Romance – XIV

Romance – XIV

Romance

Tinha dezoito anos

Este fado encontra-se em A. C. Pires de Lima. Trad. Populares de Santo Tirso – separata da Revista Lusitana, Vol. XVIII com o título: A Donzela.

Encontra-se em O Douro Litoral que informa que se encontra também, com pequenas diferenças, no Folclore do Cadaval de M. Cardoso Marta, Esposende, pág. 39 (1934): “Cantigas da Pomba sem Fel”.

Em O Douro Litoral V, 1942 Cancioneiro de Monte Córdova a pág. 39,40, acompanhado de música (primeiros versos).

Encontra-se em O Douro Litoral, série segunda I, 1944 a pág. 72, 73. Tradições Populares do Marco de Canavezes.

Romance – XIV

Tinha dezoito anos
Quando a amar comecei;
Por minha infelicidade
Pouco tempo me gozei.

Namorei uma menina
Que era órfã, sem ter pai;
Era uma pomba sem fel,
Vivia com sua mãe.

Sua mãe que não queria
Sua filha amores tivesse,
Namorava às escondidas,
Pra que a mãe dela não soubesse.

Assim namoraram nove meses
E sem nunca haver novidade;
E ao cabo de nove meses
Deus lhe deu infermidade

Era moléstia que andava,
Chamada febre amarela;
E ao cabo de nove dias,
Toma a morte posse dela.

Ela chama a mãe ao quarto,
E pediu com grand dor:
Queria morrer não podia
Sem se despedir do amor.

Sua mãe que nada sabia,
Sobressaltada ficou,
Mas inda lhe perguntou:
Onde é que ele morava
E ela tudo lhe disse,
Até como se chamava.

E logo mandou a criada
A correr no mesmo dia:
Venha ver a sua amada
Que stá na última agonia.

Logo voltei para trás,
A criada acompanhei;
Mas quando cheguei à porta,
Fiquei logo esmorecido
Por encontrar tudo fechado
E lá dentro um gemido;

Logo entrei para dentro,
E ao seu leito m’encostei:
Que queres tu ó minha amada,
Que queres tu? Aqui stou eu!
Apertou as mãos na minha,
Fechou os olhos, morreu.

Se os senhores queriam ver
Dois corações aflitos,
Era o meu, o da mãe dela
Chorando em altos gritos.

E fui-me vestir de preto,
Do mais preto que havia,
Para que o mundo dissesse
Que morreu minha alegria.

Ó morte tirana morte,
Contra ti tenho mil queixas;
Quem hás-de levar não levas
Quem hás-de deixar não deixas.

Eu vou-me vestir de preto
Do mais preto que houver,
Para que o mundo diga
Que morreu minha mulher.


De minha mãe, 1946