Romance – VIII

Romance – VIII

Eu já vi a Felizmina
No seu balcão assentada,
Cum pente d’ouro na mão,
Seu cabelo penteava.

Lá passou um soldadinho,
Logo lhe apertou a mão:
– Se tu queres alguma coisa,
Agora é ocasião.

– Meu marido não ‘stá cá
Vai na serra do Marão.

– Que tens tu ó Felizmina,
Que estás tão (ai) desmaiada?

– É uma grande dor de dentes
Que me faz agoniada.

– Não é essa dor de dentes
Que te mudam essas cores,
Ou tu me temes a morte
Ou tu tens outros amores.

– Eu a morte não ta temo,
Que dela hei-de morrer;
Tenho pena de meus filhos,
Que outra mãe não hão-de ter.

De minha mãe – Janeiro de 1947