Macieira de Cambra

Do livro Vale de Cambra, de António Martins Ferreira, 1942

Macieira de Cambra

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Macieira de Cambra

A vila de Macieira de Cambra é, sem dúvida, de origem muito antiga, perdendo-se, essas suas origens, em tempos imemoriais.

Recuar a fundação da freguesia até à pré-história é possível, muito embora não se possa datar com segurança os vestígios de ocupação humana, desses tempos tão remotos.

Referências a achados ou monumentos pré-históricos atestam o povoamento destas terras.

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Sendo, do ponto de vista administrativo, a freguesia mais antiga, aparece mencionada em vários documentos medievais, tendo dado origem ao topónimo do concelho.

A primeira referência escrita acerca da freguesia encontra-se num documento de doação anterior à fundação da nacionalidade no qual, no ano de 992, Ordonho II de Leão e Castela dá estas terras ao Bispo D. Gomado do Mosteiro de Crestuma.

Pertencendo ao Julgado Medieval de Cambra, é mencionada nas Inquirições de D. Dinis, onde se refere que na paróquia de Santa Maria de Macieira, havia, no lugar deste nome, a “quintã” e paço de Afonso Pais, estendendo-se a honra a cinco casais; no lugar de Tagim, havia a “quintã” de Gonçalo Dias; no de Mulhudos, havia outra “quintã” que honrava toda a aldeia, compreendendo sete casais do mosteiro de Pedroso e no de Padastros existiam cinco casais de mosteiros, sendo estes com toda a aldeia uma honra.

Orago

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Escultor Vaz Relvas

O seu orago é Nossa Senhora da Natividade, tendo sido ao longo dos tempos Macieira referenciada na toponimia como “Sancta Maria de Maceneyra que est in Calambria” (ano de 1179, RM, Pedroso p. 96; ADA XIV. 76), ou “Sancta Maria de Maceeira de Calambria” (ano de 1345 ADA XIV. 76).

A Igreja de Santa Maria de Macieira é obra muito antiga surgindo mencionada no reinado de D. Dinis, em 1320 (Rol. A, cfr. HI 11.670) onde se pode ler “Ecclesiam de maceeira”.

Património histórico e monumental – Atribuição do Foral

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Talvez lhe tenha sido concedido foral nos inícios da nacionalidade, no tempo de D. Sancho I, já que no foral de D. Manuel I, concedido séculos mais tarde, a 10 de Fevereiro de 1514 às Terras de Cambra, se fazem referências ao maço 5 dos forais antigos.

Tornando-se assim, sede do concelho.

Ver o FORAL DE CAMBRA

A ponte Velha de Padrastos

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A ponte Velha de Padrastos é um imóvel a visitar pelo seu interesse histórico e arquitectónico.

Provavelmente são os restos de uma estrada secundária romana que passaria por este local.

Pelourinho, Casa da Câmara, Igreja Matriz, Coreto e Jardim Público

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Pelourinho, que lhe está associado, é motivo de orgulho, em particular, de todos os “Macicambrenses”.

Ainda hoje é visível, na Praça da República, o Pelourinho, símbolo do poder municipal e da administração da justiça.

Foi classificado, como imóvel de interesse público, pelo Decreto – Lei 23122, de 11 de Outubro, de 1933.

A Praça da República, com o Pelourinho, a antiga casa da Câmara, Igreja Matriz, Coreto e Jardim público e as casas que a rodeiam é o conjunto arquitectónico mais histórico da freguesia – é o centro cívico de Macieira de Cambra, por excelência.

Cruzeiro setecentista

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O cruzeiro setecentista, recentemente restaurado, no Calvário, é uma obra digna de ser apreciada.

Festas Setembrinas

No que se refere a festividades, as Festas Setembrinas, que se realizam no primeiro Domingo de Setembro, em honra do Senhor do Calvário, e no dia 8 deste mesmo mês, em honra da Nossa Senhora da Natividade, tem nestes dias fixos a sua maior expressão.

Neste período, intercalam-se ou prolongam-se outros dias de festa.

São as festividades com maior tradição no concelho, já referenciadas nas Memórias Paroquiais de 1758.

São o “ex-libris” do povo de Macieira de Cambra.

