Casas senhoriais e habitações rurais

Casas Senhoriais

Existem em Vale de Cambra muitas casas senhoriais, embora no passado a população fosse predominantemente agrícola.

Em Codal, as casas das Agras, de Armental, de João Borges da Cunha, dos Negrais, do Outeiro, do Paúl e do Poeta.

Em Macieira de Cambra, as casas de Algeriz, da Quintã, das Cerejeiras (ex-Vila Áurea Pinho) e “Quinta Progresso”.

Em Rôge, a casa do Paço.

Em S. Pedro de Castelões, as casas de Areias, de Baçar, do Bacelo, da Bouça, do Cabeço, de Cabril, de Cartim, da Cavada de Baixo, da Cavada de Cima, das Figueiras, da Igreja, da Lomba, de Mosteirô, da Mouta de Baixo, da Mouta de Cima e das Ordens.

Em Vila Chã, as casas de Chão da Cancela, de Moradal, da Póvoa, de Refojos, da Relva e da Quinta de S. Domingos.

RÔGE
Casa do Paço

Vou começar por dar destaque à casa do Paço e capela, na freguesia de Rôge, porque são propriedade, actualmente, de D. Maria Cândida Martins Vasconcelos Soares e Dr. Luís Aguiar Soares, patrocinadores deste volume, a quem presto o meu reconhecimento.

Pensa-se que nesta casa da família Vasconcelos terá vivido D. Catarina de Rojas, senhora castelhana que, segundo dizem, veio para Portugal como dama da Rainha D. Catarina, filha de Filipe I de Espanha e mulher de D. João III de Portugal.

D. Catarina de Rojas terá casado com Diogo Soares de Albergaria, filho de Lopo Soares de Albergaria, 3.° vice-rei da Índia, que consta ter vivido na Casa de Refojos, António Martins Ferreira [2] refere que nela viveu Lopo Soares de Albergaria, capitão da cidade e castelo de S. Jorge de Mina, em África, e 3.° vice-rei da Índia. em Vila Chã. Marques, Maria Clara de Paiva Vide – Monografia de Vale de Cambra, 1993

Presume-se que D. Catarina tenha vivido na freguesia de Rôge, daí dizer-se que o nome de Rôge deve ser uma corruptela de Rojas, de D. Catarina de Rojas.

Existe próximo da Igreja o lugar do Paço, burgo antigo, de ruas estreitas e casas graníticas, onde se pensa ter vivido D. Catarina e cujo nome se atribui ao facto de ter sido dama do Paço.

Existe, ainda, a fonte do Paço.

A capela privada, datada do século XVII, possui entre outras imagens a de Nossa Senhora da Conceição, do século XVI.

Para a construção da igreja paroquial, fora do contexto das grejas rurais da época, muito terá contribuído a influência pessoal dos senhores do Paço, e nela, em tempos passados, só podiam dizer missa padres descendentes da família Real.

CODAL
Casa dos Negrais

A casa, inserida na Quinta dos Negrais, fica situada no sopé de uma pequena colina, no lugar do Fundo da Aldeia, em Codal, e é uma das mais luxuosas, existentes na freguesia.

Construída em finais do século XVIII, encontra-se em muito bom estado de conservação.

Tem nove divisões e, no primeiro andar, o sótão divide-se em duas assoalhadas.

No rés-do-chão possui uma capela do século XIX, com altar de influência renascentista, uma biblioteca, adega e lojas de arrumação.

É uma construção solarenga, que pertenceu ao Sr. Dr. Joaquim António de Seixas, e foi remodelada no século XIX.

Alarga-se para a direita a zona de habitação.

O destaque vai para as sacadas e janelas no andar principal, cujos vãos formam um bonito arco.

No exteriar da casa, do lado esquerdo, encontram-se os estábulos, galinheiros e casa do caseiro.

Serve de bom exemplar para a época da extinção dos vínculos, esclarecendo o que ainda era a habitação da nobreza ligada à terra.

Como curiosidade, a Quinta dos Negrais publicitava os seus produtos agrícolas através do seguinte anúncio Ferreira, António Martins – Vale de Cambra, 1942:

Casa do Paúl

Na Quinta da Pena, mais conhecida por Quinta do Paúl por se encontrar no lugar do Paúl, em Codal, existe uma casa senhorial, construída na 2ª metade do século XVIII.

