Três gerações na fotografia
Augusto Tavares de Sousa
Augusto Tavares de Sousa nasce, a 6 de Outubro de 1883, em Lisboa, filho de Maria José Tavares, solteira, natural de Macieira de Cambra(1).
De extracção social modesta, o seu percurso como fotógrafo inicia-se, muito cedo, no Porto, onde aprendeu a arte na Foto Guedes, tornando-se fotógrafo profissional, ficando-nos, no entanto, muito pouco desta fase da sua vida.
Aos 28 anos, em 1911, veio para Cambra instalando a primeira fotografia deste concelho no então lugar da Gandra. Este seu primeiro estúdio, ficava situado no quintal do farmacêutico Teixeira da Silva e o trabalho era feito ao ar livre.
Aí, foi Augusto Sousa – Fotógrafo, como então era conhecido, tirando as suas primeiras fotografias ainda utilizando chapas em vidro e apenas “a preto e branco”.
Posteriormente, mudou-se para uma casa já com características próprias para o trabalho de fotografia onde instalou o seu novo estúdio, a Foto Progresso.
Esta casa, para onde se mudou nos inícios de 1920, foi mandada construir propositadamente pelo comendador Luis Bernardo de Almeida”, para lhe alugar.
Conhecida como “a casa do Fotógrafo”, nela permaneceu até comprar terreno nas Escadinhas do Moradal, onde Augusto Tavares de Sousa instalou a Foto Sousa, ainda hoje em funcionamento e actualmente propriedade de seu filho Alberto Tavares de Sousa e que funciona desde 1933.
Apaixonado pelo Teatro, funda o “Grupo de Teatro Amador de Vale de Cambra”, montando um teatro nas instalações da Foto Progresso.
Aí, para além de ensaiador era também actor, levando a cena várias peças.
Também a poesia era outra das suas paixões, escrevendo alguns versos de carácter popular, de que não ficaram registos.
Trabalhando sempre como fotógrafo até ao final da sua vida, a sua obra constitui hoje um valioso testemunho para a história do concelho de Vale de Cambra.
Procurando sempre acompanhar a evolução da fotografia deixou para as gerações futuras registos de inegável valor que permitem à comunidade um melhor conhecimento do seu passado mais recente.
(1) Macieira de Cambra, actualmente uma das nove freguesias do concelho de Vale de Cambra, era na altura sede do concelho.
(2) Em 1906, no registo de nascimento do seu filho Manuel, Augusto Tavares de Sousa é mencionado como fotógrafo de profissão.
(3) O lugar da Gandra, na freguesia de Vila Chã, deu origem à actual cidade de Vale de Cambra, tendo contribuído para este facto a mudança da sede do concelho para este lugar em 1926, criando assim o concelho de Vale de Cambra.
(4) O comendador Luis Bernardo de Almeida para quem Augusto Tavares de Sousa fazia inúmeros trabalhos é ainda hoje uma das mais ilustres figuras da história de Vale de Cambra, devendo-se-lhe uma enorme obra de beneficiência em todos os campos: cultural, social e humanitário.
(5) O Teatro foi também uma paixão dos seus filhos, em especial de Manuel Tavares de Sousa, o grande continuador desta actividade.
Manuel Tavares de Sousa
Manuel Tavares de Sousa é o mais velho dos irmãos, nascido no Porto, a 8 de Julho de 1906.
Iníciou a aprendizagem de fotógrafo aos nove anos, com o seu pai, seguindo-lhe a profissão.
Porém, aos 17 anos, o jovem Manuel decide, por razões pessoais e profissionais que se prendiam com a busca de novos caminhos, separar-se de seu pai, indo praticar fotografia sucessivamente em Estarreja, em Aveiro, na Foto Ramos e finalmente em Ovar, na Foto Lisboa.
Do percurso da vida de Manuel Tavares de Sousa, nesta época, poucos vestigios ficaram. Contudo, hábil artista vai durante este período aprendendo e aperfeiçoando a arte da fotografia, numa busca contínua de uma melhoria técnica e artística.
Regressa a Vale de Cambra onde, em 28 de Novembro de 1935, desposou Albina da Purificação, natural da freguesia de S. Pedro de Castelões, concelho de Vale de Cambra, de quem teve três filhas: Maria Lídia de Oliveira Tavares de Sousa; Maria Isabel de Oliveira Tavares de Sousa e Maria Teresa de Oliveira Tavares de Sousa.
Em 1936, abre o seu primeiro estúdio na quinta do Salomão, em Vale de Cambra, para em 1938 se transladar para um outro local, situado na Av. Infante D. Henrique, curiosamente, também numa casa mandada construir pelo comendador Luis Bernardo de Almeida, tal como acontecera a seu pai.
Neste seu estúdio, a que deu o nome de Foto Central, vai exercer durante anos a sua actividade de fotógrafo, tentando sempre acompanhar os progressos e transformações da fotografia, como se pode ver no espólio deixado onde, das antigas fotografias de chapa de vidro, passa ao uso de película, inicialmente em trabalhos a preto e branco e, mais tarde, usando a cor.
Desde muito jovem, Manuel foi um apaixonado pela música, pelo teatro e pelo desporto, concretamente a pesca, o seu hobbie favorito.