As Terras de Cambra e sua integração nas Terras de Santa Maria

Quando as terras de Cambra foram doadas a Fernão Pereira, pai de Rui de Pereira, 1.º Conde da Feira, ficou pois Macieira a pertencer ao senhorio dos condes da Feira.

D. João I confirmou a posse das terras de Cambra, por carta dada em 29 de Fevereiro de 1428.

A este propósito, veja-se o que Humberto Baquero Moreno, escreve na sua obra “A Batalha de Alfarrobeira, vol. II, pp. 913-915.

Incluídas desta forma, durante séculos, nas chamadas “Terras de Santa Maria”, nelas permaneceu até á extinção da Família dos Pereiras, que se extinguiu por morte de D. Fernando Forjaz Pereira Pimentel de Meneses e Silva, 8.º Conde da Feira.

Sem sucessão legítima, por carta dada, em Lisboa, a 10 de Fevereiro de 1708, passaram a maior parte dos bens, entre os quais as terras de Cambra, para a Casa do Infantado, onde permaneceram, até à sua extinção, em 1834, com o advento do liberalismo.

O governo do concelho, e a constituição da Câmara em 1689, “A Villa de Cambra de que he Donatário o Conde da Feyra tem dous juízes ordinr.os do Cível, Crime, e Sizas, três Vereadores, e hum procurador, que se fazem por eleição em que prezide o Ouvidor da Villa da Feyra, e os confirma o Donatario; por ele se chamão. Tem mais dous Tabalioens do paço judicial, e nottas, hum escrivão da Camra, hum juiz dos orfãos e hum escrivão delles, que o he juntam te da almotasaria, e hum alcayde, todos pello d.o Donatr.o e por ele se chamão. O escrivão das Sizas, he por S. Mag.de. (…) – A Provedoria de Esgueira, vol. XXIV, Arquivo do Distrito de Aveiro, pp.76-77

Mudanças políticas da sede do concelho

He esta freg.ª Cabeça do Concelho, chamado o Concelho de Cambra, que comprehende nove freguezias, q.e são: Aroens, Junqueyra, Cepellos, Roge, Macieyra Villa Cova, Codal, V.ª Cham, Castelãos.

Destas freguezias, elugares dirão os seus Parochos os vezinhos q.e tem.- Memórias Paroquiais de 1758.

As muitas mudanças políticas do séc. XIX e XX reflectem-se também no concelho de Macieira de Cambra que, na época moderna, foi criado pelo Decreto de 16 de Maio, de 1832. Veio a sofrer várias alterações.

Assim, após a reformulação de 1832, é extinto em 1836 e novamente criado em 1840.

Em 1867, a 10 de Dezembro é outra vez extinto e anexado a Oliveira de Azeméis.

Volta a ser emancipado e, uma vez mais, anexado a Oliveira de Azeméis, em 21 de Novembro de 1895, para, em 1898, pelo Decreto de 13 de Dezembro, voltar a adquirir autonomia, até à criação do concelho de Vale de Cambra, pelo Decreto 12976, de 31 de Dezembro de 1926, que transferiu a sede do concelho para o lugar da Gandra, na freguesia de Vila Chã.

Desta forma, extingue-se o concelho de Macieira de Cambra dando lugar ao concelho de Vale de Cambra.

A 20 de Maio de 1993, pelo Decreto – Lei n.º 40/93, publicado a 2 de Julho, Macieira de Cambra foi de novo elevada a vila, retomando o seu “velho estatuto” que lhe confere, por direito, o titulo de vila histórica e que leva a que, a história do concelho de Vale de Cambra passe obrigatoriamente por Macieira de Cambra, uma vez que foi durante séculos, a sede do concelho.

Património Paisagístico

Macieira de Cambra é uma localidade com um valioso passado histórico aliado a paisagens de rara beleza.

Terra ancestral, habitada por gente afável, o seu rico e vasto património, e as belezas paisagísticas tornam-na uma freguesia com óptimas condições para o turismo.

Velha Macieira de Cambra, sempre jovem”

“Quem de automóvel ou camioneta se detenha, um dia, na velha praça de Macieira de Cambra e por ela avalie da linda terra da saúde, tecerá errado juízo.