De grandes dimensões apresenta um aspecto em U.

Na porta principal de granito, entre pilastras encimadas por pináculos, existe um brasão que testemunha a antiga importância e nobreza dos seus proprietários: ao centro, escudo ornado, com águia no campo, diadema de grandeza e, por timbre, águia nascente; dele pende fita com cruz da Ordem de Avis.

Envolvem o escudo, palmas e flores.

Dada a sua importância, esta casa possuía direito de abrigo.

Diz-se que, quando havia batalhas com os Mouros, os soldados que fugiam das batalhas refugiavam-se nesta quinta e, assim, não eram presos nem obrigados a voltar para a guerra, por estarem numa quinta brasonada com armas reais.

O facto dos soldados, que ali se refugiassem, não poderem sair sem a guerra acabar, ficando na quinta a trabalhar, como que a cumprir uma “pena”, deve estar na origem do nome de Quinta da Pena.

Por volta de 1940, veio a pertencer ao proprietário e capitalista, Sr. Emídio Henriques Gonçalves, residente no lugar da Mouta, na freguesia de S. Pedro de Castelões.

A Quinta da Pena publicitava os seus produtos agrícolas através do seguinte anúncio:

MACIEIRA DE CAMBRA
Casa das Cerejeiras

A casa das Cerejeiras, antigamente conhecida por Vila Áurea Pinho, é uma típica casa de brasileiro, dos finais do século XIX, inícios do século XX, que está associada à forte emigração para o Brasil nessa época.

A sua construção data de 1913.

Situa-se em Macieira-a-Velha, em Macieira de Cambra, e pertencia a D. Áurea Pinho, esposa do Comendador António de Almeida Pinho.

Abrangia, na altura, uma grande extensão, incluindo o Solar das Laranjeiras que possuía um moinho.

A ligação entre as duas quintas, uma vez que estas eram (e ainda são) separadas pela estrada, era feita através de uma ponte que actualmente não existe, pois desde há bastantes anos que o Solar das Laranjeiras e a Quinta das Cerejeiras são propriedades distintas, e, como tal, pertencentes a diferentes donos.

Deste modo, apesar de reduzida, a Quinta das Cerejeiras ainda possui, para além da área destinada ao cultivo essencialmente de vinho, cereais e batatas, uma parte destinada a jardim, que se encontrava em frente à casa, cujo centro era ocupado por um pequeno lago de granito esculpido e cimento no seu interior, contornado por largos passeios.

A casa, situada dentro da quinta, é constituída por um andar e rés-do-chão, no qual funcionava, na altura em que era habitada por D. Rosalina de Almeida, sobrinha de António de Almeida Pinho, uma adega e uma sala de bilhar.

No entanto, após alguns anos, como consequência da venda da quinta a Carlos Teixeira Figueiroa, a parte interior da casa foi aproveitada para uma pensão, sofrendo os necessários restauros.

Enquanto pensão, principalmente no Verão, aí eram feitos, de vez em quando, bailes.

Após a morte de Carlos Teixeira Figueiroa, os bens não ficaram todos na posse da sua esposa.

Esta teve de os dividir com os herdeiros de seu marido.

Assim, esta quinta passou a pertencer a Carlos Matos Correia.

Casa "Quinta Progresso"

Outra casa típica dessa época, também em Macieira de Cambra, é a Quinta Progresso, datada de 1915, que pertencia ao Comendador Luís Bernardo de Almeida. ((Cruz, Maria da Graça Gaspar Mendes de Pinho da – Vale de Cambra, meio século de imagens, Vol. III, Macieira de Cambra ))

Durante muito tempo o rés-do-chão foi utilizado como discoteca.

Actualmente, foi comprada pela Casa Ferreira e, depois de restaurada, foi transformada em estalagem de quatro estrelas – Estalagem “Quinta Progresso” – que deverá ser inaugurada ainda este ano. (isto à data de 2005)

Este edifício está classificado como património de interesse municipal.

S. PEDRO DE CASTELÕES
Casa de Areias

Mais conhecida por Solar de Areias foi mandada construir no século XVIII.

