É hoje praticamente impossível enumerar todas as aplicações da fotografia e, actualmente não há ramo da actividade humana em que a fotografia não tenha um papel mais ou menos directo ou importante.
Desde sempre, a imagem, mesmo pondo de parte o seu valor como expressão puramente artistica, teve importância para o homem como meio descritivo de objectos, de fenómenos e até de ideias.
Por isso, dando a fotografia uma possibilidade de fixar as imagens de uma forma automática, rápida e fiel, tornou-se desde o seu início um instrumento precioso e, se bem que ainda hoje em dia, sejam muitos os que the negam possibilidades artísticas, é inegável o valor que tem como meio descritive ou informativo, sendo utilizado por amadores e profissionais, quer como meio de registar as nossas recordações, quer como instrumento de trabalho, desde o seu uso na criminologia, na medicina ou tigação de documentos e quadros antigos, entre muitas outras aplicações.
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O invento da fotografia e o seu desenvolvimento técnico e artístico dá-se na época vitorina (1837-1901), um período de grandes mutações e vários níveis, onde “a existência de uma arte do tipo mecanizada, onde uma pequena máquina funciona como intermediário entre o artista e a sua criação, enquadra-se no contexto de evolução dessa época”. (1)
Quanto ao nível actual da técnica fotográfica, ele é fruto de uma evolução, cujo passo decisivo será dado em 1822-1825 pelo francês Nicephore Niepce.
Niepce vai utilizar uma substância impressionável – o betume da judeia que, exposto ao sol, perde a solubilidade em certos dissolventes aromáticos.
Uma chapa de cobre revestida de betume era impressionada pela imagem fornecida por uma câmara escura.
Depois, era revelada por imersão em petróleo, que dissolvia o betume irregularmente nos vários pontos da chapa, conforme a maior ou menor acção da luz nesses pontos, formando-se assim a imagem fotográfica.
Entretanto, o pintor Daguerre investiga noutro sentido e, postos os dois em contacto, do seu trabalho comum, vai resaltar, em 1837, já Niepce tinha falecido, o sistema que durante muitos anos dominou a daguerreotipia.
Neste sistema, o material sensivel é formado por uma chapa de prata sensibilizada pelos vapores de iodo e revelado pelos vapores de mercúrio que se condensam sobre os pontos que sofreram a acção da luz e em quantidade proporcional a essa acção.
Após revelado, o daguerreotipo era fixado pelo hipossulfito de sódio, que dissolve o iodeto, apresenundo-se então a imagem, constituída por manchas claras de mercúrio sobre o fundo sombrio de prata, obtendo-se directamente um positivo.
Na mesma época, em Inglaterra, Fox Tarbot, outro dos pioneiros da fotografia, investiga a possibilidade do emprego dos sais de prata, mas usando um papel sensibilizado com cloreto de prata, o qual escurece pela acção da luz, conseguindo, deste modo, obter um negativo e, pela repetição do processo, obter positivos na quantidade que desejar. É pois, nesta data, cerca de 1840, que a técnica fotográfica toma a forma actual, só que com materiais diferentes.
Aliás, os progressos vão continuar, salientando-se dentre eles: a substituição do papel pelo vidro, como suporte do material negativo; a descoberta de uma emulsão de gelatino-brometo de prata, substância sensível de revestimento que ainda é usada actualmente, embora as suas características vão sempre melhorando e o lançamento, em 1884, por Carbutt da película fotográfica, cujos rolos tomam a forma actual, em 1891, com Estman-kodak, entre muitos outros.
Mas, se fica assim esboçada a evolução da técnica normal da fotografia, segundo a qual se obtém uma imagem monocromática, não podemos concluir, sem fazer alusão a que a fotografia pode registar também, a cor e o relevo, sem falar já no movimento e no som.
Sobre a fotografia a cores, a sua descoberta deu-se também no século passado fruto do trabalho de vários investigadores que tem trabalhado em caminhos diferentes, sendo o caminho da fotografia trícroma, cujo princípio se deve a Ducos de Hauron e data de 1876, e se baseia no uso da tricromia e suas variantes, os métodos que se usam actualmente.
(1) Vicente A Pedro – Carlos Relvas. Fotógrafo. Contribuição para a História de fotografia em Portugal no séc. XIX. Colecção Arte e Artistas, Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1984, p. 78.
Boletim Cultural de Vale de Cambra, N. 1 – 1997, pág. 60