Vem cá do fundo

Vem cá do fundo
Adão Cruz
Eva Cruz

Vem cá do fundo uma tristeza enorme
que varre o sorriso dos lábios
e perpassa o ar de saudade
sem o perfume do ligustro ou do jasmim.

Perde-se no absoluto e na razão da finitude
e os sonhos murcham no seio da realidade.

Voam andorinhas e estorninhos entre as árvores
imersas no verde da Primavera
e o rio desafia o tempo na eternidade das águas
que os patos sulcam em flecha até à margem
buscando alimento no interior do silêncio e da memória.

Não tenho coragem para lhes dizer não
e no fim partem em debandada.

Apenas o pato branco
de brancura sem mácula
se detém na margem
a namorar o meu rosto esquecido
nas lembranças da vida.

Tão manso no olhar
só ele poderia despertar
o sorriso do meu rosto perdido.

Jardim das Delícias