O Lau das Figueiras

Nicolau de seu nome, mas que todos conheciam por Lau das Figueiras.

Tendo sido em tempos idos, carpinteiro de algum renome, nos seus últimos anos de vida e sem ordenado certo, vivia sobretudo de pequenos biscates.

O pouco dinheiro que angariava, dava-lhe para os cigarros, copos de tinto e alguns bagaços com que por vezes disfarçavam, a paupérrima forma de vida.

De ouvido duro, o que era motivo de alguma desconfiança.

Usava como todos os homens de idade, chapéu, gasto e com as marcas do tempo, indumentária pobre e gasta, remendada por vezes.

No Inverno, uma velha samarra ou um sobretudo descolorido e gasto pelos anos, eram companhias inseparáveis.

As chancas soladas e aparelhadas por si, faziam parte dos agasalhos.

Como gostava de beber uns copos, o povo comentava que a esposa o tinha abandonado por esse motivo, nunca o saberei ao certo.

O que se sabia e ele não fazia intenção, de esconder de ninguém, é que pernoitava num palheiro, que ainda existe no Lugar do Aido-de– Baixo, um pouco acima do caminho que dá acesso á casa do Tio Samuel da “Filomena”.

Alguns adultos e por esse motivo, também as crianças, por vezes abusavam da sua condição de homem simples, chateando-o ao ponto de, em algumas ocasiões, o guarda-chuva, ou alguma ferramenta que tivesse á mão, serviam para nos chegar a roupa ao pelo.

A última imagem que guardo dele.
Estava eu, no já desaparecido Café Central, no Lugar do Pinheiro Manso, quando os representantes da Junta de Freguesia, vieram para se proceder ao recenseamento eleitoral, como o senhor Nicolau não sabia ler nem escrever, notando eu a sua atrapalhação, perante o impresso que tinha em mãos, perguntei-lhe se queria que lhe preenchesse o dito documento. Que sim senhor, que me ficaria muito agradecido pelo grande favor.

Por fim, queria que eu, à viva força, tomasse uma qualquer bebida, o que como é óbvio recusei.

O seu rosto de satisfação e alegria, por ver resolvido um problema, que o estava deveras a atormentar, essa imagem, jamais esquecerei.

Será que em Coelhosa, alguém saberá onde é o local da última morada do velho “Lau”?
Eu não sei!