Evolução da Indústria em Vale de Cambra

Evolução da Indústria em Vale de Cambra
Manuel de Almeida

PARTE I

Introdução

Dada a secular dependência de Portugal em relação à Inglaterra a “revolução industrial” só tardiamente chegou a Portugal.

No virar do século XIX para o XX o número de fábricas, a produção de artigos manufacturados, o pessoal operário empregado atingiam números muito baixos.

As forças produtivas eram escassas, faltavam os capitais e dominava a concorrência da indústria estrangeira, sobretudo dos têxteis ingleses. (in, Voz de Cambra, nº 513 de 1992.09.01).

Ainda em 1930 cerca de 80% da população portuguesa vivia nos campos, distribuindo-se os restantes 20%, na sua maioria, pelos centros urbanos de Lisboa e Porto.

Não obstante estes constrangimentos, vão-se instalando – a partir de meados do século XIX, junto aos cursos de água, nomeadamente do rio Caima –  algumas indústrias de  pequena dimensão, nos concelhos circunvizinhos de Cambra, a saber:

Lanifícios do rio Caima em Palmaz, Cortumes em Riba d’Ul, Chapéus de Lã em Cucujães e S. João da Madeira. Muito antiga mesmo era a produção de vidro no Côvo, cuja fundação remontará a finais do século XV.

O concelho de Cambra (Macieira)

Esboçado este quadro geral do país e região circundante, analisaremos – aqui de forma sucinta(1) –  a evolução da indústria  no concelho de Cambra, num período de cerca de cento e cinquenta anos.

Por questões de ordem metodológica, dividiremos tal lapso de tempo em períodos, a saber:
1) artesanal,
2) de arranque,
3) do pioneirismo dos lacticínios e
4) industrial.

1. Artesanal (séc. XV até finais do séc. XIX).

Caracteriza-se pela utilização da força  motriz da água para fazer mover os engenhos de linho e lã localizados nos rios, sobretudo  Caima e Teixeira. Tais locais, ainda hoje,  são designados de pisões.

Em Viadal, na margem esquerda do Caima, confluência com a corga do Barroco, há um sítio a que chamam do “Pisão”. Idem, no rio Teixeira, que ainda laborava aí pela década de cinquenta do século que findou.

Graças aos inquéritos industriais,  é-nos possível fornecer dados para o ano de 1865. Vejamos:

Moinhos de água144
Lagares de vinho373
Lagares de cera1
Teares153
Pisões4
Oficinas de chapéus de lã17

Anos depois, em 1890, já se nota alguma evolução, conforme dados por nós disponibilizados no referido quinzenário. Tratando-se, embora, de pequenas oficinas já empregam 57 pessoas, sendo que uma era mulher. Ficamos também a saber que 19 dos trabalhadores sabiam ler.

2. De arranque da industrialização (finais do século XIX até 1940).

Este período que apelidaremos de arranque da industrialização e que situaremos entre 1896 (data da introdução da primeira desnatadeira centrífuga) e 1940 (reestruturação dos lacticínios) define toda uma era caracterizada pelo aparecimento, no Concelho, dos primeiros maquinismos accionados inicialmente por água (fábrica do papel pardo em Santa Cruz) e mais tarde a vapor (serração de madeiras) e electricidade. Esta a partir de 1929, com a criação da Central Hidroeléctrica do Caima, Ldª.

Verifica-se também o assalariamento contínuo de pessoas, cujo nº era de 53 em 31 de Dezembro de 1914; sendo 45 homens e 8 mulheres. Em 31 de Dezembro de 1917, já o nº de operários atingia os 95.

No final desta época, ano de 1942, já estão em laboração no concelho, várias e importantes firmas, nos ramos dos lacticínios, serração de madeiras, latoaria, transportes e pirotecnia, entre outras. (in, Voz de Cambra nº 515 de 1992.10.01).

ANOTAÇÕES:
(1) – Esta matéria encontra-se melhor desenvolvida, por nós, na Voz de Cambra, acima referida e seguintes.

Boletim Cultural de Vale de Cambra, N° 2, 1998, págs. 24ss