A Vida Agrícola

A vida agrícola

A Vida Agrícola

Hidrografia

Vale de Cambra é um concelho situado num amplo vale, que está integrado na região Hidrográfica n. 7 Mondego/Vouga.

As suas terras desde sempre se revelaram excepcionalmente férteis para a produção agrícola, encontrando-se protegidas, além disso, pelas montanhas envolventes, ricas em densa e variada vegetação.

Assume particular importância, para a fertilidade deste imenso e belo vale, o rio Caima que, desde a Frecha da Mizarela, onde nasce, desce pela serra da Freita e corre para a planície onde se encontra com outros afluentes, de menor vulto, mas igualmente responsáveis pela riqueza do solo, como o Vigues, proveniente da serra do Porrinho, o Moscoso das Chās e o rio Cabras.

O rio Caima tem o seu início próximo da Frecha da Mizarela e, ao descer da Serra da Freita, precipita-se por entre as rochas profundas com pitorescos riachos e cascatas.

No vale, atravessa a planície de leste para oeste e apresenta perspectivas de aliciante beleza por entre a verdura dos campos e a ramagem dos amieiros que o debruam.

Os campos que se estendem pela planície e os que se dispõem em anfiteatro pelas encostas, com árvores e ramadas de vinha a circundá-los, apresentam-se, no inverno, tapetados de erva viçosa, formando lameiros e, no verão, com as searas de trigo e centeio ondeando ao vento, ou os vastos milharais com prometedoras espigas são o índice da sua excelente fertilidade e bucólica paisagem. Ferreira, António Martins, Vale de Cambra, 1942

Na realidade, na confluência dos rios Caima, Vigues e Moscoso naquele vale está a origem da sua excepcional fertilidade, uma vez que eles dão aos seus campos a irrigação e a humidade necessárias para o florescimento de abundantes e diversificadas culturas, bem como para o aparecimento de verdejantes terrenos propícios à criação de gado.

A importante rede hidrográfica torna fácil o recurso à rega.

As águas da rega, no tempo das culturas, eram distribuídas em giro por todos os habitantes dos lugares.

Para um melhor aproveitamento das águas do Caima em benefício da agricultura, a Junta Autónoma das Obras de Hidráulica Agrícola levou a efeito no século XX a construção de uma barragem na freguesia de Rôge.

A Barragem Engenheiro Duarte Pacheco, como se denomina, foi construída com o objectivo de proporcionar às partes mais altas do vale a irrigação dos seus terrenos, tornando-os, deste modo, mais férteis.

Um aspecto curioso a salientar é que, durante as obras de edificação desta barragem, entre 1932 e 1940, foram encontrados vestígios arqueológicos de grande valor histórico, que permitiram aos historiadores concluir que aquela zona fora habitada, talvez em épocas pré-históricas.

Daí que, para além das suas enormes vantagens para a agricultura do concelho, este importante empreendimento veio, ainda, enriquecer culturalmente Vale de Cambra.

Actividade Agrícola

A exploração agrícola faz-se predominantemente em regime de minifúndios dando à paisagem um belo aspecto de manta retalhada de verde, que as águas dos rios, nos dias de sol, parecem debruar com fitas de ouro.

A agricultura apresenta quase sempre características artesanais e de subsistência.

Muitos agricultores, de sol a sol, lutam, diariamente, amanhando a terra para poderem comer e, antigamente, repartir com os senhorios o maior quinhão dos bens produzidos.

As principais produções de Vale de Cambra são o milho e as forragens que ocupam grande parte dos terrenos de cultivo.

A estas juntam-se muitas outras, igualmente importantes para as economias das povoações rurais e dos seus agricultores, tais como a batata, o feijão, o trigo, a aveia, o centeio, a cevada, o linho, o mel, embora em quantidades mais limitadas.

Simultaneamente, abundam as hortas e os pomares, que ajudam, como seu colorido, a tornar ainda mais bela a paisagem que se torna deslumbrante nas zonas altas onde predominam as jeiras Jeiras são campos em degraus, onde se cultivam produtos hortícolas, cereais e vinho verde.

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Jeiras – Paço de Mato – Rôge

Nos montes crescem e florescem livremente a carqueja e a queiró.

As pastagens e as forragens, como já referi, são abundantes e com elas, o agricultor, principalmente o caseiro, aufere a mais importante receita quotidiana na criação de gado e venda de leite.

De grande importância para o desenvolvimento da actividade agricola e para a valorização económica dos agricultores valecambrenses foi a criação neste concelho de cooperativas agrícolas.

Assim, foram constituídas a Cooperativa Agrícola de Vale de Cambra, a Cooperativa Agrícola de Criadores de Gado e Avicultores do Caima (esta sediada em Macieira de Cambra e já extinta) e ainda, a Uniagri – União de Cooperativas Agrícolas do Noroeste.

