PARTE III
2.4. O SANTUÁRIO DESDE A IMPLANTAÇÃO DO ESTADO NOVO ATÉ AOS NOSSOS DIAS (Ano de 2000).
A normalidade só volta ao Santuário com a entrega em definitivo do mesmo, em 1927, à “corporação encarregada do culto público católico da freguesia de Castelões”. Para tanto, foi publicada pelo Ministro da Justiça e dos Cultos a Portaria nº 4.862 de 20.4.1927 – in, Voz de Cambra nº 700 de 1 de Outubro de 2000).
Nesse nº e seguintes o leitor interessado encontra também referências à:
. Nova Comissão, nomeada em Maio seguinte;
. Construção do novo Santuário, benzido em 1936 e aos festejos desse ano; bem como aos Estatutos da Irmandade de Nossa Senhora da Saúde da Serra em Castelões. Ano de 1939.
. Idem, várias fotografias.
PARTE IV
2.5. NOSSA SENHORA DA SAÚDE DA SERRA, UM CULTO QUE SE EXPANDE.
Vimos que, mercê das novas obras feitas no Santuário e da sua fé, os romeiros afluíam em massa ao planalto de Gestoso, sendo muitos deles oriundos da beira-mar. Atente-se no entusiasmo e no modo como em meados dos anos quarenta do século XX, eles – os “marinhões” – chegavam ao local(1):
“É espantosa a resistência dos romeiros da beira mar, que fazem todo o percurso, de cinco, seis e mais horas, a pé, a gente moça sempre a cantar e a dançar, aos magotes, grande parte do tempo, através da Serra, por árduos e íngremes caminhos de cabras, afrontando com incrível estoicismo, já as calmas, já os ventos e as chuvas.
Saem de casa alta noite e vão amanhecer já à vista, bem próximo da capela da Santa. Os da Murtosa, Veiros e Estarreja, principalmente, têm o Pinheiro da Bemposta por passagem obrigatória.
Aí descansam e tomam suas refeições à volta, e muitos nessa freguesia passam a noite de 14 para 15, mas antes de se acomodarem sob as ramadas dos pátios, em camas de fetos, não deixam de organizar seus bailes e descantes, continuação dos que organizaram lá na Serra, à volta da ermida.
Muitas vezes lhes observamos essa costumeira, quando, em criança os víamos passar. Como apareciam sempre muitas caras conhecidas dos anos anteriores, fácil nos foi concluir que, para muitos, ir à Senhora da Saúde constituía obrigação como qualquer outra.
Bem no-lo afirmou, há poucos anos, um romeiro, de seus oitenta bem puxados, a quem perguntámos quantas vezes teria ido à Senhora da Saúde … a resposta foi pronta e solene:
– Com esta são setenta, meu senhor. Só deixarei de lá ir quando as pernas me emperrarem de todo“.
Destes romeiros merecem destaque especial os de Pardilhó. Aqui, e ao abrigo dos novos estatutos, vai aparecer o primeiro Centro de Devoção dedicado a Nossa Senhora da Saúde, fora do concelho. Foi criado em 7 de Janeiro de 1940, nesta povoação e abrangia ainda as freguesias de Estarreja e Murtosa.
Não admira, por isso, que a sua Banda de Música se associe, desde inícios da década de 30, graciosamente, todos os anos, aos festejos(2), o que é sempre motivo de notícia e regozijo, por tão grande dedicação e fé das suas gentes.
Em visita, embora breve, a Pardilhó levada a cabo em 1996, encontramos vestígios que confirmam a fé dos seus habitantes na Virgem Maria em geral e na Nossa Senhora da Saúde da Serra em particular.
Quanto à primeira manifestação essa é visível em painel de azulejos colocado em prédio situado no largo fronteiro à Igreja Matriz. Naquilo que respeita à segunda, entrevistamos, ao acaso, dois Senhores(3) que encontramos na localidade e nos disseram:
a) – “Sabemos muito bem onde fica a Nossa Senhora da Saúde em Cambra”
b) – “Nunca lá fomos a pé, mas conhecemos quem lá tenha ido.
c) – “Os daqui levavam enguias e trocavam na serra por carne.”
d) – “A Banda era conhecida pela Banda das Enguias”.
e) – “Antigamente havia aqui duas Bandas, agora é só uma”.
Também os barcos da ria navegavam, alguns deles, sob a protecção de Nossa Senhora da Saúde, como se infere da leitura do Volume I, do livro MOLICEIROS(4). Refere-se aí que um dos barcos tinha inscrito a seguinte legenda religiosa:
“Ora bamos la cum Deos,
Sinhora da Saudi”
Ou numa tradução actual
“Ora vamos lá com Deus,
Senhora da Saúde”
Para além de Pardilhó temos referenciados outros locais, alguns no além-mar, onde se presta homenagem a Nossa Senhora da Saúde da Serra. Muitos outros haverá e de que não temos notícia. Aqui fica o que nos foi dado conhecer:
1) – Ossela – As suas gentes vão em romagem ao Santuário, no último domingo de Julho(5).
2) – Manhiça, Lourenço Marques/Maputo, Moçambique(6) – Um missionário fundou aí uma escola, em 1939, sob a protecção de Nossa Senhora da Saúde da Serra.
3) – Parc Angrignon – Montreal – Canadá – Convívio de Valecambrenses(7), todos os anos, em Agosto, sob invocação de Nossa Senhora da Saúde.
BIBLIOGRAFIA:
(1) – TAVARES, João – TRADIÇÕES DO DISTRITO DE AVEIRO, ROMARIA DE NOSSA SENHORA DA SAÚDE DA SERRA -, in, Arquivo do Distrito de Aveiro, volume XII. Ano de 1946.
(2) – Notícias de Cambra nº 6 de 30.8.1993.
Idem “A Voz de Cambra nº 537 de 15.9.93.
Idem “A Voz de Cambra” nº 629 de 1.9.97.
(3) – Informações amavelmente prestadas por dois habitantes de Pardilhó, com cerca de 70 anos cada.
(4) – CASTRO, D. José – Estudos Etnográficos – Volume I, Aveiro – MOLICEIROS. Ano de 1943, pág. 16.
(5) – Recolha feita, em meados da década passada, junto de habitantes de Ossela que se encontravam na ermida de Nossa Senhora do Crasto.
(6) – TAVARES, Joaquim Manuel – Obra citada.
(7) – Jornal “A Voz de Cambra, nº 587, de 1.11.1995.
Manuel de Almeida
(Parte V)