In limine


Pelos caminhos de prantos e sorrisos dentro de um tempo
farto de horas sem minutos a vida vai colhendo flores que
murcham por não serem simples flores ou flores simples
sem exigências de estufa ou jardim flores de terra húmida
céu por cima e sol de permeio
Em tudo o que me é vida interfere a vergonha de ser adulto
descortino as janelas que me disseram haver dentro dos
homens e só vejo muralhas nada de crianças os homens
comeram as crianças os homens comeram-se crianças os
homens pariram-se adultos
Os pongídeos chegaram a homens quinze milhões de anos
para o homem ser bicho… bicho erecto rastejo de púrpura
Eu nasci na erva e dormi no feno e acordei com a voz dos
melros e rouxinóis e saltitei com os pardais vesti-me de sol
e despi-me de luar estreei o mundo no abraço das árvores
e no beijo dos rios meus olhos dormidos casavam a noite
e o dia no mesmo silêncio de sonho-menino a vida viveu
em mim crescendo todos os tamanhos e medindo todos
os céus também eu fui criança e matei em mim a criança
que procuro ao pensar que eram de amor as mãos que a
mataram
Passei a vida a correr tropeçando nas sombras arrumei
ao canto da luz mil horas vazias sangradas a curricular
futuros para ser gente na praça dos homens pisei os passos
pequeninos nos avessos da verdade e palmilhei léguas
vagarosas a tossir poeira
Vestido de ausências fui renascendo de amor pela vida
fora nos infinitos da fantasia que outros foram lentamente
matando com fruído prazer