Também estes organismos deram um assinalável impulso à agricultura não só do concelho como de toda a região.

Mas um dos produtos mais famosos e reputados deste concelho é, sem qualquer dúvida, o seu óptimo vinho verde, que constitui uma das suas grandes riquezas.

A alta qualidade dos vinhos aqui produzidos valem a esta região a classificação de Região Demarcada dos Vinhos Verdes, sendo a viticultura, quer antigamente quer actualmente, uma das actividades em mais próspera ascensão em Vale de Cambra e que desenvolverei a propósito do ciclo do vinho.

Pelas encostas das serras que envolvem este abundante e sempre belo vale, cresce uma densa florestação abraçando-o e proporcionando ao olhar uma tela maravilhosa de verdes escuros que contrastam docemente com os tons claros dos pastos e dos campos cultivados que se estendem aos seus pés.

Neles predominam os pinheiros, cuja cultura data de 1880, seguindo-se os eucaliptos, de 1920, carvalhos, sobreiros e castanheiros que tendem a desaparecer.

Em menor quantidade, podem ainda ver-se austrálias, cedros, salgueiros, amieiros, freixos, loureiros, acácias, tílias e choupos.

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Paisagem

É nesta vasta e diversificada florestação que se baseiam as indústrias de serração e caixotaria, cuja importância é bastante considerável para o concelho.

Este belo vale foi descrito, de uma maneira sublime, por Ferreira de Castro:

Vale de Cambra é um vale cercado de altas montanhas, de formas extravagantes, quase sem planos, em que a terra é verde e o céu é azul; é tudo verde e azul com raros pontos brancos de casario que, mais que moradias de homens, parecem janelas da própria paisagem.

Ao crepúsculo, porém, o grande vale sofre metamorfose, torna-se polícromo e as suas cores separam-se, aqui, muito nítidas, e dissolvem-se e confundem-se além, num encanto visual indescritível.

Nas noites de luar, quando o grande balão de oiro surge na lomba das montanhas, o vale enche-se de magia, dum sortilégio que paira desde os píncaros às águas sussurrantes do Caima.

De manhã, é o milagre. Todos os dias há um milagre de luz sobre a terra quando o sol nasce em Vale de Cambra.
Castro, Ferreira de, in Guia de Portugal

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Paisagem

Fauna

Também as espécies do reino animal que habitaram estas zonas montanhosas em tempos mais recuados merecem ser nomeadas, sendo pena que hoje existam em quantidades muito reduzidas e que muitas delas se encontrem mesmo extintas.

Entre elas, lembre-se, por exemplo, o burro e a cabra selvagem, o lobo, a raposa, o gardunho e o texugo, bem como o coelho selvagem, a lebre, a perdiz, a codorniz, o pombo bravo, o estorninho e a rola.

O animal que mais auxiliava o lavrador de Vale de Cambra no trabalho era o boi.

A vaca de raça arouquesa trabalhava e produzia leite.

A vaca holandesa ou turina, em geral era criada só para produzir leite e veio substituir a anterior.

O leite e a manteiga

O leite, desde finais do século XIX, era recolhido diariamente em postos de recepção de leite, espalhados pelo concelho, e, mais tarde, industrializado nas duas fábricas de lacticínios Martins & Rebelo e Lacto-Lusa, Lda. existentes na então vila.

É, na realidade, uma larga produção de manteiga que vai estar na base do arranque da industrialização da região.

No entanto, inicialmente a manteiga era produzida por processos artesanais, a chamada “manteiga caseira” que resultava do leite tirado às vacas e depois coado com um coador ou um pano.

De seguida era colocado num grande púcaro de barro e deixado a fermentar (era costume dizer-se “estragar um pouco”).

Um pau, com uma rodela batedeira na ponta, passava por um orifício de uma tampa de cortiça ajustada ao gargalo do púcaro e ia batendo o leite em movimentos cadenciados até que a gordura se separasse do soro.

A manteiga era, então, recuperada com uma escumadeira e, com o formato de uma bola, colocada num alguidar com água.

A melhor manteiga era a mais amarela.

Animais domésticos

A ovelha, o carneiro e a cabra eram um bom recurso.

Os rebanhos de ovelhas e cabras pastavam placidamente nos montes.

Nos baldios havia “baduas” de gado. Terrenos baldios são aqueles onde os vizinhos de determinado concelho, freguesia ou lugar, podem livremente apascentar gado, cortar mato, obter combustível ou estrume e até, por vezes, fazer lavoura em glebas [3].

Os pastores iam para os montes com um “buzino” e diziam:

povo, botai para cá o gado!“.

