Mãos de hoje que foram de sempre


Na noite que já não é noite de madrugadas perpassa em doce
silêncio por entre os dedos dormentes uma brisa dolente
esquecendo as mãos na paz adormecida

Por entre os frágeis dedos da quietude e do silêncio vagueia
agora em suave melancolia o magro regato da secura da vida
arrastando em seu leito rugoso a triste canção de um tempo
sem cor nem movimento

O lento gesto do abrir destas mãos de tantos anos vividas cai
agora em pesado silêncio por entre as malhas da sombra no
impiedoso vazio das mãos cheias de nada

Foi-se embora a madrugada das manhãs perdidas no tempo
em que o sol sorria entre os sonhos e as mãos cantavam a
força da vida com ondas do mar por entre os dedos frementes

No penoso abrir e fechar de mãos deste plangente gesto
do fim do dia feito canção de tão gélido silêncio apenas a
saudade se aninha em negro fundo para morrer sozinha