O altar-mor em talha dourada e os azulejos da capela privada são também do século XVIII, assim como o posto de vigia.

A alta capela, que se lhe encosta à esquerda, possui aberturas rectangulares, porta com frontão curvo, postigos, janela do coro, pilastras nos cunhais, cimalha a cortar a base da empena, linhas direitas nesta, que enrolam na base.

O interior e o retábulo foram renovados no século passado. Gonçalves, A. Nogueira – Inventário Artístico de Portugal, Academia Nacional de Belas-Artes, Lisboa, 1991

O portão da entrada é constituído por duas fortes colunas de granito, onde colocaram, no pilar esquerdo, escudo partido de Albergarias e de Oliveiras, no direito, escudo em lisonja, partido de Leites e de Matos.

Nas portas de ferro estão inscritas uma data de provável restauração do solar – 1906 – e as iniciais de um dos proprietários, Joaquim Henriques Tavares Bastos J.H.T.B.

No andar nobre rasgam-se janelas simples e a entrada sobre que se levanta a cabeceira de linhas onduladas onde se crava um brasão (que descreverei mais adiante); cunhais e cimalhas de cantaria.

No século XIX deram-lhe um andar amansardado e renovaram-na interiormente, obras que se foram continuando, pelo que se lê na escadaria o milésimo de 1915.

Pertenceu ao primeiro e último Barão de Areias de Cambra, António Soares Leite Ferraz de Albergaria.

O título de Barão de Areias de Cambra foi-lhe concedido em 1874 por D. Luís I, pelo facto de ter exercido honrosamente, durante treze anos consecutivos, o cargo de Administrador do concelho de Cambra, de 19 de Junho de 1848 até 12 de Agosto de 1861.

Seus pais foram Tomás António Leite Soares de Albergaria e D. Maria José Cândida Ferraz.

Nasceu a 16 de Julho de 1824.

Foi fidalgo da Casa Real e cavaleiro da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa.

Exerceu o cargo de procurador do Marquês de Lavradio, último comendador da freguesia de S. Pedro de Castelões. Nascida em 1827, casou com António José de Castro Silva, 1º Visconde de Castro Silva. Este título foi criado por D. Maria II, Rainha de Portugal, por decreto de 13.09.1851

Consta que o Barão de Areias era uma pessoa bastante sociável: convidava normalmente os seus vizinhos, quando se cozia o pão, para com eles jogar cartas e comer o “bolo”; autorizava na sua residência a realizaçāo de algumas festas, entre as quais se destaca a que se concretizava quando as pessoas vindas da festa da Felgueira paravam no Solar e aí cantavam e dançavam, prosseguindo depois a romaria.

As desfolhadas atraíam a atenção das pessoas devido à popularidade dos seus bailaricos.

Além de sociável, era uma pessoa generosa, pois, quando as pessoas vizinhas a ele recorriam, pedindo-lhe alimentos como chá, café, açúcar, o Barão nunca lhos recusava.

Por morte do Barão, o solar ficou a pertencer à família de sua única irmã, D. Carolina Cândida Leite Ferraz de Albergaria, Viscondessa Castro Silva, do Porto.

Anos depois, o solar foi adquirido pelo grande capitalista e benemérito, Sr. Joaquim Henriques Tavares Bastos, Contribuiu com elevada quantia para a construção da escola do Covo (Escola Tavares Bastos), alargamento do cemitério e adro da Igreja, pagando também o forro e o soalho da Igreja (acta da Junta de Freguesia de 27.09.1885) e sua esposa, D. Inácia da Conceição Bastos, que procederam à restauração do solar.

Em 27 de Setembro de 1906 mandaram construir um coreto com o objectivo de ser o palco das festas do referido solar.

Passados anos, vieram viver para o solar a herdeira, sua sobrinha, D. Mariana Joaquina de Sousa Bastos, e seu marido, Sr. Manuel Tavares de Almeida, grande capitalista e que, como proprietário abastado, também o foi do solar de Baçar.

Posteriormente a casa e propriedades passaram para a posse de sua filha, D. Maria Augusta de Sousa Gomes de Almeida, casada como Sr. Dr. Abel Augusto Gomes de Almeida, da Casa da Lomba, pertencendo actualmente a seu filho, Sr. Dr. Manuel Augusto de Sousa Gomes de Almeida.

