3 – O espólio da Família Sousa

… e a comunidade cambrense

Os panoramas mais típicos, as imagens da paisagem serrana com os seus socalcos, os vinhedos, o trabalho artesanal foram captados e fixados por estes fotógrafos.

Também as primeiras indústrias, máquinas e industriais deste concelho, que se orgulha do seu desenvolvimento económico, foram de igual modo tema dos seus trabalhos, constituindo fonte de inigualável valor para se estudar a história e inovação dessa mesma indústria durante todo o nosso século.

Documentos a ser preservados como algo de valioso do nosso património e da nossa identidade cultural, de grande importância para que neles a comunidade se reveja e identifique.

Mas, no seu espólio, ficaram ainda fixadas para sempre, graças às suas objectivas, as igrejas, os solares, alminhas, cruzeiros e tantos outros monumentos.

A colecção destes fotógrafos é sem dúvida importante como subsídio para o conhecimento de Vale de Cambra.

De grande valor para futuras investigações, a sua obra, quer seja encarada como obra de arte ou como simples documento, testemunha a evolução desta localidade patente nas suas fotografias que nos retratam os trajes típicos de início de século, o trabalho da vindima, do pisar das uvas, da lida diária do campo, as actividades artesanais, algumas das quais já extintas, a antiga feira, de inegável importância para a evolução de Vale de Cambra e “desde sempre muito conceituada, pelo volume de transacções efectuadas, e pelo movimento de vendedores e compradores que nesse dia afluiam a Vale de Cambra das mais dispersas e distantes terras” (1) e toda a evolução industrial, desde as fotografias de antigas empresas de lacticínios onde se pode constatar como eram as primeiras desnatadeiras centrífugas, até as fotografias da primeira máquina a vapor que surgiu no concelho, em 1913, instalada numa serração (2), e muitas outras.

Constituindo um acervo documental a ser apreciado por todos, cabe pois ao Museu Municipal preservar e mostrar este espólio, através do qual, com toda a certeza a comunidade Cambrense se identificará.

A ligação estabelecida entre uma comunidade regional e a sua memória, para muitos já bem distante no passado, parece-nos que poderá ser bem conseguida através da acção unificadora desenvolvida pelo Museu Municipal de Vale de Cambra, ao receber este espólio fotográfico único, para o expor de forma a não permitir que essa comunidade perca a sua identidade, pelo desconhecimento ou esquecimento das vivências dos seus membros há muito desaparecidos, mas que de qualquer forma deixaram para as gerações futuras as marcas da sua existência, expressa pela Família Sousa na colecção fotográfica.

BIBLIOGRAFIA
“Fotografia” in Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Editorial Enciclopédia, Limitada, Lisboa – Rio de Janeiro, vol XI, s/d. p. 701-708

MARQUES, Maria Clara de Paiva Vide – Monografia de Vale de Cambra, Vale de Cambra, Edição da Câmara Municipal de Vale de Cambra, 1993

POIRIER, Jean; CLAPIER – VALLADON, Simon; RAYBAUT, Paul – Histórias de vida. Teoria e prática, Oeiras, Celta Editora, 1995

SMITH, Edwin – Fotografia, Técnicas e Truques. Volume 1, Lisboa, Editorial Presença, 1974.

VICENTE, António Pereira – Carlos Relvas. Fotógrafo. Contribuição para a História da Fotografia em Portugal no século XIX. Colecção Arte e Artistas, Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1984.

Voz de Cambra – nº 437, 1989.06.01. Suplemento p. VI

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(1) MARQUES, Maria Clara de Paiva Vide - Monografia de Vale de Cambra, Vale de Cambra, Edição da Câmara Municipal de Vale de Cambra, 1993, p. 55
(2) Idem. Ibidem p. 51

Boletim Cultural de Vale de Cambra, N. 1 – 1997, pág. 64