Macieira
Macieira, ao tempo do foral de D. Manuel, Cambra, instituída em 1832 como concelho de Macieira de Cambra e agora apenas Macieira, por agregação de Cambra ao actual concelho de Vale de Cambra, achava-se ao tempo da fundação da Monarquia portuguesa incorporada nos domínios da diocese de Mérida e anteriormente à reforma dos Forais Novos da Estremadura, diz-se aparecer já como cabeça de concelho ou couto.
Vem relacionada em documentos como Caymbra, Santa Maria de Caymbra, Câmara do Bispo de Coimbra, Cambra e, mais tarde, Macieira de Cambra.
Esta última designação foi passada, como acima dissemos, para Vale de Cambra pelo Decreto n.º 12.976, de 31 de Dezembro de 1926, data em que a sede de concelho foi transferida para a povoação de Gandra, da freguesia de Vila Chã e Macieira de Cambra se ficou a chamar simplesmente Macieira.
Como concelho, andou quase sempre Macieira de Cambra em bolandas.
Assim, criado pelo Decreto de 16 de Maio de 1832 e com as freguesias de Arões, Roge, Vila Chã e Vila Cova de Perrinho, foi suprimido pelos Decretos de 6 de Novembro de 1836 e 31 de Dezembro do mesmo ano.
Mais tarde, uma lei de 29 de Outubro de 1840 cria-o novamente e conjuntamente com os concelhos de Albergaria-a-Velha e Oliveira do Bairro, até que em 19 de Dezembro de 1867 é novamente suprimido e anexado ao de Oliveira de Azeméis.
Só mais tarde volta a ser restaurado vindo ainda a ser novamente anexado a Oliveira de Azeméis, por Decreto de 21 de Novembro de 1895.
Esta dependência foi pouco duradoira pois o Decreto de 13 de Janeiro de 1898 lhe deu de novo autonomia.
Por último, através do já citado Decreto 12.976, de 31 de Dezembro de 1926, foi criado o de Vale de Cambra e extinto, pela sua vez, o de Macieira de Cambra.
Em Macieira, existem os restos de um castro com vestígios indeléveis, onde se supõe pudesse ter existido a «civitas» Calambriga bem como um castelo da reconquista, suevo-visigótico. São estes dados que outorgam a Macieira uma antiguidade imemorável.
A actual igreja matriz, sem pormenores de maior dignos de menção é de 1673, ano em que a sede paroquial foi transferida de Macieira-a-Velha, onde se encontrava, para onde actualmente está.
Tem esta igreja, além de outras imagens, a de Nossa Senhora do Rosário, de valor relativo, supondo-se ser feita de pedra de ançã.
No fundo da Praça da República, fica o antigo pelourinho em coluna grosseira e do lado direito os velhos paços do concelho transformados num esplêndido preventório, denominado Ar-Alto, que o Dr. Bissaia Barreto ali mandou construir.
Ao lado do preventório e numa casa de medíocre aspecto solarengo ficava o edifício da cadeia agora também transformado em refeitório da estância infantil Ar-Alto.
Era natural de Macieira o benemérito Luís Bernardo de Almeida que, à sua terra e no concelho, deixou o nome ligado por inúmeras obras de benemerência.
Em Macieira podemos citar como obra de difusão recreativa e cultural, o Centro Recreativo Musical e Literário, Luís Bernardo de Almeida.
Possui este Centro uma banda de música e um grupo de futebol, e das suas dependências fazem parte algumas salas para fins recreativos e de leitura.
Também pertence à freguesia de Macieira, o Seminário Apostólico de S. João de Brito.
Junto à capela do Senhor do Calvário, pudemos observar um secularíssimo sobreiro que não sabemos por que questões de maldade vem sendo de tempos a tempos decepado sem que a Junta de Freguesia se digne tomar uma atitude severa, conforme a sua função lhe impõe, e a maldade ou os interesses do decepador exige.
Uma árvore daquelas merece ser conservada e mal irá à Junta de Freguesia e aos homens bons da terra se a sua inteligência não chega para tal compreender.
