existência do mosteiro, vamos encontrar o seguinte:
Em 994, o abade Randulfo, que os próceres D. Troitosendo Galindes e sua mulher D. Animia haviam de chamar a reger o mosteiro de Paço de Sousa, por eles fundado, doa a este mosteiro as suas hereditates propes Kanina (Caima), entre o Douro e o Vouga.
De onde eram essas propriedades?… Aqui se faz mais um pouco de luz sobre a verdade, pois se crê, e disso parece não restarem dúvidas, que são dessa doação os bens que o Mosteiro de Paço de Sousa, ainda no século XIII para XIV, tinha em Castelões, no lugar do Mosteiro, e que pertenciam ao abade Randulfo que até então fazia parte da ordem do mosteiro de Cambra.
Só do lugar de tal mosteiro é que continuamos a não ter provas, não sendo contudo para desprezar a hipótese de ter existido em Castelões e ser até de si que veio o nome ao próprio lugar do Mosteiro.
Chegados aqui, e já agora para terminar, diremos ainda que eram muitos os bens da terra de Cambra que andavam em doações na antiguidade, convindo não esquecer o que o rei Ordonho II fez em 922 de muitas «villas» ao eremitério de Crestuma, quando ali veio em seus navios, sulcando o Douro, visitar o bispo resignatário de Coimbra.
Desta doação fazia parte a igreja de S. Pedro de Vila Chã.