Crava-se no alto da frontaria grande brasão, envolvido dos ornatos do fim do século XVII, em calcário de Ançā, com as armas concedidas ao avô paterno do Barão de Areias de Cambra, Manuel Soares de Albergaria e Oliveira, por alvará de 1794, que apresenta certa disposição de móveis não concordante com os indicados, parece, no mesmo alvará.

Esquartelado: 1º cruz florida e aberta, tendo em bordadura sete escudetes das quinas, por Soares de Albergaria; 2º três flores-de-lis em roquete e ao centro cruz florida e aberta, mal desenhada e posta inclinada como aspa, por Leites; 3º uma árvore, por Oliveiras; 4º uma árvore entre dois leões assaltantes, por Matos; brica com um farpão; elmo fechado; timbre dos primeiros, dragão tendo no peito cruz aberta mas não florida. in GENEA PORTUGAL

Presume-se que o brasão da casa de Areias é de Tomás António Leite Soares de Albergaria e Oliveira, do seu pai, e Leite e Matos, da sua mãe.

A ideia de que este brasão teria sido trazido da casa de Refojos não é correcta, pois o de Refojos parece ser de Soares de Albergaria e Tavares.

Na realidade, na casa de Refojos, no tecto da capela, datada dos finais do século XVII, cuja padroeira é N. Sr.ª do Pilar, os painéis têm pintado o brasão da família, esquartelado, apresentando o primeiro e o quarto quartéis a cruz florida com escudetes na bordadura, por Soares de Albergaria; no segundo e no terceiro quartéis surgem as cinco estrelas em aspas, por Tavares.

Segundo Pedro França, o brasão da família Soares Albergaria e Tavares encontra-se em Coimbra a encimar o portão do que resta da antiga quinta de Vimarāes, na Avenida Bissaya Barreto, perto da Cruz de Celas e do Hospital Pediátrico de Coimbra.

O escudo é partido de Soares de Albergaria, e de Tavares, e tem um filete de bastardia sobre o escudo.

Actualmente quem habita essa quinta é o Sr. Carlos Mascarenhas Mexia Santos, descendente directo de Carlos de Sacadura Bote Pinto Mascarenhas e de D. Emília Soares de Albergaria Pessoa, A D. Emília é irmã de D. Maria d’Assumpção Soares de Albergaria Tavares, que faleceu em 1960, e foi casada com o segundo conde de Fijô, Dr. José de Castro Falcão Corte-Real filha do Dr. José Pinheiro Arnaut e de D. Maria José Soares de Albergaria Tavares, filha de Alexandre Luciano Soares de Albergaria Tavares, por quem veio a dita quinta.

Alexandre Luciano Soares de Albergaria Tavares foi senhor da Casa de Refojos em Vale de Cambra e alcançou brasão de armas por carta de 10 de Setembro de 1827 [6].

Vasco Jácome refere [6] quem era Alexandre Luciano Soares de Albergaria Tavares, baseado no Sanches de Baena, N. 32, actualizando a ortografia:

Natural do lugar de Refoios, freguesia de Vila Chã, bispado de Aveiro, filho de Manuel Bernardo Soares de Albergaria, monteiro-mor do concelho de Cambra e senhor da quinta de Refoios, e de sua mulher D. Luísa Clara Soares de Albergaria; neto paterno do capitão-mor Alexandre Bernardo Soares de Albergaria e de Teresa, solteira; e neto materno do capitão Manuel Soares Homem e de sua mulher, D. Maria Tavares.

Um escudo partido em pala; na primeira as armas dos Soares de Albergaria, e na segunda as dos Tavares. Br. P. a 10 de Setembro de 1827. Reg. no Cart. da N., liv. VIII, fl. 207 v. O imóvel foi objecto de restauro e é actualmente um Núcleo Museológico da Casa da Tulha, inaugurado no dia 18 de Maio de 2003 (Dia Internacional dos Museus).

O Solar de Areias publicitava os seus produtos agrícolas, afamados pela sua qualidade, através do seguinte anúncio:

Casa de Baçar

Grande edifício, mas de gosto comum, é repartido em dois corpos principais, com janelas do tipo finais do século XVIII, simples.