Referindo-se a Macieira, Pinho Leal diz ter sido natural desta freguesia Dona Constança Afonso, irmã de D. Martinho Gomes Gil de Soverosa, acrescentando que foram os seus amores com D. Rodrigo Sanches, filho bastardo de D. Sancho I e da formosa D. Maria Pais, que deram causa a que seu irmão lhe matasse o amante em duelo, a 2-7-1245, nas pro- ximidades do Mosteiro de Grijó.
Quem sabe se esta D. Constança, nos seus devancios de amor com o filho de D. Sancho I, não teria ido tantas e tantas vezes sentar-se à sombra frondosa do velho e secular sobreiro do Senhor do Calvário?! Ai!, as árvores, quantas recordações e quantas tradições não conservam.
E aqui temos, descrita a traços largos, a muito antiga freguesia de Macieira.
Roge
A freguesia de Roge fica situada na margem direita do Caima, e o seu nome parece bem ser um genitivo medieval de um nome de pessoa (de Rugi, de um nome pessoal Rugus, de origem germânica, monotemático alatinado), aludindo a uma villa de um indivíduo desse nome.
Já no século XIII estava incluída no julgado ou terra medieval de Cambra, presumindo-se ter a sua origem em eras muito recuadas, podendo mesmo ascender aos tempos pré-históricos, dado o seu monte onde assenta a ermida de Nossa Senhora do Desterro, e bem próprio para defesas castrejas.
Para se ver, em Roge, há a igreja e um cruzeiro, ambos de estilo setecentista, obras de acentuado valor que revelam o período de prosperidade pelo qual esta freguesia deveria ter passado.
A igreja sofreu um incêndio e, em 1755, foi mandada reconstruir pelo Pároco Abreu.
O seu tecto é apainelado e decorado com pinturas de relativo valor que devem ser do tempo da reconstrução.
No alto, fica a capela de Nossa Senhora do Desterro, estando também situada em território de Roge a Barragem Duarte Pacheco.
Foi durante as obras desta barragem que aqui se fizeram importantes achados arqueológicos, o que mais uma vez leva a supor ter existido entre a barragem e o dique uma povoação romana.
Também pertence a Roge a conhecida Ponte Velha, ponte romana de um só arco que mais atesta a sua origem antiga. Roge foi priorado da apresentação dos Condes da Feira e depois da Casa do Infantado.
Codal
Esta freguesia andou anexada ao con- celho de Oliveira de Azeméis desde 21-11-1895 até 13-1-1898, pela supressão do concelho de Macieira de Cambra, neste lapso de tempo.
Em 21-11-1903, foi-lhe anexada a freguesia de Vila Cova de Perrinho que estava anexada à de Carregosa desde 21-11-1895, vindo Vila Cova a tornar-se independente em 6 de Setembro de 1940.
Codal aproveitou do foral passado a Cambra por D. Manuel a 10-2-1514. Também se presume ser muito antiga, pois o seu nome vem já referido em velhos documentos.
Castelões
A villa Pinioli do século X, traz ligada a si a história de um mosteiro dúplex que possivelmente aqui devia ter existido e a que já fizemos referência.
Fica nesta freguesia e no alto da Serra da Senhora da Saúde o Santuário da Senhora da Serra que se deve ao esforço do Padre Joaquim Manuel Tavares e onde se realiza todos os anos, nos dias 13, 14 e 15 de Agosto, a mais concorrida festa do concelho. E neste alto da Serra da Senhora da Saúde que Vale de Cambra tem a sua sala turística de recepções.
Também a freguesia de Castelões andou anexada ao concelho de Oliveira de Azeméis, por supressão do concelho de Macieira de Cambra, desde 21-11-1895 até 13-1-1898.
