Aqui me detenho


Aqui me detenho nesta pedra que sentámos no dia das
canções antigas lembrando a canção que não cantámos

Aqui me sento frente ao mar de coração vestido com as
folhas secas do desejo olhos dentro dos olhos que não tenho
na profundidade do céu que nunca vimos

O mar não fala do passado em seu imenso painel de séculos
e o sol diz-me adeus com sua mão de violeta na paisagem
que não vimos

Mesmo assim quero demorar-me na partida acariciando o
tempo no sensual enrolar das ondas que explodem orgasmos
eternos nas rochas nuas quero sentir a meus pés esta
manhã de lábios doces sorrindo com olhos de donzela quero
enxugar neste sol do meio-dia as lágrimas das palavras não
ditas no silêncio dos caminhos

Sonhei o mar que nunca tive e pensei outrora vê-lo aqui mas
não posso ter o que não perdi nem mudar o crepúsculo pela
aurora