Para Ana Luisa Amaral

Para Ana Luisa Amaral
Adão Cruz

por Adão Cruz

Como a vida te apagou, também apaguei o teu e-mail. Lá para os confins do mundo molecular do Universo, não tenho possibilidade de comunicar contigo, mas irei falando para mim mesmo sobre tanta coisa que deixaste.

Aprendi com outros e também contigo que a cultura tem de fazer parte integrante da estrutura do ser humano, da sua solidez e profundidade, da sua autenticidade, da sua verdade e da sua intrínseca sabedoria.

Aprendemos que a cultura com que te irmanaste e que cedo a morte ceifou é construída através da vida como qualquer mecanismo de adaptação, mas apenas quando assenta nos fortes alicerces do conhecimento científico e na aprendizagem dos emaranhados mecanismos neurobiológicos da mente criativa.

Também aprendemos que a verdadeira cultura, a cultura do saber autêntico, a cultura do ser são  indissociáveis da nossa língua e de toda a linguística onde sempre foste mestra.

Como todos sabemos, a língua não é apenas um mero instrumento de comunicação, mas uma parte inseparável do todo que somos e da riqueza anímica que construímos.

Um bom perfume deve ser sentido como parte integrante da personalidade de uma mulher e não como um cheiro.

Uma boa decoração deve ser sentida pelo bom ambiente, pelo conforto e bem-estar que cria e não por dar nas vistas apenas pelo estilo e pela configuração dos objectos.

A cultura não é um enfeite, uma cosmética, uma roupagem mais ou menos vistosa, nem pode ser confundida com a cultura-folclore, com a prolixa cultura política ou com a cultura do enciclopedismo balofo dos nossos dias.

Adeus Ana Luisa. Guardarei como recordação o difícil livro que me aconselhaste: PAISAJES  COGNITIVOS  DE  LA  POESIA, de Amelia Gamoneda e Candela Salgado Ivanich

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