Macieira de Cambra é como essas vetustas mansões e fachada medíocre, que possuem um parque esplendoroso nas traseiras.

Um parque semi portão heráldico, um deslumbrante álbum de paisagens sem frontespício.

É preciso irradiar da antiga praça, é preciso deambular por estradas e caminhos, para se surpreender a inefável beleza, ora discreta, ora imponente, desta sortílega região.

O adro oferece a primeira gentileza aos olhos.

Lombas e vales, colinas e regaços abrem-se perante nós, tudo verde e azul de manhã, todas as cores do arco-íris às horas crepusculares“. – Ferreira de Castro.

Localização geográfica e povoações

A vila de Macieira de Cambra, situada a 2 Km da sede do concelho, no encaixe dos montes Trancoso e Porto Novo, é atravessada pelo Rio Caima, Rio Vigues e vários córregos, sendo servida pelas estradas nacionais 227 e 224.

Limitada a norte por Vila Chã, Vila Cova de Perrinho e Chave; a sul por Rôge e S. Pedro de Castelões; a este por Rôge e a oeste por S. Pedro de Castelões e Vila Chã, dela fazem parte as povoações de: Algeriz; Amarelas; Areal; Barracão; Borbolga; Borralhal; Búzio; Cabanelas; Cancelo; Carvalha; Costa Anelha; Denouros; Doubens; Farrapa; Furna; Gainde; Leira do Rio; Lourosa; Macieira-à-Velha; Malhundes; Miracambra; Outeiro; Outeiro do Rei; Padrastos; Paredes; Passos; Paúl; Penedos; Perrinho; Pintalhos; Porto Novo; Póvoa; Praça; Quintã; Ramilos; Relvas; Regadas; Salgueirinhos; Santa Cruz; Santo Aleixo; Tagim; Vale Grande; Valgalhardo; Vide; Vilarinho e Vinha de Pé.

O centro urbano da freguesia é composto pelas Avenida Miguel Bombarda, Rua do Souto, Praça da República e Praça Ana Horvath de Almeida, situando-se nesta zona o edificio da Junta de Freguesia, o Museu Municipal, a Igreja Paroquial, Posto Médico, Pelourinho, Coreto e principais Jardins.

Aqui encontram-se os principais serviços públicos e comércios.

Com uma população residente aproximada de 6500 habitantes, nesta freguesia encontram-se representados os três sectores económicos.

Actividades predominantes

A agricultura pratica-se um pouco por toda a freguesia com produções variadas como milho, centeio, produtos hortícolas, batata e o vinho verde que à semelhança de todo o concelho é a cultura mais importante.

As condições naturais da freguesia, um clima ameno, um solo fértil e a abundância de água, tudo tem tido influência na agricultura local e, ainda que grande parte das explorações agrícolas sejam trabalhadas numa base familiar, pelo seu carácter acentuadamente minifúndico e pelo destino de grande parte da produção, que é de auto-consumo, não deixa mesmo assim a agricultura de ocupar uma boa percentagem da população.

Contudo, deve referir-se que, a maior parte dos agricultores pratica esta actividade em regime extra-laboral, facto que não a torna menos importante pois complementa o rendimento familiar.

Por seu lado, a pecuária faz-se em regime de pastorícia, nos sítios mais altos e em estábulos.

Nos montes ainda se pratica a caça à perdiz, coelho bravo, lebre e raposa.

Com maior incidência na metalomecânica e indústria de madeiras, os empreendimentos industriais, factores importantes para a criação de riqueza e progresso da região, têm-se dispersado um pouco por toda a freguesia.

Quanto ao comércio existente, são vários os estabelecimentos comercias que servem esta vila.

Centros de Apoio

Em termos sociais, a Fundação Luiz Bernardo de Almeida muito tem contribuído para o desenvolvimento da comunidade local.

Com as valências de Lar, Apoio Domiciliário, Centro de Dia, possui ainda em funcionamento um Gabinete de Apoio à Família e Comunidade.

No âmbito deste Gabinete são prestados os mais diversos apoios às famílias e é efectuado o acompanhamento às mais 95 famílias beneficiárias do Rendimento Mínimo Garantido.