Interlúdio d’EROS

Interlúdio d'EROS

Interlúdio d'EROS

Interlúdio d’EROS

Crepita uma torre no teu corpo
ao som de Agosto incendiada
pelo meio as brasas rumorejam
a cúpula rodopia toda em lava

E a torre pulsando vai de encontro
à enseada do meu corpo mais escusa

As brasas são já silêncio e cinza
a lava da cúpula é só espuma

No côncavo da minha boca
o grito da tua língua

No côncavo dos meus joelhos
o latejar dos teus braços

No côncavo das minhas axilas
a prece do teu torso

No côncavo das minhas mãos
o caminho das tuas coxas

No côncavo das minhas virilhas
a sede do teu púbis

No côncavo do meu vértice
o convexo do teu sexo

Desfolho-me
nas tuas mãos
ruborizadas
Na minha carne
palpitações
incendiadas
Morre o pudor
num laivo convexo

Não quis o teu amor
quis o teu sexo

Flutuo
nas tuas mãos
de madrugada
Na minha carne
uma ressurrecta
chama delicada
Treme na sombra
um fio de pudor

Não quis o teu sexo
quis o teu amor

De um impreciso castanho os teus olhos
rodeiam na artéria que me treme
de azul a pique ensaiam-se os teus gestos
e em sulcos mímicos entram em cena

De bronze temporal é o teu rosto
mas os teus lábios rubros e frementes
a projectar um sol em minha boca
e no meu peito a admitir lamentos

De verde persistente é o teu desejo
a querer tombar entre as minhas ilhargas
branco só mesmo o rasto de uma onda
que em minha púbis deixa leves marcas

Mergulhas no meu corpo
como se fosse uma mar
que te purificasse
Os teus olhos excedem-se
e lânguido baloiças
na nudez dos meus seios
No emergir de agora
o teu beijo é o delírio
a que não quero fugir
Oscilas nos meus braços
pressupostas margens
e ao centro regressas
Num profundo mergulho
um arrepio longo
e os corpos rodopiam
Uma brisa oblíqua
uma onda salgada
e a vertigem da espuma

Desafio a fundura dos teus dedos
e o prelúdio que habita nos teus olhos
Mergulho no segredo que segregas
e selo as nossas bocas em saliva

Derramo toda a rima dos sentidos
de encontro ao gradeamento dos teus braços
E no tempo em que os corpos são incêndio
as rosas entre os ventres desfolhadas

Invento dos nossos corpos o que só pressinto
à excepção dos lábios cor de sangue
Surgem nos nossos olhos lagoas luminosas
e toda a morfologia se expande

É na retina o tenso corpo a corpo
é na mente a sintaxe de um verso
É o espaço todo a beber-nos a nudez
é o tempo todo a soletrar-nos o sexo

Lentamente
os olhos são lagoas
perplexos no perímetro
das colinas do corpo
Lentamente
os dedos são que fios
a vestir de veludo
a novíssima nudez
Lentamente
as bocas são que frutos
onde se prova e aprova
a polpa que perpassa
Lentamente
os sexos são nenúfares
a pulsar no prenúncio
da abertura das águas

Junto às margens
das minhas coxas
assoma a proa
de um veleiro
Pelo meu colo
as tuas mãos
buscam ingresso
para um cruzeiro

Tiras as algas
irrompe a lua
rangem areias
Crescem as ilhas
no mar do corpo
em que te deitas
Bruma nenhuma
a limitar
a maré cheia
Búzio acolhido
concha fechada
onda desfeita

Que fulgente estrela
nos olhos tão ledos

Que rumor tão púrpura
nos passos dos dedos

que teia se solta
no fundo das teias

Que lento arrepio
por dentro das veias

Que brisa de brasa
no seio do amplexo

Que grito tão surdo
na rosa do sexo

Não digas que a minha pele
é de cera
pois ela flutua como vela
neste leito
Não digas que as tuas mãos
são de brisa
pois ardem como brasa
no meu peito
Não digas que há no meu ventre
uma cratera
que é de um fundo de ti
a sepultura
Pois sempre que o atinges
tu renasces
e bebes em todas as vertentes
a loucura
Não digas que agora
é o momento
em que nada mais existe
e estamos sós
Pois enquanto nos cravamos
um no outro
rebenta um vulcão
dentro de nós

Deixa que eu pause o dorso
e a cintura
Desdobra nos meus seios
o vinco da ternura
Cerra com os teus lábios
os meus lábios
Os meus cílios suspensos
esses abre-os
Sorve de novo a luz
nos meus cabelos
Separa devagar
os meus joelhos
E num ritual lento
e muito quente
vai mergulhando no lastro
do meu ventre

Que antegosto
de fruta ou mel
a tua língua
tanto confere
tanto perscruta
tanto requer
que antegozo
solene ou célere
sobre o perímetro
da minha pele

Frutos acesos
na tarde aberta
(Oh plenitude
não descoberta)
Quietos por fora
até ao centro
mas crepitando
lá bem por lá dentro
redondos túmidos
quase que atingem
um outro espaço
pra lá da origem
Frutos acesos
A tarde abre-os
querem que mãos
esperam que lábios

Contorna-me o lampeijo
dos teus olhos tão vítreos

Desperto para a nudez
dos teus ombros tão densos

Desalinha-me a mímica
das tuas mãos tão sábias

Estremece-me o percurso
da tua boca tão excessiva

Inflama-me a confluência
do teu ventre tão incisivo

Suspende-me a interioridade
do teu sexo tão líquido

Tocas-me as mãos
cinges-me a cintura
num aperto misto
de voragem e ternura
Acendem-se os teus olhos
como sóis escancarados
e afagas os contornos
dos meus seios tapados
Tiras-me o vestido
e assombra-te o que vês
Há um arrepio ébrio
no toque da nudez
Liberto-te da camisa
sentimo-nos infinitos
e os nossos corpos voam
até ao grito dos gritos