O menino de brilho nos olhos

O menino de brilho nos olhos
Adão Cruz
O menino corria
corria atrás do sol no correr de cada dia
e no doce brilho dos olhos toda a alma se lhe via.

O menino corria
corria atrás da lua que se erguia entre estrelas e magia
e no brilho dos olhos toda a alma luzia.

O menino corria
corria atrás do vento que fugia para lá do tempo
e nos olhos do menino o vento se perdia.

O menino corria
corria atrás da chuva
e quanto mais água caía
mais o brilho dos olhos se acendia.

O menino dormia
dormia no reino dos sonhos e da fantasia
e nos olhitos dormidos o brilho se escondia.

O menino acordava
acordava no alvor de cada dia
e a vida renascia no abrir dos olhos onde a alma luzia.

Até que um dia…
Uma nuvem negra
muito negra
tombou do céu e se fez gigante
de longas barbas e olhar perfurante
com um relâmpago em cada mão.

Roubava o brilho dos olhos
e nas entranhas do trovão se desfazia.

O menino tremia
tremia sem saber o que acontecia.

O menino chorava
chorava sem saber a razão.

O menino fugia
fugia
mas algo lhe dizia que de nada valia.

Chamou as pombas rouxinóis e cotovias
sardões caracóis e libelinhas
enlaçou-se de gavinhas
abraçou as árvores beijou a terra
e tudo o que nele vivia.

Mas ninguém lhe respondia
Todos o olhavam com tristeza e melancolia.

Perdera o menino o brilho dos olhos
e neles a inocência morria.

Jardim das Delícias