Na Foz do Douro
Generoso abraço verdade solitária o mar infindo onde colhes
as palavras e o pequeno gesto da areia fina riscada dos pés
das gaivotas.
Entra-me nos olhos o mar como em ti como tu tenho os olhos
inundados de mar mas fogem-me as sílabas férteis que ele te
põe nos lábios e nos versos.
A vibração das palavras de água salva-me da paz sacrificial
das rochas erectas e firmes quase me sinto futuro aqui a
lembrar que o passado só existe para enganar o presente
Sinto-me bem aqui ao lado do possível e do impossível na
orla do silêncio das tuas palmeiras saboreando o Sal da
Língua como fruto roubado que me liberta da longa noite
acumulada na boca.
Arde em mim a luz de fogo que abre o mar e o peito quando
o sol se derrama e vai dormir aqui eu sinto bem dentro
dos sentidos o esplendor da água fervente e dos corpos
entontecidos que só podem amar-se no ventre do mar.
Um vento leve com cheiro a maçãs acaricia-me a face
trazendo pela mão a paz da tarde e quase me adormece
Perdi a página já não sei onde ia também o sol se foi e com
ele o dia.
Bate agora a noite com estrondo no casco frágil da solidão
penso que tudo se vai desmoronar talvez morrer mas de
novo retomados teus versos dizem-me que não.