Abriam-lhe as portas e o gado ia todo junto – duzentas ou trezentas cabeças de gado.

O mais interessante é que, quando regressavam, os animais sabiam onde eram os seus próprios currais.

O primeiro baldio do concelho de Vale de Cambra foi partido em 1913. A divisão foi feita em duas glebas 3
Em Arões, as zonas florestais e baldios são actualmente geridos pela Junta de Freguesia e, como suporte à agricultura, existem vários regadios tradicionais, bem como a Barragem de Souto Mau, em betão armado de 17 metros de altura, junto à Estrada Nacional 227, numa garganta apertada do rio Arões.

Desta barragem sai uma conduta que abastece a levada que conduz a água de rega para os campos de Souto Mau.

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Rebanho

A tosquia

A tosquia era feita de ano a ano, entre Maio e Julho.

As pessoas costumavam dizer que “para os tosquiar em Abril, ainda há-de ter mil”.

As ovelhas e os carneiros, depois de amarradas as pernas, eram tosquiados começando pelo pescoço.

A lã era, então, sedada (limpa das impurezas) e cardada (desenredada com um pente).

Depois era enrolada à volta da parte média (bojuda) da roca de cana (o bojo conseguia-se, regra geral, pela pressão de uma rolha introduzida na cana rachada).

Com os dedos da mão esquerda puxava-se e retorcia-se a lā, dando origem ao fino fio que se ia enrolar no fuso, de madeira e pontiagudo nas extremidades, rodado pelos dedos da mão direita.

Quando havia algum carocinho na lã, era costume tirá-lo com a boca.

Colocado o fuso no regaço, o fio passava depois a meadas, à volta da dobadoira.

De seguida as meadas iam para o cortiço barreleiro e aí eram lavadas com água morna e cinza, depois com água fria. Iam, então, a corar e a secar.

Finalmente, os novelos seguiam para o tear para darem origem aos famosos cobertores de lã, meias, camisolas e camisolões.

Para preparar a lã preta de modo a ficar burel, depois de bem lavada, esgadelha-se, ou seja, abre-se toda para o lado e é cardada com azeite.

Depois de fiada, doba-se e ensarilham-se as meadas no “sarilho”.

De seguida “desinfundissa-se” (lava-se bem a lā num alguidar com água quente e sabão, torna-se a lavar em água fria e depois põe-se a secar).

Vai para a dobadoira para fazer novelos e segue para a tecedeira.

Esta enche as canelas e coloca-as uma a uma na lançadeira, à medida que vai tecendo.

Depois de tecida, a lã vai ao “pisão” (rodízio de pedra) onde é colocada e pisada.

Quando sai do pisão é posta ao sol e está o tecido pronto para ir para o alfaiate.

O cultivo da terra

A lavra das terras era feita, de início, com charruas e arados de pau, e, mais tarde, com charrua ou charrueco de ferro.

A semente deixou de ser lançada a braço e generalizou-se o uso do semeador manual.

A cultura da batata, Em tempos recuados, em vez da batata usava-se a castanha, que foi um dos pilares da alimentação e, moída, servia também para fazer pão. Hoje está circunscrita às festividades de S. Martinho e à consoada da quadra natalícia que inicialmente mal chegava para a despesa doméstica, passou a ser feita em larga escala e esta produção destinava-se ao autoconsumo.

Os adubos aplicados nas culturas eram o estrume de tojo tratado com os dejectos dos animais e, agora, utilizam-se, sobretudo, os fertilizantes químicos.

Nas apanhadas de tojo, as pessoas juntavam vários carros de bois e iam para o monte roçar tojo.

No final, depois de trazerem os carros cheios de tojo, jantavam uma bacalhoada ou bocados de carne de porco com arroz.

O carro de bois

O carro de bois era uma das alfaias pesadas que o lavrador de Cambra empregava nos trabalhos agrícolas, mas veio a ser substituído pelo tractor.

Eram chamados carros “chiões” (ou cantadores) devido à cantilena monótona, mas cheia de vida, que produziam ao cruzarem os caminhos.

Um carro de bois demora cerca de cinco dias a ser feito.

As rodas são de carvalho ou sobreiro e têm um metro de diâmetro.

São constituídas por três partes de largura mais ou menos igual: o miul, parte principal, e duas cambas.

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Carro de bois

A ligação das três peças é feita pela reixa e pelas meias-luas.

No centro, para encaixe do eixo, existe o olhal e, em volta, o aro de ferro.

O chedeiro é feito em madeira de pinho.

É constituído por quatro pranchas, sendo as duas do meio mais largas do que as dos lados; estão assentes, sobre as cadeias, quatro travessas horizontais de madeira de carvalho.

