Uma coisa é certa


Uma coisa é certa aqui sentado na margem deste regato
debruado a pedaços de neve o avesso do pensamento já não
incomoda
O silêncio acorda os olhos de pó e a melodia há muito
perdida nas encostas nevadas renasce na canção deste rio
Não importa ser-se aqui planta ou pedra ou torvelinho de
água brincando à roda do abismo
Os soluços são apenas o cantar da água e o tempo de
recordar há muito se deslembrou
A montanha despiu a neve a saudade deixou de respirar
tristezas a angústia tem o tamanho da neve e o abraço do sol
o tamanho da angústia
Os lábios rasgados do sexo cósmico devoram os beijos que
não têm como a neve a força de um regresso
O tempo de sorrir não morreu no naufrágio das flores das
noites nuas por isso não importa não saber cantar se a
música dos teus dedos nasce nos cabelos de hoje