O portão do pátio, do tipo finais de seiscentos, inícios de setecentos, possui lintel, friso e cornija, sendo o coroamento feito de cruz sobre alto pedestal, posto a meio, cavado de breve nicho, ladeado de duas aletas, com pináculos aos lados.

Tinha esta casa, na igreja, capela privativa. [4]

A casa de Baçar foi a casa do 1.° Visconde de Baçar, Fernando António de Almeida Tavares e Oliveira.

O título “Visconde de Baçar” foi criado por D. Luís I, Rei de Portugal, por decreto de 28.01.1871

O 1.° Visconde de Baçar nasceu a 31 de Março de 1793 e era filho do capitão-mor Tomás António de Almeida e de D. Ana Maria de Jesus Martins.

Foi capitão-mor do concelho de Macieira de Cambra e fidalgo da Casa Real.

Foi, ainda, bacharel formado em Cânones e Leis da Universidade de Coimbra, juiz de fora em Castelo de Vide, Lafões e Vouzela, tesoureiro-pagador em Viseu e comendador da Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa.

Faleceu, solteiro, na sua casa de Baçar, em 31 de Outubro de 1882.

O 2.° Visconde de Baçar foi José Maria de Abreu Freire e Almeida, sobrinho do primeiro e filho de D. Miquelina de Almeida, de Baçar, e de João de Resende Valente de Sá Abreu Freire, fidalgo da Casa Real.
Era neto materno de Tomás António de Almeida e de D. Ana Maria de Jesus Martins.

Nasceu em 28 de Março de 1827. Foi bacharel formado em Direito pela Universidade de Coimbra e, seguindo a magistratura, chegou a juiz de 1.ª classe.

Foi fidalgo da Casa Real e faleceu, solteiro, em 16 de Fevereiro de 1893, na sua casa de Baçar.

O 3.° Visconde de Baçar foi António Tomás de Sá Resende de Abreu Freire Valente.

Nasceu em 1830 e casou com D. Joana de Abreu Freire, natural da freguesia de Avanca, concelho de Estarreja. Tiveram um filho que viria a sero 4.° Visconde.

O 4.° Visconde de Baçar, José Maria de Abreu Freire de Azevedo e Bourbon, casou em 1893 com D. Maria José Barbosa Falcão Pereira de Azevedo e Bourbon, irmã do 2.° Conde de Azevedo e com sangue da Casa de Bragança. Tiveram duas filhas e um filho, António Tomás de Abreu Freire de Azevedo e Bourbon, que viria a ser o 5.° Visconde de Baçar.

Era bacharel formado pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Foi advogado no Porto e Estarreja e, por algumas vezes, exerceu o cargo de Presidente da Câmara Municipal de Estarreja.

Faleceu na sua casa do Outeiro, em Avanca, em 1935.

O 5.° Visconde de Baçar, como já referi, foi António Tomás de Abreu Freire de Azevedo e Bourbon. Ainda em vida de seu pai, foi autorizado por D. Manuel II a usar o título de Visconde.

Em 1923 casou com sua prima, D. Maria da Glória Barbosa de Queirós de Azevedo e Bourbon, com sangue da Casa de Bragança e filha dos 2.ºs Condes de Azevedo.

Era formado pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra e advogado no Porto. Parece ter falecido na sua casa do Outeiro, em Avanca. GENEA PORTUGAL com base nas seguintes fontes: Nobreza de Portugal e Brasil, vol. 2, págs. 365 e 366, e Anuário da Nobreza de Portugal, 1985, Tomo 1, pág. 636.

Casa das Figueiras

A sua construção remonta ao século XIX, mais precisamente a 1872, e foi obra do Reverendo Padre Joaquim Manuel Tavares, A este ilustre castelonense, pela sua amizade com o deputado José Estevão Coelho de Magalhães, se deve a construção, por volta de 1870, da estrada que ligou os concelhos de Oliveira de Azeméis a Arouca, passando pelo concelho de Cambra mais conhecido por Padre Mestre de Cabril e que foi o primeiro professor oficial da freguesia de Castelões.

Nasceu em Setembro de 1802 e, além das suas qualidades de docência, foi brilhante orador sagrado.

O material de base utilizado para a feitura do casarão foi a pedra e, para as portas e janelas, a madeira de castanho.

