Vou começar a fazer poesia
sem medo, com a coragem do poeta
que se atreve ao verso livre, liberto
ali tão perto sempre à mão de semear
é só deixar o pensamento fluir
saia o que sair
não importa a rima, a cadência, a melodia
melhor ainda se houver arritmia.
Só que não consola a alma,
ainda que
a calma a procure serenar
no abrandar das ondas do mar que na praia
se desfazem em espuma
debaixo de um céu de bruma.
Falta-lhe o esplendor do azul
o brilho do sol
o estro do poeta
a magia da palavra certa
a cor do som saído das cordas do coração.
Ah não! Ser poeta é ser maior, é ser capaz
de tanger cordas escondidas que ninguém vê
mas que só ele sente.
Poesia não é isto nem aquilo
é coisa séria. É coisa de poetas.
Por isso desisto
desisto de ti
Posso até tocar-te de perto
mas fico-me por aqui.
Eva Cruz