As pranchas dos lados são sobrepostas pelas chedas, travessas boleadas na parte voltada para o interior do carro.

Nas chedas abrem-se quatro orifícios onde se colocam os fueiros.

Por baixo do chedeiro, nas chedas, fica a cantadoira onde se fixam os cocões para prenderem o eixo. Artes e Tradições da Região de Aveiro, págs. 173 a 178

Para se engatar o carro aos bois, coloca-se a canga, de madeira de freixo, às vezes trabalhada em talha, no cachaço dos bois, com eles a par: os bois têm de manter sempre a mesma posição, o seu lado de puxar – ou à direita ou à esquerda.

Seguidamente pega-se nas apeaças (peaças) e passam-se à volta dos chifres, afivelando-se por cima da raiz dos mesmos.

As brochas põem-se à volta do pescoço dos bois e engatam nos cangalhos da canga por baixo do pescoço, com as brochas falsas.

O cabeçalho é metido no temoeiro da canga, que tem dois buracos onde se põe a chavelha.

Nas descidas põe-se a chavelha no buraco à frente.

O Ciclo do Pão

A terra era previamente cadabulhada Terra cavada onde o arado não chegou. e lavrada com charrua, para arejar e estrumar e, de seguida, gradada para nivelamento.

A fim de preparar a terra para o cultivo do milho espalha-se pela terra o estrume dos currais, durante o mês de Abril.

A seguir lavra-se com os bois engatados à charrua (actualmente é com tractor) e as mulheres e homens com enxadas vão cavando as leivas.

Actualmente aduba-se em cima da leiva (a chamada adubação de fundo, à base de amónio, superfosfato e potássio).

Fresa-se ou grada-se a terra e faz-se a sementeira do milho associado com o feijão, na proporção de dois litros de milho para um litro de feijão.

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Semeador manual

O milho era semeado em finais de Abril ou Maio com semeador manual, em linha.

O semeador era de ferro, com uma lança para abertura do rego, um depósito para os grãos de milho com uma abertura inferior regulável, e era deslocado pela força dos dois braços de um homem que o impulsionava para a frente, enquanto outro puxava um cordel na dianteira.

Os grãos eram largados nos sulcos a espaços regulares por accionamento de uma alavanca e a parte de trás do semeador ia tapando os mesmos sulcos.

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Campo de milho

A planta brotava do chão e logo ia crescendo com haste seccionada e folhas lanceoladas, compridas, terminadas em cachos de flores que se iriam transformar mais tarde em espigas de grão apertado. Pinho, António Correia de, in A Voz de Cambra, Ano XXXIII, n.781, de 25 de Abril de 2004

A sacha

O campo era sachado para limpeza de ervas daninhas ao redor do caule da planta e depois mondado para eliminar os pés que não tinham vigor suficiente ou que estavam a mais.

Isto é, por volta da terceira folha do milho (três semanas depois de semeado) faz-se a 1ª sacha.

A seguir, cerca de quinze dias depois, procede-se à execução da monda do milho.

A 2ª sacha é o mesmo que “arrendar”, isto é, tirar as ervas e semear o azevém.

Mais ou menos passadas três semanas, quando o milho está “joelheiro, Pela altura do joelho faz-se a adubação de cobertura, à base de nitrato, e semeia-se, então, a erva de azevém (erva, enquanto verde, e feno, depois de seca, que serve para alimentação do gado).

Esta 2ª sacha não deve ser feita com o milho mais crescido, porque, como este está associado ao feijão, quer este quer o milho tapariam as linhas do milho e os carreiros.

Após esta operação, que se deve realizar quando começa o calor em Junho, dá-se início à 1ª rega, voltando-se a regar cerca de doze dias depois e sempre que o terreno necessitar, normalmente de doze em doze dias.

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Utensílios agrícolas: enxada e foice

A água… que vinha por um rego, …ao chegar ao campo era encarreirada com os pés descalços para cada sector do milheiral por regos secundários, após o que voltava ao rego principal para ser, então, encaminhada para o sector seguinte.

A ceifa

Em Junho, foice em punho!”.

Quando o milho já tem a espiga formada e a barba seca (cerca de três meses após a sementeira) procede-se ao corte da bandeira, que é feito pelo nó acima da espiga, deixando sempre uma folha, que vai servir de pulmão à espiga.

Este corte da bandeira do milho é já um aproveitamento da planta: a espiga já está fecundada e a bandeira é aproveitada para alimento do gado no inverno.

No final do verão, quando as espigas estão maduras, faz-se a apanha, tirando-as dos pés de milho.

De seguida são transportadas em carros de bois ou cestos para as eiras, e, depois, despejadas ao ar livre.

Antigamente qualquer colheita, além de uma tarefa comunitária, era uma festa que era sempre celebrada com um ritual particular e muita alegria e animação.