A casa tem cerca de vinte divisões: quartos, casas de banho, sala de jantar, arrecadação, escritório, biblioteca, etc.

A sua biblioteca pessoal foi considerada na época a melhor biblioteca do distrito de Aveiro.

Na cave, a adega é composta de três lagares, uma prensa e, também, de arrecadações, onde eram guardadas as alfaias agrícolas.

Depois da morte do Padre Mestre, em 11.02.1882, a Casa das Figueiras ficou a pertencer ao seu sobrinho-neto, Padre Joaquim Manuel Tavares, grande benemérito da freguesia de S. Pedro de Castelões, que enriqueceu a referida biblioteca com muitas obras.

Em 1923, o referido sobrinho-neto mandou construir junto à casa uma capela, tendo como Padroeira Nossa Senhora de Lurdes.

Após o falecimento deste Reverendo, a casa ficou a pertencer ao Dr. Joaquim Tavares de Matos, médico em Oliveira de Azeméis, e actualmente pertence a sua filha, D. Maria Luísa.

A casa sofreu grandes restauros em 1973, mantendo, porém, a sua estrutura inicial.

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5 A este ilustre castelonense, pela sua amizade com o deputado José Estevão Coelho de Magalhães, se deve a construção, por volta de 1870, da estrada que ligou os concelhos de Oliveira de Azeméis a Arouca, passando pelo concelho de Cambra [2].

Casa da Lomba

A casa da Lomba foi construída em três fases: a primeira foi em 1831, da segunda não se sabe a data precisa e a terceira, referente à parte frontal da moradia, em 1901.

Foram seus primeiros proprietários Manuel Gomes de Almeida e sua esposa, D. Maria Joaquina de Bastos, pais de Tomaz Gomes de Almeida, nascido em 25 de Novembro de 1836.

Tomaz Gomes de Almeida recebeu a protecção de um tio, Padre António Gomes de Almeida, frequentou a escola primária de Castelões e recebeu aulas de Latim em Macieira de Cambra, com o professor Rev.° António Henriques Tavares, da casa do Cabeço.

Ingressou primeiramente no seminário de Aveiro e posteriormente no de Coimbra. Primeiro aluno do Curso, concluiu a formatura na Faculdade de Teologia da Universidade de Coimbra e, seguindo a sua ordenação de presbítero, celebrou missa nova em 29 de Junho de 1860.

Em 1863 foi nomeado por D. António Alves Martins cónego da diocese de Viseu, com obrigação de ensinar no seminário de Viseu [2].

Três anos depois, em 1866, ocorre a renúncia do Bispo de Angola, D. José Lino de Oliveira e Alves Martins. Dada a consideração que o cónego lhe merecia e dado o poder de que dispunha, sugeriu que Tomaz fosse nomeado Bispo de Angola.

Assim, em 21 de Janeiro de 1872, foi sagrado Bispo de Angola, na igreja do Sacramento, em Lisboa, seguindo no mesmo ano para a diocese de Angola e Congo, visto a diocese se encontrar deveras abandonada.

D. Tomaz procurou tomar medidas pelas quais as dificuldades fossem vencidas. Entre essas medidas destacam-se a reabertura do seminário de Luanda e a convocação dos sacerdotes da Metrópole para irem assistir à diocese de Angola.

Aí, D. Tomaz procurou dar um contributo para a solução do problema do clero, pelo que reorganizou o seminário diocesano e estabeleceu o registo paroquial, então, quase inexistente.

Tendo visitado pastoralmente o Sul de Angola, desempenhou várias funções de responsabilidade, como as de Presidente de Comissão Administrativa do Recolhimento de D. Pedro V da Junta Protectora dos Libertos, bem como as de vogal nato do Conselho do Governo, do Conselho Inspector de Instrução Pública e da Junta Nacional de Pronúncia.

Em 1876, por motivo de doença regressa a Lisboa. No mesmo ano e ainda mal restabelecido é nomeado Bispo in partibus de Teje e, nessa qualidade, é enviado para a India para exercer as funções de Vigário da arquidiocese de Goa, na ausência do titular, Ornelas e Vasconcelos.