Deve-se a este seu passatempo muitas das fotografias que deixou, pois a sua dedicação à fotografia levava a que, não efectuasse o passeio mais breve sem se fazer acompanhar de uma máquina fotográfica, notando-se nos seus trabalhos, que abrangem Vale de Cambra e regiões limítrofes, a preocupação em reproduzir o mais rigorosamente possível o que o
rodeava e encantava.
Sobre as suas outras actividades integrou o Grupo de Teatro que seu pai havia fundado, o Grupo Desportivo e Recreativo de Vale de Cambra, sendo autor de algumas peças aí representadas, as quais integram textos musicais, pois que a música era também uma das suas paixões.
Em 1971, aos 65 anos abandona a actividade a que tinha dedicado toda a sua vida deixando como espólio uma colecção de fotografias que vai desde a fotografia de paisagem ao teatro.
Alberto Tavares de Sousa
Segundo filho de Augusto Tavares de Sousa e de Laurentina Augusta da Conceição(1), nasceu em Vale de Cambra a 5 de Outubro de 1922.
Tal como os seus irmãos enveredou pela fotografia, dando continuidade também ele, à profissão de seu pai.
No entanto, antes de tal acontecer, Alberto trabalhou em vários locais em Vale de Cambra, exercendo outras profissões.
O trabalho como fotógrafo, inicia-se com o irmão, Manuel Tavares de Sousa, de quem foi empregado e com quem aprofundou os conhecimentos aprendendo cada vez mais e aperfeiçoando novas técnicas que, depois, ao longo da sua carreira foi trabalhando constantemente.
Esta aprendizagem com o irmão levou-o depois até S. Pedro do Sul, a convite de um fotógrafo local, também proprietário de um café, o Sr. Edgar, com quem colaborou durante um mês, para regressar a Vale de Cambra, passando a trabalhar com o pai, até à morte deste em 1943.
Nessa altura, e porque de todos os filhos, era o único que trabalhava com Augusto Sousa, Alberto decide comprar a seus irmãos a parte que lhes dizia respeito no Estúdio – Foto Sousa, também casa de habitação da família, bem como o espólio do pai, tornando-se, assim o proprietário da Foto Sousa e do valioso espólio que seu pai havia construído ao longo de uma vida dedicada à fotografia.
Em 1958, a 6 de Novembro, casa com Mafalda de Oliveira Soares de Albergaria, continuando a exercer a sua profissão, actividade que ainda hoje mantém, muito embora actualmente se limite quase exclusivamente a reproduzir fotografias que possui, trabalhando quase exclusivamente “a preto e branco”, ou então a catalogar o espólio que detém, constituído não apenas pelo que lhe deixou seu pai, mas acrescido do seu próprio pois, para além de encarar a fotografia como arte, sempre viu nela um sistema de registo, o que se traduz actualmente por um conjunto de testemunhos que somados ao espólio do pai, permitem retratar a evolução histórica de Vale de Cambra.
Em relação aos seus hobbies, tal como o pai e os irmãos, também o teatro fez parte da sua vida, para além do xadrez, actividade lúdica que ainda hoje pratica.
(1) O primeiro filho de Augusto Tavares de Sousa e de Laurentina Augusta da Conceição, Manuel Tavares de Sousa Júnior nasceu em Vale de Cambra em 1920. (2) Manuel Tavares de Sousa Júnior apenas exerceu a profissão durante um pequeno período de tempo pois, na década de quarenta, entra para a Função Pública, como funcionário das Finanças de Vale de Cambra.
Maria Isabel de Oliveira Tavares de Sousa Freire
Maria Isabel de Oliveira Tavares de Sousa Freire, nasceu em Vale de Cambra, a 18 de Abril de 1940, filha de Manuel Tavares de Sousa e de Albina da Purificação, tendo sido a única das filhas que seguiu a profissão do pai.
Aliás, tal como ele, inicia a sua aprendizagem na fotografia aos 9 anos, tendo-o como é obvio, por mestre. Trabalhando nesta actividade até aos vinte anos, em 1960 casa com Júlio Diniz Freire e parte para África, onde residiu durante 6 anos, abandonando essa sua primeira ocupação.
De regresso a Vale de Cambra retoma a actividade de fotografia, trabalhando com o pai na Foto Central, até este se retirar da actividade em 1971.
Nessa altura, assume a direcção do estúdio fotográfico para, em 1985 mudar as instalações para a avenida Vale do Caima, onde em simultâneo, manteve durante um ano uma galeria de arte – a Galeria de Arte Vale do Caima, que funcionou durante o período de 1987 – 1988.
Aliás nesse ano decide instalar-se novamente na Av. Infante D. Henrique, mas em novas instalações, local onde ainda se mantém actualmente.
Tal como o avô e o pai, Isabel desde cedo adquiriu a convicção de que, a fotografia, mais de que uma profissão é uma arte.
Por isso, para além da actividade normal de fotografia, tem realizado exposições onde a fotografia “a preto e branco”, a sua preferida, tem um lugar de destaque.
Boletim Cultural de Vale de Cambra, N. 1 – 1997, págs. 81-83