Para alguns trabalhadores as ceifas duravam o dia inteiro e por isso, tinham cinco refeições: o almoço para dejejuar, a meio da manhã uma merenda, a chamada “parva da manhã”, o jantar ao meio-dia, uma segunda merenda a meio da tarde e, à noite, a ceia, já em casa.

Assim, as mulheres não tinham mãos a medir.

De véspera começava a azáfama e punham o bacalhau a demolhar e descascavam as batatas para o almoço do dia seguinte.

No dia acendiam o lume com bastante lenha, cozinhavam para aquela gente toda e preparavam a loiça para pôr nos cestos de verga, não esquecendo o garrafão de cinco litros.

Após as refeições, lavavam a loiça e arranjavam a mesa para a ceia.

Quando os trabalhadores não dormiam em casa do lavrador, logo pela manhã, chegavam grupos de rapazes, raparigas, homens e mulheres, vindos de terras vizinhas.

A “laboeira” anima-se enchendo-se de movimento e cor.

Enquanto as mulheres ceifam, os homens, “lenço tabaqueiro” ao pescoço, atam em pequenos feixes (fachas) o centeio que elas deixam no restolho.

O calor aperta… O suor escorre pelos rostos e o garrafão vai circulando a refrescar as gargantas ressequidas.

Atrás dos ceifadores, vêm os que andam na relva, ou seja, os que lavram os campos acabados de ceifar.

Entretanto, aproximam-se as 9 horas e a caminho da “laboeira” vêem-se mulheres com cestos à cabeça e garrafão na mão.

É a hora da bacalhoada da manhã que chega.

Enquanto se retemperam forças e se descansa um pouco, conversa-se animadamente de tudo e de nada…

Por todo lado se ouvem cantares e “apupos”. É a alegria sã a sobrepor-se ao cansaço natural.

Por volta das 13 horas, todos os trabalhadores se dirigem às casas para cujos donos andam a trabalhar.

É a hora de comer o caldo acompanhado pela carme de porco e a “massa” de frango ou de vitela.

Depois… em vez da sesta que apetecia é o retorno à faina da ceifa.

As “fachas” atadas em molhos grandes são transportadas às costas ou em carros de bois para os “madeiros” e aí, depois de colocadas em “meadas”, esperam o dia da malha.

As horas vão passando e a paisagem vai mudando de cor.

Ao dourado dos campos ainda cobertos de cereal vai-se sucedendo o castanho escuro da terra acabada de lavrar.

Cobertos de pó, afogueados pelo trabalho e pelo calor, os ceifeiros vêem com alegria a chegada da hora da merenda – arroz de coelho e sopas de vinho adoçadas com açúcar para criarem novas energias.

O dia foi declinando e quando se aproximava a noite foi a debandada.

Enquanto se dirigiam às casas para comerem a ceia – batatas com couves e bacalhau, ouviam-se por todos os lados cantadas e “apupos”.

Depois da ceia esquecidos do cansaço daquele dia esgotante, ainda arranjavam forças para cantar e dançar ao som da concertina ou da harmónica de beiços.

A ceifa era uma “troca” de trabalhos. Hoje vens tu ceifar para mim, amanhã ou depois vou eu ceifar para ti.

Uma das cantigas populares que acompanhava o corte de centeio era:

Ai, minha laica verde,
Agarrada ao centeio
Quem tem um amor bonito
Ai, ri-se de quem no tem feio.

Ri-se de quem no tem feio
Ai, ri-se de quem o não tem
De toda a maneira triste
Ai, mais vale não ter ninguém.

Mais vale não ter ninguém
Ai, mais vale a gente não ter
De toda a maneira triste
Ai, mais vale a gente morrer.

Fernando Pessoa, nos seus versos, também imortalizou a ceifeira e o seu cantar:

Ela canta, pobre ceifeira,
Julgando-se feliz talvez,
Canta e ceifa, e a sua voz, cheia
De alegre e anónima viuvez.

Ondula com um canto de ave
No ar limpo como um limiar,
E há curvas no enredo suave
Do som que ela tem a cantar

Ouvi-la alegra e entristece
Na sua voz há o campo e a lida,
E canta como se tivesse
Mais razões p’ra cantar que a vida. (…)

As desfolhadas

Desde sempre as desfolhadas, nas quais tive, algumas vezes, oportunidade de participar, possuíram um cariz muito popular.

Realizavam-se em eiras ou alpendres, geralmente em Outubro e à noite, para fugir ao calor. A desfolhada era feita com o pessoal da casa, com os vizinhos e o rapazio do lugar ou lugares.

