Homens‑entulho


Para além de nós há o mundo e durante muito tempo
ignoramos o mundo
Esquecemos as valas comuns que toquei ao de leve muito ao
de leve não fosse os mortos magoar
Nas margens verdes do Dniepre regadas de lágrimas onde
cresceram flores sobre o chão de Babi-yar
Umas de sal e água no mar quente de Bissau bordando a lodo
o cais de Pidjiguiti outras de sangue esguichado das cabeças
à tona de água em último respiro outras de terra ensopada
em rios de morte
No ventre de um Wiriyamu fuzilado na penugem de
Chinteya nas balas de Vaina no esventrar de Zostina
Nos gestos de um vulcão de raiva em cada taça de vingança
que nem a morte amansa nos túmulos da Palestina
Sangue de Cristo
In Nomine Patris
Mártires sem martirológio corpos fecundos erguei bem alto
os ossos descarnados que a morte é de acordar e semear
flores na aposta de outros mundos erguei os rostos mirrados
dos famintos da Terra dos homens-entulho da grande vala
comum cavada no peito dos Humilhados e Ofendidos pelos
homens sem rosto rasgada no ventre dos Condenados da
Terra pelos homens sem alma