Em 1882 regressa a Portugal, assumindo em 14 de Outubro de 1883 as funções de Bispo da Guarda. Aqui se manteve, praticando o bem até 3 de Janeiro de 1903, data do seu falecimento, encontrando-se sepultado na Sé da Guarda [2].

A célebre casa em que o Bispo nasceu ainda hoje conserva em seu poder algumas vestes clericais, uma mitra e uma cruz de peito.

Os documentos referentes à vida de D. Tomaz encontram-se na Guarda.

A casa da Lomba, assim designada pelo facto de se situar no lugar com a mesma denominação, é composta por 27 divisões e tem uma área de 409,52 m2.

Os materiais utilizados para a sua construção foram a pedra, barro, cale madeira de castanho para portas, tectos e janelas.

Como pertença do mesmo proprietário existe a casa do Covo, donde se salienta o belíssimo e trabalhado tecto de uma sala.

Em 1901 nasceu na casa da Lomba outra figura de vulto, Dr. Abel Augusto Gomes de Almeida, que prestou relevantes serviços médicos ao concelho.

Foram também seus proprietários D. Maria Alice Gomes da Costa Coutinho e seu marido, Sr. António Martins Soares, que procederam à restauração da parte frontal da moradia.

FREGUESIA DE VILA CHÃ
Casa de Moradal

Na casa de Moradal, coberta a azulejo e com capela privada, nasceu o primeiro Barão de Salgueiro, Dr. Manuel José de Pinho Soares de Albergaria, do concelho de Sua Majestade, fidalgo cavaleiro da Casa Real, Comendador da Ordem de Nossa Senhora da Conceição, bacharel formado em Direito pela Universidade de Coimbra e Juiz de Direito [2].

Casa da Quinta de S. Domingos

Inicialmente pertenceu ao Reverendo Monsenhor, Dr. Domingos Fernandes Nogueira, natural de Cabrum, Ministro da Ordem Terceira de S. Francisco e Mto Digno Prior da Basílica da Estrela de Lisboa, que muito se esforçou e contribuiu para o engrandecimento do concelho [2].

Posteriormente, foi vendida a Domingos da Costa Leite e, actualmente, pertence a sua filha, D. Maria Adelaide Soares Pinheiro da Costa Leite e Cardo, e a D. Maria José Azevedo de Pinho Leite e seus filhos, José Humberto e Fenando José.

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[1] Marques, Maria Clara de Paiva Vide – Monografia de Vale de Cambra, 1993.
[2] Ferreira, António Martins Vale de Cambra, 1942.
[3] Cruz, Maria da Graça Gaspar Mendes de Pinho da – Vale de Cambra, meio século de imagens, Vol. II, Macieira de Cambra.
[4] Gonçalves, A. Nogueira Inventário Artístico de Portugal, Academia Nacional de Belas-Artes, Lisboa, 1991.
[5] A Voz de Cambra, Ano XXXI, N. 792, de 10 de Novembro de 2004.
[6] in GENEA PORTUGAL.
[7] Br. P. a 10 de Setembro de 1827. Reg. no Cart. da N., liv. VIII, fl. 207 v.
[8] GENEA PORTUGAL com base nas seguintes fontes: Nobreza de Portugal e Brasil, vol. 2, págs. 365 e 366, e Anuário da Nobreza de Portugal, 1985, Tomo 1, pág. 636.

Habitações Rurais

Na década de 90, cerca de 53% das famílias do concelho de Vale de Cambra eram agrícolas.

Assim, sendo o concelho predominantemente agrícola, as habitações rurais de lavrador possuíam normalmente eira, palheiro e espigueiro ou canastro, e eram, em geral, compostas de rés-do-chão e 1.° andar.

No rés-do-chão, designado por loja, havia o lagar, a prensa, as pipas de vinho, a caixa dos feijões, a caixa do milho, a salgadeira e as alfaias agrícolas.

No 1.° andar, uma sala grande, no meio da casa, era rodeada de quartos, e havia ainda uma cozinha ((A cozinha da casa agrícola era normalmente de terra batida, não tinha forro e possuía um espaço de dois a três metros para se fazer a lareira. Regra geral possuía uma lapeira. )) e excepcionalmente casa de banho.

À frente da casa havia um pátio e os currais de gado eram anexos e, por vezes, sob o rés-do-chão.

