por Eva Cruz
Aparece do nada, não se vê ninguém ao redor.
Surge quase por artes mágicas ao meu lado, assustando-me, por vezes. Não é maltrapilha nem tem ar desleixado.
– Dá-me dois euros para um galão e um pão ou um bolo.
De vez em quando lá lhe dou um euro, mas ela pede sempre mais.
– As moedas pequenas dão-me azar, responde.
Outras vezes não dou.
– Já te disse que agora só ando com cartão e não trago o porta-moedas. Deixa-me em paz.
Ela faz que compreende e mostra até uma certa docilidade.
Há dias, descia eu calmamente a rua, quando ela aparece subitamente ao meu lado como um extraterrestre.
– Dá-me cinco euros para eu almoçar.
– Logo cinco euros! Não pedes pouco! Já te disse vezes sem conta que não trago porta-moedas.
– Pronto, pronto, fica para a próxima. Não te zangues.
É nestas alturas que o pensamento nos começa a roer devagarinho.
Quase a chegar ao fundo da rua, senti que algo me abanava dentro do peito.
Sabia que tinha uma nota de cinco euros, e com a consciência a moer de mansinho, virei-me para trás e resolvi chamá-la.
Veio logo a correr, e quando lhe disse que afinal trazia comigo o porta-moedas, lançou para o ar um vaporoso desabafo.
– Ai! Graças a Deus!
Fui dar as voltas que tinha a dar e quando regressava a casa deparei com ela bem sentada numa esplanada do centro da Praça, de perna cruzada e cigarro entre os dedos, virada para um sol radioso que brilhava lá em cima no céu azul.
Tinha na mesa um pequeno prato e um copo já vazios. Parei, olhei para ela e disse a sorrir.
– Sim Senhora!
Respondeu-me com um sorriso alvar, mas de tanta satisfação e candura que me envergonhei da minha ironia.
Chegada a casa, fiz o meu almoço, como sempre simples e frugal, e mesmo sem sol e sem cigarro soube-me às mil maravilhas, apenas por cinco euros.