Sobre Viadal

Sobre Viadal

por Adcra Viadal

O aparecimento desta aldeia

Tendo como fonte a monografia intitulada “Viadal, Aldeia de Cambra”, de Manoel de Almeida, ilustre conterrâneo residente em Massamá, que tão bem quer a Viadal, aproveitamos para lhe agradecer o seu trabalho com informação tão útil e interessante para todos os Viadalenses. A este relato juntamos alguns pormenores relatados na sua obra, digna de registo. 

Sobre Viadal

O aparecimento desta aldeia ter-se-á assim dado há mais de 500 anos, por volta dos finais do século XV, com base na lenda que narra o milagre do aparecimento de Nossa Senhora da Ouvida, onde mais tarde se ergueu o seu santuário.

Nossa Senhora terá aparecido aos pastores de Cepelos e Rôge, que vinham aqui à serra apascentar os seus rebanhos.

O nome da nossa padroeira terá surgido aquando das orações dos pastores que a invocavam numa época de epidemia ou fome.

Nossa Senhora terá ouvido tais preces, tendo então sido chamada de Nossa Senhora da Ouvida.

De facto, é a partir da construção do santuário devoto à Senhora da Ouvida que se documenta a existência da aldeia, uma vez que se encontra sobre a pedra interior da sacristia a mais antiga data registada para Viadal, nomeadamente 1689.

Outras datas posteriores surgem inscritas ora em canastros ou espigueiros, como o dos Quintais datado de 1878, e os da Eira de Cima, com as datas de 1868 e 1878.

Também digno de registo é um dos missais da nossa capela, cuja data de emissão mais antiga é de 1723.

Os primeiros povos

Os primeiros moradores terão assim povoado esta terra há muito tempo atrás, tendo sido encontrados vestígios, como restos de cerâmica e restos de fornos antigos, que provariam tal facto se tivessem sido guardados e devidamente analisados.

Terá sido no século XIX que Viadal terá tido o seu momento áureo. As construções das casas eram feitas em pedra de cantaria, tendo um sobrado e lojas por baixo, assim como o seu próprio lagar e prensa em madeira para trabalhar as riquezas das suas terras.

Famílias importantes e ricas foram, por exemplo, a dos “Cintros”. De acordo com a minha fonte (Manoel Almeida), terá sido um homem vindo de Sintra, condenado por ter cometido um crime e refugiado em Viadal, que se terá aqui casado e assim dado início à descendência dos “Cintros”.

Homem dos mais ricos da freguesia nesta altura, foi intimado pela altura das Invasões Francesas a levar um carro de milho a Aveiro para abastecer as tropas, que ainda por cima lhe ficaram igualmente com os bois e com o respectivo carro.

Apesar de tal aparente riqueza, Viadal não aparece sequer mencionado nas inquirições de D. Afonso (1258), sendo aí mencionada a aldeia da Felgueira, tal como Gatão surge mais tarde em 1290 mencionado nas inquirições de D. Afonso II.

Mais tarde, já no foral manuelino de 1514, aldeias suas vizinhas como Cabrum e Merlães, entre outras, são mencionadas, ficando novamente Viadal sem menção.

Assim, conclui-se de um modo muito generalista, que a aldeia de Viadal terá assim tido o seu nascimento entre finais do século XV e o século XVII, o que não quer dizer que não tenha sido habitada antes, por um ou dois moradores, como provam testemunhos orais.

Este facto é comprovado igualmente pela própria gíria limitativa usada nas regas, pois ora se fala da água dos Caetanas, ora dos Castanheiras.

No entanto, o que é taxativo é que a primeira data acerca desta aldeia é a data gravada na pedra da capela, 1689, tendo mais tarde sido Viadal mencionado na Informação Paroquial de 1721: 
“no lugar de Viadal há uma capela ou Ermida com invocação de Nossa Senhora da Ouvida, que se festeja na primeira outava da Páscoa de cada um ano e nesse dia se canta uma missa.”

Viadal ao longo dos tempos

Viadal vai sendo mencionado depois, ao longo dos séculos e até data de hoje em vários jornais e por via oral também, pelas mais variadas causas, desde a reclamação de baldios (1911) à morte por ataques de lobos (1941) e por artes de bruxaria (1952), passando pela construção do estradão (1959), pela inauguração do primeiro fontanário (1964), pela chegada da luz eléctrica (1965) e dos primeiros telefones em 1984.

De um modo muito geral, foi esta a evolução desta aldeia tipicamente serrana, que apresenta hoje traços marcadamente mais modernos, tentando abandonar, em vão, a sua designação de serrana.

Abandonado que está o seu carácter concentrado de aldeia, esta vai-se expandindo, abrindo novos limites, dando asas por vezes à desenfreada construção de novas casas e de novos estradões que desafiam a lei da natureza.

As casas perderam as suas paredes de pedra graníticas para dar lugar ao tijolo, os telhados em colmo e as pedras de lousa deram lugar às telhas, o escabelo ao sofá, os cântaros da água às torneiras, os aidos às garagens para os carros.

São traços de progresso, marcas de comodidade que inevitavelmente teriam de cá chegar, sendo de louvar a atitude de algumas pessoas em reconstruir casas antigas para habitação de férias e de repouso.

As gentes desta terra também vão sofrendo alterações ao longo dos tempos. Com uma razoável taxa de imigração foram muitos os que cedo partiram em busca de melhores vidas, outros que ficaram foram-se adaptando a esta aldeia, alguns tiveram a oportunidade de aprender a ler e a escrever, coisa que não aconteceu a todos.

A minha avó materna, conhecida aqui como a “Maria do Rio”, conta muitas vezes que a sua mãe nunca a deixou ir estudar, como os seus irmãos homens foram, já que isso não era “trabalho” de mulher.

Hoje em dia as coisas mudaram, felizmente, de figura. Com uma taxa de natalidade cada vez mais baixa, são ainda algumas as crianças e jovens que aqui vivem e se deslocam diariamente para a escola, quer para a escola primária, situada agora em Cepelos, dado ao encerramento da escola primário da aldeia vizinha de Tabaçó, quer para os outros estabelecimentos de ensino em Vale de Cambra, sujeitando-se, no entanto a transportes públicos com horários algo penosos, mas que certamente a educação justificará um dia.

Muitos destes partirão um dia, em busca de melhores condições de vida, em busca de outros confortos que aqui nos parece impossível de alcançar. No entanto, todos os que partem sabem que muito deles fica aqui.

As memórias são ricas e eternas. Quem não se lembra das malhas de centeio, em que “a malta” se juntava para malhar o centeio, função atribuída aos mais velhos, e onde se bebia aquele refresco de água e mel? E as desfolhadas que reuniam a aldeia pela noite dentro, sendo distribuído no fim os biscoitos e o vinho? A apanha das amoras? As festas na capela e os jogos tradicionais como a bilharda?

Muitas são as coisas que marcam os habitantes desta aldeia, o que faz com que muitos voltem, quer de visita, quer só de férias, mas todos voltam.

Elaborado por Vera Mónica Fernandes e baseado na monografia intitulada
“Viadal, Aldeia de Cambra”, de Manoel de Almeida

Adcra Viadal