Antigamente eram chamadas pessoas de todas as idades para ajudarem. As raparigas com os cantares tradicionais anunciavam aos jovens o sítio das desfolhadas.

Normalmente executavam uma cantada a três vozes para que fossem ouvidas nas redondezas.

Também os rapazes faziam apupos para transmitirem aos rapazes amigos, de mais longe, a realização da desfolhada, bailarico ou serão, respondendo eles, de longe, com idênticos apupos.

Em casos excepcionais, os serões eram anunciados através de um foguete, vendido em algumas tascas ada região.

A desfolhada consiste em desembaraçar as espigas ou maçarocas das camisas que as envolvem e a que chamam o folhelho ou “folhepo”.

A noite, normalmente na eira, todo o povo da aldeia reunia-se, em círculo, em redor da pilha de espigas colhidas à mão no campo.

Retiravam-se as folhas que cobriam as espigas, no meio de amena cavaqueira e cantigas populares acompanhadas de harmónica e viola braguesa. As infusas de vinho passavam de mão em mão.

Em certas desfolhadas, espigas de milho-rei, de cor roxa, eram misturadas no meio das outras e a quem calhasse uma, concedia-se o direito ou mesmo a obrigação de ir à volta do círculo abraçar as outras pessoas; esta ocasião era ansiada por namorados e namoradas para assim expressarem disfarçadamente o seu querer…

Quando aparecia o milho-rei era tradicional cantar-se:

Não há desfolhada animada
Sem milho-rei
Se vem uma espiga, rapariga,
Cumpre-se a lei.

Coro:
Um abraço tens de dar
Não te podes escusar.


Desfolham-se as espigas
Apenas com a intenção:
Dar às raparigas
Um grande chi-coração.

Coro…

Figuras presentes nas desfolhadas (e também nas espadeladas) eram os
serandeiros ou seroeiros, de rosto tapado e normalmente cobertos com
uma manta ou colcha, amarrada pela cintura para não cair, ao passarem as espigas para o canastro.

Os serandeiros pretendiam encobrir a identidade, mas geralmente não conseguiam disfarçar, pois muitas vezes eram reconhecidos quer pelo trajo quer por outra qualquer característica.

As pessoas divertiam-se a procurar a sua verdadeira identidade. Regra geral traziam uma maçã, limão ou manjerico que davam a cheirar às raparigas presentes na roda e tentavam abraçá-las e beijá-las.

O pessoal que vinha de todo o lado trazia os seus instrumentos, bandolas, violas, harmónicas e cavaquinhos e até dançavam a tocar.

Nos eirados, dançava-se, ao luar, valseados e as danças d’unha, que eram danças com acompanhamento de palmas e de dançar “à roda”, sem pares.

Cantava-se ao desafio e, também, o “vira das desfolhadas’

Vamos lá prá eira
Vamos raparigas,
Com muita alegria
Desfolhar espigas.

No fim da desfolhada era costume comer-se pão fresco de milho, maçãs e castanhas acompanhadas de figos de ceira, vinho tinto, jeropiga ou aguardente.

Posteriormente, as espigas iam para o canastro ou espigueiro, cuja utilidade principal é a sua recolha e preservação durante alguns meses e, depois de secas, são retiradas para malhar ou debulhar, conforme as necessidades para o fabrico do pão ou ração para animais.

O canastro ou espigueiro é construído por uma base em pedra e a parte superior tem um corpo de pedra e tabuinhas de madeira, intervaladas para deixarem entrar ar.

Tem uma porta frontal de madeira, por onde entram as espigas, e portinhas laterais, também de madeira, para a sua saída. É encimado por um telhado duplo de madeira e telha.

Depois da desfolhada, cortavam-se as canas de milho (o pé de milho), que sobrepostas e com a ajuda da forquilha formavam as medas de palha, de forma cónica, no próprio campo, para a secar. Esta palha vai
servir no inverno como alimento ou cama para o gado, modificando-se esta última em estrume.

O palheiro serve para se guardar produtos (ervas, folhelho de milho, etc.) que, depois de secos, servem de alimento para os animais, no inverno.

Depois de secas, no canastro, por volta do mês de Fevereiro ou Março, as maçarocas eram colocadas na eira e dois ou mais homens, munidos de moiais (manguais), malhavam o milho.

Os moiais (manguais) são varas compridas de madeira polida a que se acoplava na ponta, por meio de uma tira de couro, um barrote ou malho quadrangular, também de madeira, com as arestas limadas; faziam-se rodar no ar os malhos de forma a que os mesmos fossem embater com violência sobre a maçaroca de milho, no chão, separando os grãos.

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O moial

Quer se tratasse de dois homens, de um só lado, ou de dois de um lado e os outros dois do outro, as pancadas eram dadas alternadamente, prás-prás, de modo a não haver colisão de moiais, ou no ar ou no chão da eira… ((ref:3)).

