Breve nota
Usamos, com regularidade, nos nossos contos serranos (1) os vocábulos tio e tia a antecederem os nomes próprios das suas personagens; caso das “tias” Rosa e Joaquina(2).
Noutros trabalhos, também assim nos designamos – tio Manel -, bem como aos nossos conterrâneos, de idade mais avançada.
Tal nomeação, corrente no Riba-Caima, poderá não ser totalmente entendível por alguns dos nossos leitores doutras latitudes. Com efeito, em contexto urbano, utiliza-se mais em sentido elitista (ex: – as “tias de … Cascais” ) ou então nas relações de consanguinidade directa ou por afinidade, para com os irmãos de pai e mãe.
Ora, na Freita, este tratamento era – ainda é – empregue, de modo corrente e sempre respeitador, pelos mais novos em relação aos mais velhos, independentemente do grau de parentesco e de ser vizinho ou forasteiro. Ex: “O tio donde é?” ou “O tio Manel o que faz?, entre as mais diversas situações.
Tem a ver, por certo, com a vivência comunitária, até há pouco tempo existente nas aldeias, em que a entreajuda era muito grande.
Era – é – também uma maneira facilitadora da comunicação, já que não requeria a utilização de outras terminologias, nomeadamente as de sr e srª. Estas reservavam-se para as pessoas consideradas de posição social mais elevada, de que destacamos(3) o prior, a professora e, sobretudo, o médico.
Anotações:
(1) – Também os temos urbanos, relacionados com o poeta Bocage, um dos quais com cenário no Palácio de Queluz.
(2) – In, O Tardo em Tabaçó, entre outros.
(3) – Idem, aquando de “pedidos da benção” que abordaremos, em breve, noutro apontamento.
Manuel de Almeida