por Augusto Soares da Carvalhalva
O grilo Gri-gri andava cá fora a tratar do seu jantarinho, eram umas quatro da tarde de hoje.
De repente começou a chuviscar, ele ainda de estômago pouco mais que vazio.
Hesitou uns momentos, olhou para cima e logo adivinhou que os chuviscos não eram coisa passageira, pela neblina fechada que tudo cobria, a coisa era p’ra toda a noite.
– Bolas, r’ais parta, lá se vai o jantarinho, e a barriga a dar horas – murmurou o Gri-gri.
Abrigado debaixo da folhita de Carvalho que fazia de ponte sobre o carreiro por onde tinha chegado, arrepanhou à pressa três raminhos de, … nem sabia de quê, meteu-as debaixo do braço e “ala que se faz tarde”, já a montante do carreiro um fiozão de água da chuva surgia ameaçador.
E eu, o fotógrafo da natureza que por ali sempre ando a policiar tudo, mal tive tempo de fazer a foto do grilito no preciso momento em que ele entrava em casa, esbaforido e com as patitas e as asas encharcadinhas de todo …, que as enchentes nos carreiros dos grilos são sempre rápidas e traiçoeiras.
Mas tudo acabou bem, … a casa do Gri-gri para além de linda, pindadinha em tons de violeta com traves em côr de laranja, era muito segura.
Ao cimo da subida de acesso ao patim de entrada em casa, embora ainda umas gotas de chuva lhe chapiscassem as costas, sacudiu-se bem, passou as mãos a retirar a humidade dos bigodes, alisou as asas com as patas de trás, segurou firme os ramitos que tinha trazido para o jantar … – olha, afinal eram de erva doce, sorte a minha que gosto de doçuras – e zás, porta adentro, antes que o tempo piore, empurrado por um repentino vento fresco lhe arrepiou os seus sedosos cabelos pretos.
Esta é uma história para o meu neto mais novo e para todos os meninos da idade dele.