Na debulha fica o samagulo (caroço) que, depois de separado dos grãos de milho, era aproveitado para queimar na lareira.

O milho, por vezes, era guardado numa caixa grande de madeira, mas, regra geral, depois de malhado ia para uma ventaneira – estrutura de madeira com um rodízio que fazia girar uma ventoinha, e sendo o milho lançado numa caixa, ia escorrendo por um plano inclinado e a moinha e cachuchos soprados para trás, para o exterior, por força do vento criado
pela ventoinha…

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Ventaneira

O milho e outros cereais, tais como a aveia, o centeio e a cevada são moídos maioritariamente nos moinhos movidos a água.

Os moinhos accionados pela força hidráulica chamam-se azenhas e aproveitam a queda obtida pela diferença de nível de um rio ou ribeiro ou a força da corrente de um curso de água.

Partes de um moinho

(ver aqui a imagem com descrição)

  • cubo – calha que leva a água ao rodízio; rodízio peça em cuja extremidade estão as travessas (penas) que a água põe em movimento para fazer andar a mó
  • rela ou taramela – peça de madeira que trepida sobre a roda do moinho para fazer cair o grão da tremonha
  • tremonha, moega ou adelha – caixa em forma de tronco de pirâmide quadrangular onde se deita o cereal que vai cair no adelhão que o conduz ao centro da mó
  • adelhão, quelha, canelha ou caleja – peça de madeira escavada por onde corre o grão que sai da tremonha para o olho da mó
  • mó de baixo – tem uma bucha feita de pau de laranjeira, que sendo mole é, portanto, mais duradoira
  • mó de cima; segurelha – peça de madeira que se coloca no espigão da mó inferior para regular o giro da superior
  • veio temperadoiro – tem por função controlar o movimento das mós e, se não houver milho, elas param
  • péla – a parte mais grossa da haste, nos moinhos movidos a água


… Colocava-se o milho na caixa superior, quadrangular e afunilada (a morra). Duas pedras lisas, redondas constituíam as chamadas mós, sendo a de baixo fixa e sobre ela girava a móvel: a mó de cima tinha um buraco – o olho – por onde iam caindo os grãos de milho espaçadamente, pelo movimento de vibração de uma peça de madeira – a taramela – que ia batendo na superfície rugosa da mó superior.

Os grãos iam sendo moídos entre as duas mós, saindo daí a farinha, que, depois de peneirada, dava a farinha fina. A parte grossa que ficava era o
farelo.

O pão

O pão, durante séculos, foi a base da alimentação, especialmente da população do mundo rural ocidental, e a tarefa da sua confecção era essencialmente destinada às mulheres. Habituada a comer broa desde pequena e por a preferir ao papo-seco (designação dada ao pão branco em algumas regiões, como Coimbra), adquiri os ensinamentos da sua feitura, junto de minha sogra, D. Ana Gomes Marques.

A primeira fase da preparação do pão é o peneirar. A farinha de milho moída peneira-se para o centro da masseira, para tirar os farelos (casca), formando um montículo, onde se abre uma cova.

Junta-se, pouco a pouco, a água a ferver para “desenfarinhar” e o sal, e amassa-se com uma pá, sem mãos.

Quando a farinha está embebida na água, formando uma massa, deixa-se recozer um pouco.

Depois de arrefecer, abre-se e, então, amassa-se bem com as mãos, incluindo os nós dos dedos, por toda a masseira.

Volta a abrir-se, junta-se farinha de centeio peneirada para ligar a massa e esta ficar mais macia. Junta-se também fermento Os Egípcios foram o primeiro povo a utilizar o fermento no fabrico do pão, e já o coziam, em fornos de tijolos, cerca de 4000 a.C. ou “crescente” O fermento ou “crescente” obtinha-se quando se fazia uma fornada de pão. Deixava-se um pouco de massa na masseira, com umas pedrinhas de sal por cima, que era utilizada na fornada seguinte. O crescente era, portanto, a massa que crescia da última formada. (que está numa tigela e se dissolve com um pouco de água quente) para levedar e amassa-se de novo, com as mãos, dando várias voltas à massa.

De seguida, esta é puxada a um dos lados da masseira com uma rapadeira de ferro ou de pau, e é batida com a palma da mão e polvilhada com a farinha de mistura.

A Vida Agrícola
Masseira de madeira. Tampo rectangular e paredes inclinadas, com tampa e armário incorporado na parte inferior. Usada para preparar a massa com que se fará o pão

Depois puxa-se para o centro e faz-se uma bola. Era costume fazer-se uma cruz por cima para que a massa fosse abençoada. A pessoa benzia-se e dizia a oração:

S. Lovede te levede,
S. João te faça pão,
Ea Senhora te ponha
A divina bênção.

Nós a comer
E ele a crescer
E o Nosso Senhor
Tudo pode fazer,
Em nome do Pai,
Do Filho e do
Espírito Santo. Ámen
.

