‘Stava eu a coser
Na minha almofada;
Veio um passageiro
E pediu pousada.
Se meu pai lha der
‘Stá muito bem dada;
Deu-lha minha mãe,
Por ser-lhe confiada.
De três que nós éramos
Só a mim levou,
Por terras alheias,
Terras despovoadas. (1)
… … … … … … …
Dali a dez anos,
Ele por lá passou,
E perguntou às donas do gado:
– Que santa é aquela
Daquela capela?
– É santa Iria
Que foi degolada.
– Ó santa Iria,
Meu amor primeiro,
Perdoai-me vós,
Serei vosso romeiro.
– Como t’heide perdoar,
Ladrão carniceiro?
Da minha garganta
Fizeste dinheiro,
Da ninha cabeça
Fizeste carreiro.
Veste-te d’azul
Qu’eu ‘stou d’amarelo;
Se te Deus perdoar
Perdoar-t’eu quero.
1947
(1) subentender-se-á: “ali me deixou”