Entre as suas obras de arquitectura civil, cita-se com especial relevo o solar de Areias, maravilhoso exemplar da era medieval; entre os seus filhos ilustres destacam-se os nomes de D. Tomás de Almeida, bispo da Guarda, e o do célebre Padre-Mestre de Cabeço, notável latinista, que em Burgães manteve um curso de preparatórios para a Universidade, frequentado entre outros pelo Bispo de Coimbra, Bastos Pina, pelo citado Bispo da Guarda, etc.
Cepelos
Cepelos está situada na encosta norte da Serra da Gralheira. Era priorado da apresentação dos Condes da Feira e depois da Casa do Infantado.
Anteriormente tinha sido do Convento de Castromire a quem foi doado, segundo é tradição, por o rei Ordonho II, em 922. Andou anexada ao concelho de Oliveira de Azeméis desde 21-11-1895 até 13 de Janeiro de 1898.
No sítio conhecido por Outeiro dos Riscos, demos nota de umas insculturas pré-históricas, formadas em círculos concêntricos, bem curiosas para serem vistas como motivo arqueológico.
Insculturas iguais, ainda recentemente encontramos no Marco de Canaveses e numas pedras a que ali davam o nome de pedras misteriosas.
E é isto Cepelos.
Vila Chã
Vila Chã traz aliada a si a particularidade de ser a sede paroquial de Vale de Cambra, sendo ainda em parte do seu terreno que assenta também a sede do concelho.
Foi incluída, entre outras terras, no foral da Feira e terra de Santa Maria, dado por D. Manuel em Lisboa, a 10 de Fevereiro de 1514.
Diz-se ter sido em Vila Chã que existiu o opulento solar do vice-rei da Índia, Lopo Soares da Albergaria.
A sua igreja, sem qualquer interesse arquitectónico, deve ter sido construída no século XVII, nela havendo também uma imagem de Nossa Senhora do Rosário, de pedra de ança, muito parecida com a de Macieira, e, como aquela, também, de interesse muito relativo.
Vila Cova de Perrinho
Perrinho, referenciado no século XI como Porrino, deriva do latim porru e alude à vegetação principal, nome de que deriva um elemento do topónimo Vila Cova do Perrinho.
O vegetal a que alude deve ser uma espécie de alho bravo, muito abundante nesta freguesia e a que o povo vulgarmente chama alho-porro.
Nesta freguesia têm-se ultimamente registado achados do mais caro valor arqueológico, vindo desses achados as peças da idade do bronze a que atrás nos referimos.
Vila Cova de Perrinho andou anexada desde 21-XI-1895 à freguesia de Carregosa, e desde 21-II-1903 à de Codal, vindo a retomar a sua independência em 6-VIII-1940.
Junqueira
Foi um curato da apresentação do abade de S. Simão de Arões e passou a vigararia. Andou como outras freguesias também anexada ao concelho de Oliveira de Azeméis, desde 21-XI-1895 até 13-1-1898.
No Alto da Junqueira, no lugar denominado Póvoa ou Castro, há realmente enormes vestígios de um antiquíssimo castro, bem como algumas mamoas e um dólmen que, embora fique já em terrenos de Sever do Vouga, enunciamos aqui para esclarecimento da população interessada deste concelho. É conhecido este dólmen por Lapa da Moura, e à volta dele se fizeram já diversas escavações que conduziram a um fim feliz.
Junqueira deve ser, pelos vertígios ali encontrados e pela sua óptima altitude, um ponto dos povos primitivos. O dólmen, esse, supõe-se ser celta.
Arões
Arões, como já atrás dissemos, aparece como Arão (antigo Arom, isto é, Eroni, «villa»), e reflecte com este nome pessoal Ero, Erus, uma Eroni, «villa».
Se assim for, pode ser de origem germânica, o que, todavia, não garantimos, de nenhum modo.
Em Arões, apenas é de interesse a sua igreja paroquial, pela talha mais ou menos valiosa, especialmente do seu altar mor. Afora isso, nada mais possui Arões digno de nota.
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Reportagem fotográfica de A FOTOGRAFIA CENTRAL
Composto e Impresso no CENTRO GRÁFICO DE FAMALICÃO.