Nas Inquirições de 1258, a respeito de Junqueira cita-se a villa de Arões e as villas rústicas de Cabrum, de Felgueira, de Paraduça e de Souto Mau.

São de destacar as casas setecentistas em Junqueira de Baixo, as casas típicas dos séculos XVII-XVIII em Calvela, Junqueira, e as casas de xisto da Lomba, aldeia típica.

LOMBA DE ARÕES, VISÃO OUTONAL DE UM PARAÍSO DE SUBSISTĒNCIA

A Lomba é uma das aldeias mais típicas de Vale de Cambra, encravada num penhasco da Serra da Freita.

As suas gentes, num labor contínuo de gerações, criaram com esforço os socalcos característicos que sobem a encosta, em tonalidade verde, chão de uma agricultura de subsistência.

No topo do monte, juntamente com o casario, os canastros em fila são testemunho de um trabalho agrícola, árduo e colectivo, e celeiro do pão de cada dia.

Rodeada de imponentes e agrestes paisagens, a Lomba, quando surge aos nossos olhos parece bela de mais para ser verdadeira…
… é um dos lugares mais paradisíacos do concelho de Vale
de Cambra…
[1].
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[1] Excerto de um texto elaborado por Maria da Graça Pinho da Cruz a solicitação do Dr. Fausto de Almeida, em 2002, para ilustrar uma reprodução em offset de uma aguarela de Abílio Guimarães (edição única de 50 exemplares).

Casa da Tulha

No lugar de Cepelos de Baixo existe uma antiga casa, de construção granítica, com dois pisos – a Casa da Tulha.

Destaca-se arquitectonicamente pelo portal da fachada principal que é, no seu conjunto, formado por uma cruz trabalhada, em pedra, sobre a tiara pontifical, esculpida em alto relevo e tendo por moldura na base duas chaves cruzadas, símbolos papais e atributos de S. Pedro, um dos oragos do mosteiro; dos lados, duas colunas de forma cilíndrica com vários ornatos que se são rematados por um artístico florão no seu vértice. Data de 1760.

Pormenor do portal da Casa da Tulha – Cepelos

A designação de Casa da Tulha tem a sua explicação no facto de lá serem recolhidos os foros ou rendas das terras que eram foreiras do Convento de Santa Mafalda, de Arouca.

O facto do património das Ordens Regulares, transformado em Bens Nacionais, ter sido, em muitos casos, vendido a particulares em hasta pública justifica que este imóvel fosse pertença de Maria Rosa Tavares.

O viúvo, Adelino Soares Oliveira, natural de Cepelos, vendeu-o em 1996 à Câmara Municipal de Vale de Cambra7.

Na realidade, as ordens religiosas eram detentoras de um vasto património fundiário e, devido à dispersão geográfica das terras, raramente exerceram uma exploração directa dos seus domínios.

Assim, os prédios pertencentes às ordens religiosas eram registados no assento do mosteiro e aforados a rendeiros que os trabalhavam e eram obrigados a retribuições dentre as quais se destaca a renda.

O montante a pagar anualmente era avaliado segundo a caracterização das propriedades, tendo em conta a sua configuração, equipamentos e produtividade.

Além das prestações como géneros, animais e bens manufacturados, tinham de pagar uma quantia em numerário.

O pagamento do foro tinha lugar, regra geral, no fecho do ano agrícola, pelo S. Miguel, salvo disposições em contrário impostas pelos mosteiros, aonde se deslocavam os rendeiros, com as respectivas rendas.

Para libertar os foreiros, carregados com produtos, da deslocação a Arouca, o Mosteiro, devido à especificidade das rendas e ao número de propriedades aforadas na área de Vale de Cambra, adquiriu em 1760 uma casa particular, instituindo-a como um local de pagamento dos foros a Casa da Tulha.

O Convento deslocava para esta casa dois dos seus funcionários que atendiam os rendeiros para cumprirem o dever de pagar o foro.

Os produtos eram depositados nesta casa, após uma criteriosa medição, conforme os contratos de aforamento.

Encerrada toda a cobrança do ano, o Mosteiro de Arouca organizava uma expedição de carros de bois para carregar toda a existência das Tulhas que era posteriormente depositada no Convento.

Casa da Tulha – Cepelos