Ou
S. Levede te levede,
S. Crescente t’acrescente
S. João te faça pão
E Deus Nosso Senhor te ponha
a Divina Bênção.

Conforme as terras, há variantes:

S. Levede te levede,
S. Crescente t’acrescente
O Senhor te faça pāo
A Virgem Nossa Senhora
Te deite a Divina Bênção.

Ou
S. Levede te levede,
S. Vicente t’acrescente
S. João te faça pão
A Srª da Saúde te ponha
A divina virtude
Em nome do Pai, do Filho
e do Espirito Santo. Ámen.

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Utensílios usados no fabrico do pão

Deixa-se, então, levedar a massa durante uma hora ou hora e meia, coberta com uma toalha branca, de preferência aquecida.

Também, nesta fase, a superstição costuma estar presente: quando a massa custa a levedar, há quem coloque sobre a cruz feita na massa um terço ou um dente de alho, uma cebola ou um chapéu de homem.

Enquanto a massa leveda, aquece-se o forno, normalmente abobadado a tijolo refractário, com achas de lenha. Quando quente, limpa-se bem o seu interior.

Com o rodo juntam-se as brasas que são retiradas com a forreta. Com o varredouro faz-se uma última limpeza.

A temperatura do forno tem os seus segredos. Quando se põe a lenha dentro, o forno fica negro e estará quente quando, depois de terem passado por um tom cinza-rubro, as paredes e a padieira ficarem brancas.

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Utensílios para usar no forno

Também se sabe se estará pronto para receber a massa, no caso de, ao atirar-se um punhado de farinha para o seu interior, ela estalar.

Do mesmo modo quem for supersticioso não deve abrir a porta de casa, pois a massa não levedará e, caso o forno não esteja quente, mas a massa pronta, deve colocar-se uma malga com água sobre a cruz, para aquela não azedar.

Quando a massa começa a abrir fendas, cortadelas ou gretas, está levedada.

Com a primeira massa, a chamada “casca superior”, que se retira da masseira, confecciona-se o bolo.

Depois de colocada na pá de cabo comprido, é polvilhada de farinha e batida de modo a ficar com forma redonda, baixa e fina.

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Pá de madeira, formada por uma pá circular e cabo, usada para levar a massa ao forno

Tornava-se verdadeiro petisco quando eram colocadas rodelas de chouriço no seu interior ou sardinhas por cima.

Coze-se com a porta aberta e antes da broa.

Para o forno não “descair”, põe-se qualquer coisa a arder à porta e daí a pouco os bolos estão cozidos.

Só depois de se retirar os bolos é que se põe as broas que são moldadas, dividindo-se a massa que resta na masseira, conforme o tamanho desejado.

Polvilha-se com farinha para não agarrar e tende-se com a escudela
encostada à barriga, até ficar com a forma desejada.

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Escudela de madeira, com a forma de calote esférica e duas pequenas pegas fechadas junto ao bordo. No interior, o fundo apresenta cruz incisa. Usada para tender a massa.

Então, as broas arredondadas são colocadas sobre uma pá, posta sobre a padieira e polvilhada com farinha, e vão ao forno.

Nesta altura, fecha-se o forno colocando-lhe a porta. Para manter a temperatura do forno ao longo do tempo de cozedura, veda-se a porta com massa do pão, antigamente barro ou lama (e até bosta dos animais).

A porta do forno era costume fazer-se o sinal da cruz e, ao mesmo tempo, rezar-se a oração:

S. Levede te levede,
S. Crescente t’acrescente
S. João te faça em pão
E a Virgem Nossa Senhora
Te deite a divina bênção.
Em louvor de S. Silvestre,
Tudo o que eu faça
Tudo preste
S. Silvestre te faça “bô” pão
E te dê a sua divina bênção.

Pai-Nosso e Avé-Maria (reza-se um Pai-Nosso e uma Avé-Maria).

A broa estará pronta quando a côdea estiver estalada e acastanhada (cerca de duas horas ou, melhor, três).

Puxa-se, então, com o rodo para a boca do forno e retira-se com a pá (forreta). Dura uma semana, fresca.

Cada família costumava cozer entre quinze a trinta quilos de farinha por semana.

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Forreta composta por pá de ferro rectangular e cabo do mesmo material. Usada para retirar, do interior do forno, as brasas e também o pão.

(Esta foto e as dez anteriores foram retiradas de um catálogo do Museu Municipal sobre o ciclo do pão)

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