UM PLEBEU IGNORANTE
NO MUSEU DE MAFRA
Julieta Marques é uma investigadora que se tem revelado incansável na busca da verdade e na reposição das histórias mal contadas da História.
Às vezes, as maiores evidências estão debaixo dos nossos olhos e parecemos cegos. Ela não o foi e viu aquilo em que nenhum português reparou nos últimos 280 anos: o fresco que enche o tecto da Sala das Descobertas no Palácio Nacional de Mafra, mandado construir pelo Rei D. João V em 1717, mais de dois séculos após a morte de Cristóvão Colon.
No fresco, o monarca perpetua, pela mão de Cirilo Wolkmar Machado, os grandes feitos de grandes portugueses. Aliás, a Sala é também conhecida por “Sala dos Heróis Portugueses”.
Ora bem, por entre anjos e atlantes, um deus do mar e as figuras femininas de Lusitânia e Europa, estão retratados quatro grandes heróis dos Descobrimentos.
Destacado em cima e à esquerda, o próprio Príncipe Navegador, num escudo em que folhas de carvalho ornam a frase “Infante D. Henrique de Portugal”. À direita, partindo da dúvida de se tratar de Vasco da Gama a vencer o Adamastor ou Bartolomeu Dias, Julieta Marques optou por identificar a figura como Duarte Pacheco Pereira, dado que D. João V queria glorificar a descoberta do Brasil e tudo indica que o cientista dos Descobrimentos lá havia estado dois anos antes da “descoberta oficial”, tendo sido mesmo o primeiro a referir a existência de “pau brasil” naquelas paragens, para além de que integrou a expedição de Pedro Álvares Cabral em 1500. Este aparece no lado inferior direito, empurrado para o seu destino por atlantes alados.
Então e a quarta figura?
Bom, essa, para além da do Infante, é a única que está identificada! Mesmo que não víssemos as correntes de Bobadilha, que amarguraram Colon até à derradeira hora da sua morte, a legenda lá está, clara e precisa: “A CASTILLA Y A LEON NUEVO MUNDO DIÒ COLON”.
Então o que estaria um plebeu cardador de lãs de Génova a fazer no meio de tão ilustres nobres, na “Sala dos Heróis Portugueses”?…
Que é o descobridor do Novo Mundo, é ponto assente. Que se chamava Cristóvão Colon, está ali documentado… que é um “Herói Português” não oferece qualquer dúvida ou discussão!
Probato est !!!