Nota de apresentação
Decorreram seis décadas e meia desde o dia em que viemos ao mundo em pequena aldeia, Viadal, próxima da nascente do rio Caima, nas faldas da Serra da Freita.
Por esses tempos, a maioria da população do lugar e circunvizinhos vivia quase exclusivamente da agricultura de subsistência; sendo grande a entreajuda nas lides agrícolas, aquando das sementeiras do milho e na altura das colheitas.
Apesar da sua iliteracia, os moradores cultivavam, nos convívios, a tradição oral, sobretudo em dias de invernia ou nevão, em que, sentados à lareira, reviviam as façanhas doutros tempos, lembravam os familiares já falecidos e aqueles que se encontravam distantes, lá para o Barreiro ou no Brasil.
Sempre presentes estavam os contos e as lendas, com destaque para os sítios encantados, com “haveres”, cheios de barras de ouro, jóias e muito dinheiro. Tudo aquilo nos fascinava e fazia sonhar.
Passados alguns anos, também nós, antes de irmos a sortes, partimos em busca de mais bem estar e conhecimento. Não obstante, regressávamos sempre que tal nos era possível, para visitar os nossos familiares, vizinhos e amigos. Íamos – vamos – sempre acompanhados pela nossa máquina fotográfica e caderno de apontamentos.
Fruto deste trabalho, redigimos, em 1986, uma “Monografia da Aldeia de Viadal” que foi parcialmente publicada no jornal paroquial da freguesia de Cepelos: – Ecos do Povo.
Em simultâneo, querendo validar as lendas, nomeadamente a que referia o “aparecimento de Nossa Senhora da Ouvida“, encetamos uma busca histórica em vários arquivos nacionais.
Destes, destacamos a Hemeroteca Municipal de Lisboa, Torre do Tombo e Biblioteca Nacional de Portugal, de que somos o leitor nº 5539. Demoraram décadas as nossas pesquisas, mas, felizmente, surtiram efeito.
É provável que tenhamos encontrado a certidão de nascimento do lugar, lá para o ano de 1365 d.c., em que o(s) morador(es) era(m) foreiro(s) do Mosteiro de Grijó. Já o Santuário será mais recente, lá para o ano de 1689.
Aquando destas investigações (1), fomo-nos apercebendo que havia pouca documentação coeva publicada sobre o concelho de Vale de Cambra – antes Macieira de Cambra – em geral e sobre a freguesia de Cepelos em particular. Cientes da sua importância, temo-la vindo a dar a conhecer, desde 1991, aos leitores do quinzenário A Voz de Cambra.
Contudo, aquilo que temos em arquivo, nomeadamente fotografias, extravasam as fronteiras de Cambra, pois ao deambularmos por aí, a nossa máquina fotográfica foi registando factos e acontecimentos, nomeadamente em:
- CADAVAL, com ênfase para as aldeias de Pragança e Ventosa; a que estamos ligados pelo parentesco, na freguesia de Lamas.
- BELAS, Queluz e Massamá.
- LUTEMBO, no leste de Angola, onde, de 1973 a 1975, prestamos serviço militar; entre muitas outras localidades e situações.
É isto que nos propomos dar a conhecer – se para isso tivermos engenho, tempo e arte – neste BLOG, que acabo de baptizar com o nome de Riba-Caima, em homenagem às pessoas ainda residentes nas pequenas povoações da Serra da Freita.
Se o nosso modesto, mas empenhado, trabalho vier a ter alguma utilidade para quem nos ler, sobretudo nas escolas e jovens investigadores, damo-nos por muito satisfeitos.
Queluz, Janeiro de 2016.
Manuel de Almeida, Sociólogo
ANOTAÇÃO
(1) – Nas nossas observações de campo, tivemos sempre presentes as leituras que fomos fazendo, ao longo dos anos, de obras dos grandes mestres em Ciências Sociais, sobretudo de:
– Bernardo Bernardi, Claude Lévy-Strauss, Charles Darwin, Émile Durkheim, Mircea Éliade; Adolfo Coelho, Aquilino Ribeiro, Ernesto Veiga de Oliveira, Ferreira de Castro, Jorge Dias, J. Leite Vasconcelos, Manuel Villaverde Cabral – nosso professor ilustre – , Teófilo Braga, Rocha Peixoto; entre outros.
Na historiografia, fomos fiéis aos seus autores, referindo-os, como nos compete, na respectiva bibliografia. Muito reconhecidos pelo que com eles/as aprendemos, mencionamos, entre muitos:
. Distrito de Aveiro:
A. de Almeida Fernandes, A. Nogueira Gonçalves, A. G. Rocha Madahil, Alberto Souto, Armando de Castro, Domingos Pinho Brandão, Fortunato de Almeida, Gerardo Perry, Inês Amorim, João Domingues Arêde, José Mattoso e outros, Luís Carlos Amaral, Isilda Maria S. Braga da Costa, Maria Helena Cruz Coelho, Padre João Gonçalves Gaspar e Padre Miguel Oliveira.
. Vale de Cambra:
– Adelino Almeida, Adolfo Coutinho, António Martins Ferreira, A. Ayres Martins, José A. Carrilho Ralo, Maria Clara Vide e Maria da Graça Pinho Cruz.
Caro Manuel Almeida, antes de mais permita-me dar-lhe os parabéns por este interessante espaço, mesmo que ainda visitado na diagonal mas para ler e seguir com tempo.
Mesmo não sendo valecambrense, mas feirense, conheço bastante de Vale de Cambra, que de resto tenho percorrido em inúmeras caminhadas percorrendo alguns dos percursos públicos mas de outros. Para além disso interessa-me e gosto dos temas aqui tratados, porque muitos deles são similares a muitas das nossas terras, nas suas raízes e modos de viver do nosso povo, dos nossos antepassados.
Posto isto, e querendo colocar-lhe uma ou outra questão sobre alguns pontos ou locais de Vale de Cambra, agradeço que, se com disponibilidade, me contacte para o email que a seguir deixarei.
At.te. Américo Almeida
Boa tarde. Em tempos li um artigo seu sobre o primeiro contato do MPLA com as autoridades portuguesas, após o 25 de Abril, e creio que também já o vi aqui em VCO, mas não consigo descobrir o paradeiro. Acontece que eu adolescente e meu irmão, estivemos nesse dias histórico no Lutembo e na xana a seguir ao rio onde tudo aconteceu. Se puder me enviar o artigo, ficava muito agradecido e, já agora, trocar algumas memórias do local e desse evento histórico para Angola e Portugal. Abraço.