(publicado na VC da 2ª quinzena de novembro de 2013)
PARTE 1
1. Introdução
Não obstante a “Reforma Pombalina de 1772”, é consensual que, até à revolução liberal do século XIX, o ensino era essencialmente ministrado nos Conventos e Mosteiros; o que excluía da sua frequência a maioria da população, sobretudo a dos meios rurais.
A partir daí, passa a haver preocupação em escolarizar as crianças a cargo do erário público, com ênfase para os republicanos que viam nisso uma maneira de potenciar as mudanças de que o país carecia. Faltavam, contudo, os meios económicos para tal.
Tanto assim é que 75% da população portuguesa era, em 1911, considerada analfabeta(1); apesar de se prever, desde 1876, que a escolaridade abrangesse de forma gratuita e durante três anos, as crianças de ambos os sexos.
O concelho de Cambra não fugia a esta regra; apesar de, pelo menos, desde meados do século XIX ser ministrada já a cadeira de Instrução Primária (2) em algumas freguesias do concelho, inclusive em Arões/Vila Cova, em 1856.
Anos depois, em 1870, a dita cadeira era leccionada, na escola de Macieira, pelo padre Joaquim Tavares de Oliveira Coutinho. Mais tarde, em 1909, havia no concelho seis estabelecimentos de ensino(3) do sexo masculino, com 1002 alunos e três do sexo feminino com 986 alunas.
Digno de registo é o facto da instrução às raparigas já ser ministrada desde 1878, sendo a sua professora Maria Custódia do Sacramento.
Das escolas masculinas uma seria em Junqueira, já que o respectivo professor adere, em finais de 1910, ao regime republicano, então implementado.
A salientar é o facto de haver em Burgães, desde 1821, uma escola de “estudos preparatórios”, de acesso à Universidade, regida pelo padre Mestre do Cabeço(4).
Aqui estudaram várias individualidades(5), nomeadamente D. Thomaz, bispo da Guarda, o bispo conde de Coimbra e seu irmão o D. Prior de Cedofeita; os desembargadores Coelho da Rocha e Pinto da Motta; bem como o Conselheiro Daniel Ribeiro, cônsul geral de Portugal no Brasil, nos inícios do século XX.
Escusado será dizer que, de todos estes alunos, poucos seriam oriundos das aldeias da serra, com excepção daqueles que eram destinados à carreira eclesiástica, mas que só estudos posteriores o poderão confirmar.
Para o incremento do ensino, sobretudo do primário, contribuíram, a título individual, várias personalidades, especialmente os brasileiros de torna-viagem, caso do comendador Luiz Bernardo de Almeida que mandou construir, em 1913, as escolas primárias públicas da então vila de Macieira de Cambra.
Graças ao espólio fotográfico, oriundo das Fotos Sousa e Central, agora disponibilizado pelo Arquivo Municipal, é possível obter informações valiosas, a partir das primeiras décadas do século que findou, sobre antigos edifícios escolares do concelho e fotos de algumas turmas dos seus alunos. A título exemplificativo publicamos duas fotografias:
a) Alunos da escola sede do concelho, datada dos anos trinta;
b) Escola velha do Casal/Cepelos, ano de 1968.
2. O ensino primário na freguesia de Cepelos.
No que se refere ao ensino primário na freguesia de Cepelos(6), o mesmo remonta ao ano de 1889; sendo que a escola funcionou inicialmente no lugar de Paçô, numa habitação particular, chamada de “Casa do Cartim”. Foi seu primeiro responsável o prof. Francisco Cruz Aveiro (7), natural de Ílhavo.
Sabemos, pelo Jornal de Cambra de inícios de 1910 e pela pena de Isaías Vide, que a mesma funcionava então em condições muito deficientes e que a Câmara nem a renda pagava ao proprietário – in, JC nº 111 de 6/3/1910 – ; o que leva a concluir que a instrução aos alunos aí ministrada não seria a mais apropriada.
Não obstante as dificuldades económicas surgidas, por força da I Guerra Mundial, vem a ser construída de raiz, em inícios da década de vinte, uma escola, com ensino misto, no Casal em Cepelos; continuando a ser a docência da responsabilidade do já referido professor Aveiro.
Uma casa para habitação da professora foi aí erigida, em 1922, com o empenho da Junta de Freguesia, da qual fazia parte Adelino Tavares Russo, uma vez que a docente, nomeada para o cargo, originária de Macedo de Cavaleiros, se recusava a vir para Cepelos sem local condigno para morar. (in, VC, nº 494 de 1991.11.01).
Dos docentes desta escola o destaque vai para Maria da Costa Macedo, natural de Póvoa de Lanhoso que aqui leccionou, durante décadas. Artigo de Miguel Barreiro, seu aluno, datado de 2010 – in, VC nº 913 de 25 de abril -, descreve os seus métodos pedagógicos, que incluíam as sempre presentes reguadas e publica fotografia da sua turma com a respectiva professora, entre outras pessoas.
Ao lado do velho edifício, nova escola de arquitectura típica dos “Plano Centenário”, vem a ser erigida na década de setenta e que fotografia da nossa autoria, tirada em 1991 na Pontinha, documenta.
Ainda por volta de 1990, havia na freguesia 5 jardins de infância, junto a 5 escolas do 1º ciclo do ensino básico (Casal – Merlães 1 e 2 – Tabaçó e Vilar e duas escolas do “ensino mediatizado: uma no Casal e outra em Tabaçó(8); sendo que, nos dias de hoje, se encontra tudo fechado e alguns edifícios mesmo demolidos, nomeadamente os que existiram na Pontinha.
Apontamentos
(1) – MENDONÇA, Alice – Evolução da Politica Educativa em Portugal – Universidade da Madeira – PDF, pág. 10.
(2) – PINHO, Angelo A. Silva – O Ensino em Vale de Cambra (Séc. XX) – Internet. Ano de 2013.
– A cadeira de Arões era ocupada, em 1856, pelo reverendo Manuel Correia. Pág. 35
(3) – ALMEIDA, Adelino Augusto Moreira – LUIZ BERNARDO DE ALMEIDA – 1ª edição, pág. 60.
(4) – MARQUES, Maria Clara Vide – Monografia de Vale de Cambra. Ano de 1993, pág, 145.
(5) – MARTINS, A. Ayres – COELHOSA DE MACIEIRA DE CAMBRA. pág. 68.
(6) – ALMEIDA, Adelino Augusto Moreira – In, Internet. Ano de 2013.
(7) O prof. Aveiro terá nascido em 1855. Faleceu em Paçô em 5 de dezembro de 1939.
(8) – MARQUES, Maria Clara Vide – Obra citada, pág. 69.
Fotos:
– Alunos da escola sede do concelho. Anos trinta.
– Pontinha: Feira dos 16. Ao fundo vê-se a escola velha.
– Sítio da Pontinha/Casal. Ano de 1991.
(continua)