Casas Senhoriais
Existem em Vale de Cambra muitas casas senhoriais, embora no passado a população fosse predominantemente agrícola.
Em Codal, as casas das Agras, de Armental, de João Borges da Cunha, dos Negrais, do Outeiro, do Paúl e do Poeta.
Em Macieira de Cambra, as casas de Algeriz, da Quintã, das Cerejeiras (ex-Vila Áurea Pinho) e “Quinta Progresso”.
Em Rôge, a casa do Paço.
Em S. Pedro de Castelões, as casas de Areias, de Baçar, do Bacelo, da Bouça, do Cabeço, de Cabril, de Cartim, da Cavada de Baixo, da Cavada de Cima, das Figueiras, da Igreja, da Lomba, de Mosteirô, da Mouta de Baixo, da Mouta de Cima e das Ordens.
Em Vila Chã, as casas de Chão da Cancela, de Moradal, da Póvoa, de Refojos, da Relva e da Quinta de S. Domingos.
RÔGE
CODAL
MACIEIRA DE CAMBRA
S. PEDRO DE CASTELÕES
FREGUESIA DE VILA CHÃ
Habitações Rurais
Na década de 90, cerca de 53% das famílias do concelho de Vale de Cambra eram agrícolas.
Assim, sendo o concelho predominantemente agrícola, as habitações rurais de lavrador possuíam normalmente eira, palheiro e espigueiro ou canastro, e eram, em geral, compostas de rés-do-chão e 1.° andar.
No rés-do-chão, designado por loja, havia o lagar, a prensa, as pipas de vinho, a caixa dos feijões, a caixa do milho, a salgadeira e as alfaias agrícolas.
No 1.° andar, uma sala grande, no meio da casa, era rodeada de quartos, e havia ainda uma cozinha ((A cozinha da casa agrícola era normalmente de terra batida, não tinha forro e possuía um espaço de dois a três metros para se fazer a lareira. Regra geral possuía uma lapeira. )) e excepcionalmente casa de banho.
À frente da casa havia um pátio e os currais de gado eram anexos e, por vezes, sob o rés-do-chão.
Nas Inquirições de 1258, a respeito de Junqueira cita-se a villa de Arões e as villas rústicas de Cabrum, de Felgueira, de Paraduça e de Souto Mau.
São de destacar as casas setecentistas em Junqueira de Baixo, as casas típicas dos séculos XVII-XVIII em Calvela, Junqueira, e as casas de xisto da Lomba, aldeia típica.
Casa da Tulha
No lugar de Cepelos de Baixo existe uma antiga casa, de construção granítica, com dois pisos – a Casa da Tulha.
Destaca-se arquitectonicamente pelo portal da fachada principal que é, no seu conjunto, formado por uma cruz trabalhada, em pedra, sobre a tiara pontifical, esculpida em alto relevo e tendo por moldura na base duas chaves cruzadas, símbolos papais e atributos de S. Pedro, um dos oragos do mosteiro; dos lados, duas colunas de forma cilíndrica com vários ornatos que se são rematados por um artístico florão no seu vértice. Data de 1760.
A designação de Casa da Tulha tem a sua explicação no facto de lá serem recolhidos os foros ou rendas das terras que eram foreiras do Convento de Santa Mafalda, de Arouca.
O facto do património das Ordens Regulares, transformado em Bens Nacionais, ter sido, em muitos casos, vendido a particulares em hasta pública justifica que este imóvel fosse pertença de Maria Rosa Tavares.
O viúvo, Adelino Soares Oliveira, natural de Cepelos, vendeu-o em 1996 à Câmara Municipal de Vale de Cambra7.
Na realidade, as ordens religiosas eram detentoras de um vasto património fundiário e, devido à dispersão geográfica das terras, raramente exerceram uma exploração directa dos seus domínios.
Assim, os prédios pertencentes às ordens religiosas eram registados no assento do mosteiro e aforados a rendeiros que os trabalhavam e eram obrigados a retribuições dentre as quais se destaca a renda.
O montante a pagar anualmente era avaliado segundo a caracterização das propriedades, tendo em conta a sua configuração, equipamentos e produtividade.
Além das prestações como géneros, animais e bens manufacturados, tinham de pagar uma quantia em numerário.
O pagamento do foro tinha lugar, regra geral, no fecho do ano agrícola, pelo S. Miguel, salvo disposições em contrário impostas pelos mosteiros, aonde se deslocavam os rendeiros, com as respectivas rendas.
Para libertar os foreiros, carregados com produtos, da deslocação a Arouca, o Mosteiro, devido à especificidade das rendas e ao número de propriedades aforadas na área de Vale de Cambra, adquiriu em 1760 uma casa particular, instituindo-a como um local de pagamento dos foros a Casa da Tulha.
O Convento deslocava para esta casa dois dos seus funcionários que atendiam os rendeiros para cumprirem o dever de pagar o foro.
Os produtos eram depositados nesta casa, após uma criteriosa medição, conforme os contratos de aforamento.
Encerrada toda a cobrança do ano, o Mosteiro de Arouca organizava uma expedição de carros de bois para carregar toda a existência das Tulhas que era posteriormente depositada no Convento.