Colecção fotográfica

da Família Sousa e o Museu Municipal de Vale de Cambra (*)

por
Maria Clara de Paiva Vide Marques (**)
Manuela Carmona Graça Pinto da Costa (***)

PRÓLOGO

A sociedade ao incluir nas suas diversas formas de organização as famílias, associações de voluntários, grupos étnicos, sociedades profissionais ou organizações educacionais, torna-se responsável pela criação de contextos e locais onde as pessoas definam, debatam e contestem as suas identidades, produzam e reproduzam as circunstâncias da sua vida, crenças e valores.

Cada sociedade deve ser observada como um mosaico de inúmeras organizações e comunidades em permanente mudança, motivo porque as identidades e experiências individuais não resultam totalmente de um único segmento da sociedade, mas da complexidade e alteração da ordem social de que é feita.

Aos museus cabe a função de colaborar na procura e encontro de uma identidade social e cultural da sociedade envolvente ou de uma parte dela, agindo como plataformas giratórias, que ao longo do seu percurso, vão coleccionando, preservando, estudando, interpretando e exibindo os produtos materiais e intelectuais resultantes da actividade humana, de forma a que o visitante encontre uma identidade cultural, por vezes há muito esquecida, mas sempre pronta a renascer em qualquer ocasião.

Expressões como “Ciganos”, “Judeus”, “Sargaceiros” ou “Rendilheiras” constituem pontos de partida e revelam-se extremamente úteis como elementos auxiliares e simultaneamente aglutinadores dos membros de comunidades locais, por vezes pequenas, e das diversas comunidades entre si.

O enriquecimento cultural e o encontro de identidade resultante, são sempre reveladores de fenómenos e vivências intimas, cuja evidência e manifestação se torna gratificante para quem desenvolveu esse trabalho.

Cabe ainda aos museus, a função lúdica que, através da realização de acções de carácter cultural e com a participação das pequenas comunidades, permite contribuir para um maior conhecimento e reconhecimento dos grupos de “identidades diferentes”, junto das comunidades maioritárias, na generalidade descaracterizada pela uniformidade e vulgaridade monótona da vivência do dia a dia, de uma sociedade urbana, economicista e impessoal.

Aos museus compete o dever de ir ao encontro do público, daquele, que através das iniciativas tomadas, se encontra ou reencontra com uma identidade há muito esquecida.

A realização de eventos culturais, que possam englobar não apenas a simples celebração de um episódio com a abertura de uma amostra ou exposição, mas a ele associar a promoção de percursos, de feiras e vendas, de confecção de gastronomia típica, de jogos e diversões tendo como ponto comum a temática basilar, deve contar com o esforço do museu, no sentido de obter o maior empenhamento e participação da comunidade.

A ela deverá ser reservada uma participação activa, de forma a tornar o museu vivo e colaborante, estabelecendo uma relação proficua com a comunidade que serve, recebendo dela apoio e interesse, oferecendo em troca o reencontro autêntico com a sua identidade.

Para a tarefa de interacção dos museus com as comunidades, o empenhamento e participação dos mais jovens. não devem nem podem ser negligenciados, sob pena daqueles se tornarem em elementos mudos.

A generosidade e principalmente o grande poder de comunicabilidade da infância e da juventude, são os veículos ideais de transmissão das diversas missões museológicas.

Os museus devem saber como, quando e a quem fazer o apelo certo e oportuno. Os resultados de uma correcta motivação por parte dos museus, serão colhidos em dimensões por eles e pela comunidade.

Os argumentos utilizados pelos museus para a afirmação do significado social que este tipo de acção pretende atingir, somente a eles compete e a nenhuma outra instituição.

Os museus como repositórios de conhecimentos, valores e gostos, devem simultaneamente ensinar e refinar o produto social, por detrás do qual se encontram também valores educacionais e cívicos que importa redescobrir e transmitir.

O Museu Municipal de Vale de Cambra ao pretender acolher a colecção fotográfica da família Sousa, reunida a partir de Augusto Tavares de Sousa, e formada ao longo de três gerações, efectua, ao mesmo tempo, a salvaguarda desta colecção e, ao organizar uma exposição temática de tal espólio, presta um serviço de extrema utilidade à comunidade local em que o mesmo se encontra integrado.

(*) Agradecimentos:
Alberto Tavares de Sousa
Maria Isabel de Oliveira Tavares de Sousa Freire.

(**) Licenciada em Ciências Históricas; Pós-Graduada em Museologia pela F.L.U.P; Assessora Cultural da Câmara Municipal de Vale de Cambra, Directora do Museu Municipal de Vale de Cambra.

(***) Licenciada em História Património Cultural pela U.PL.D.H.: Pós-Graduada em Museologia pela F.L.U.P: Coordenadora nacional do projecto Jetro, representante oficial de japão na Expo/98.

Boletim Cultural de Vale de Cambra, N. 1 – 1997, pág. 59