Ó filha tu que tens
Que andas tão descorada?
Há coisa de três meses,
Trazes a barriga inchada?!
– Ó papá, ando doente,
É toda a minha tristeza;
A doença tira a cor
E a vontade de ir para a mesa.
– Para onde vai a Marajana
Pela manhã de geada
Co su cabelo envolto
Sua face desnudada?
Parece-me Marajana
Que tu andarás pejada!
– Não é disso, meu pai, não,
É da saia mal talhada.
Mandou chamar dois mestres
daqueles que mais amava;
Olhava um para o outro:
Esta saia não tem nada.
– Parece Marajana
Que tu irás a queimar!
– Não se me dá que me queime
Nem que me faça outro mal;
Queixo-me de meu ventre,
Traigo cá sangue real.
Foi para a janela
E se prantou a chorar;
Quem me dera um paquete,
Um paquete devagar;
Se me levasse esta carta
Ó conde de Montalvar.
Passou uma velha por baixo,
Neste repente a brincar;
– Bote-ma daí abaixo
Qu’eu a lá irei levar.
Quero ca senhora diga
Como l’eu hei-de falar.
– Se o achar a dormir?
– Spere qu’ele há-de acordar!
– S’ele stiver a jantar?
– Spere qu’ele há-de acabar.
– Se o achar a passear?
– Melhor lhe pode falar.
Ele andava a passear.
Aqui tem senhor Dom Conde
Uma carta de pesar
Que a senhora Marajana
Certo vai a queimar.
– Se me diz isso deveras
Mando-lhe já dar de jintar;
Se me diz a mangar,
Mando-a já degolar.
E foi prá porta da igreja
Onde ela havia de passar
E deitou-lhe a mão:
E esta moça que aqui vai
Inda vai pra confessar,
Eu sou o padre franciscano
Que a quero confessar;
Quem quiser a Marajana,
Da mão a benha tirar.
De Albertina Rosa, a “Tamanqueira” – Abril de 1947