A idade de Vale de Cambra data, no sentido restrito de concelho, do ano de 1926, data em que foi criado, enquanto que a de Cambra, designadamente terra de Cambra, essa se perde na poeira do passado. E pois a idade da terra de Cambra que vamos tentar achar, des- prezando quanto possível as hipóteses menos aproximadas, para nos valermos de dados reais.
Ainda muito recentemente, todos se referiam a Cambra como terra muito antiga, mas ninguém aventurava uma era certa, constituindo a unanimidade em dá-la, apenas, como existente nos primórdios da Monarquia.
Claro que com os tempos algo mais se apurou, e de Vale de Cambra (terra de Cambra) diz-se, hoje, vir ela dos tempos romanos mas com raízes ante- riores a estes.
E disso é testemunho, além de outros dados, a arqueologia do território pela sua abundância em vestígios de história de povos primitivos, podendo-se apontar os castros, as edificações dolménicas, as insculturas rupestres, uma ponte romana e restos de utensílios vários, desde a cerâmica aos metais, etc.
Depois, um documento de 1073, embora relativo a Osela, cita aqui um castro tão notável tradicionalmente que era em referência a ele que se dava a localização das vilas vizinhas.
Ora para os mesmos castros e como elemento importante para as defesas castrejas haviam as montanhas a oeste do concelho onde os vestígios romanos, como tijolos, vasos de barro, contas, etc., têm aparecido.
Mas é ainda em relação ao documento acima citado que chegamos à conclusão de que a corda montanhosa que limita o vale ao ocidente de Vale de Cambra se chamava, então, * Monte Codal; que a serrania que fazia limitação ao nordeste, separando Cambra da terra de Arouca e da de Penafiel, era chamada Monte Fuste, e que a que o limitava pelo sul, separando-o de Sever, denominava-se Zevreiro (Ezevreiro).
Esta denominação alude à fama característica na época remotíssima da designação: o zevro, espécie perdida, ainda abundante e deveras apreciada nos séculos XIII-XIV e hoje identificada como sendo talvez o burro selvagem, e Fuste a cabra selvagem, também.
Voltando, porém, ao que reputamos de elementos esclarecedores da idade de Cambra, há que citar a civitas Calambriga de que atrás já falamos, e de um possível castelo, castelo da Reconquista, edificado na época suevo – visigótica.
Onde teria ficado esta civitas, bem como o castelo, é que ignoramos, sendo não obstante grave certa a sua existência pela reputação que lhe atribuem alguns documentos da pré-nacionalidade existentes na Torre do Tombo em Lisboa.
Assim, Vale de Cambra (a terra de Cambra) poderá, sem foros de qualquer dúvida, remontar-se a dois mil anos atrás e, pelo menos, à era romana em que assenta a sua origem.