Deslizar na brancura da neve de Les Angles é quase um
sonho um sonho cego mudo paralítico sem a cor das
pinceladas do céu franjado de arco-íris cavalgando os
altos cirros velozes e frios incapaz de desfibrar o complexo
estroma que nos enlaça e entrelaça num abraço de fogo e
água amor e raiva e mágoa voando sobre o abismo serôdio
de um beijo alheio ridículo-lascivo criptogâmico-adolescente
que torna fria a madrugada e sem sol o acordar
Alguma coisa eu perdi lá no céu aqui na terra ou no mar
para não ser capaz de sonhar com olhos palavras e pernas
para andar
Deslizar na brancura da neve de Les Angles é um sonho
morto…doem muito os sonhos mortos
Talvez em Villefranche de Conflent nas margens de La Têt
Em Villefranche de Conflent encontrei-me com Chagall eu
mal o conhecia ele de mim nem sabia
Enquanto o Nuno corria atrás do petit train jaune eu corria
atrás do sonho mas Chagall nada me dizia mal o conhecia
gostava dele da frescura da audácia da sua enganosa
realidade mas naquele dia amores flutuando nos ares
silhuetas bizarras criações poéticas não me tocavam soavam
a falso
Apenas uma frase me deixou pensativo o nosso universo
interior é a realidade talvez mais real do que o mundo
visível mais real do que as pedras do que o frio e a pele
arrepiada
Sempre pensei que a infância marcara a minha vida onde
vai a infância se bem corresse nunca dela pensara fugir ao
contrário de Chagall
Alguma coisa eu perdi lá no céu aqui na terra ou no mar
alguma coisa eu perdi que faz falta ao sonho para sonhar