Ferreira de Castro e Vale de Cambra

Ferreira de Castro

Leitura cómoda

por Ferreira de CASTRO

A estrada, muito bela na maior parte do seu trajecto, sai da pequena praça triangular, fronteira à Câmara Municipal de O. de Azeméis, onde liga com a n.º 10-1.ª, de Lisboa ao Porto; corta a praça maior, toda galante e airosa, com o seu ajardinamento novo, e mete à longa rua que termina no velho Teatro Oliveirense.

Os prédios começam a rarear. Atravessamos Cidacos, «lugar honrado», afirmava-se num livro de inquirições do tempo de D. Dinis… A vila finda.

Vê-se já, em frente, o dorso das primeiras serranias. As árvores, sobretudo o pinheiro, serão, por toda a parte, os infindos espectadores da viagem.

Descemos aos lacetes. À direita, abre-se um formoso vale, cheio de vegetação.

É Vilar e as encostas de Macinhata da Seixa.

As serras com seu arvoredo e verdes socalcos, formam um cenário empolgante.

À esq., vê-se uma minúscula construção circular: ela alimenta de água o monte de La Salette que nos está sobranceiro, esforço e orgulho dos oliveirenses, que venceram, tornando-o viridente, o morro outrora bravo e sedento.

Daqui em diante, a estrada, curva sobre curva, adquire a sua maior beleza,uma beleza lírica, íntima, cheia de recantos idílicos, pois carvalhos, sobreiros e pinheiros lutam em competência ornamental.

Estamos já no condado do (1,5 Km) Covo, com sua mata comprida de quilómetros, que desce as declividades desta encosta, refresca as raízes no riozito que passa lá ao fundo e, depois, subindo, cobre toda a serra de em frente, vence os seus cumes e espalha-se, ainda, para a outra banda.

Termina o túnel de folhagem e, numa volta, dominando a estr., ergue-se um aglomerado de edifícios – um casarão, uma capela, outras dependências, tudo com ar vetusto e um certo abandono poético.

São as moradias dos condes do Covo, «senhores de honra de Cesár e Gaiate», aos quais Camilo se refere num dos seus livros.

Não há nenhum primor arquitectónico, nenhuma obra de arte à vista; mas a paisagem, emoldurada em colinas, mostra uma austera beleza.

Por detrás destas edificações do Covo encontra-se a primeira fábrica de vidros que houve em Portugal.

Já existia aqui no séc. XV e quando, mais tarde, surgiu uma fábrica concorrente no sul do País, o rei concedeu à do Covo o exclusivo da venda de objectos de vidro, desde o Mondego ao Minho.

No séc. XVI, D. Sebastião dava novo privilégio. Em benefício do industrial do Covo ninguém podia assentar outra fábrica desde a vila de Coruche à fronteira com a Galiza; caso contrário, o forno ilegal seria destruído e o seu proprietário indemnizaria o fabricante do Covo com 200 cruzados. 

Se o consumo fosse inferior à produção, a fábrica podia deixar de laborar um ou dois anos; mas devia ter reservas para, durante esse período, abastecer o mercado.

A existência desta fábrica em sítio ainda hoje quase despovoado, justificava-se, talvez, pela abundância de lenha e argila própria no local e, ainda, por se encontrar facilmente quartzo a 2 Km apenas de distância, na aldeia de Vermoim, que iremos atravessar.

Agora, a estr. corre entre oliveiras e sobreiros, ladeia alguns campos, passa de fronte de pobres casebres perdidos na solidão e, além, galga o pequeno rio Insua, murmurante de amieiros.

Começa a subida da mata. Na Primavera, os medronheiros em flor espreitam os transeuntes e o verde tenro do carvalhedo contrasta com o verdor escuro do enorme pinhal.

Quase ao fim da ingremidade, à esq., uma E. M. dá acesso a Pinhão, lugar lavado de sol, que vive sobre um cocoruto, aqui pertinho.

A vegetação prossegue vigorosa: à beira da estr., carvalhos vestidos de líquenes; nas encostas, os pinheiros cobrem todas as dobras do terreno. Cerra-se mais o horizonte.

Continuando, porém, a subir, em breve se atinge o dorso da serra, fim do condado e princípio da freg. de Ossela. Desce-se, agora.

Dum lado e de outro ostenta-se o casario da ald. de Vermoim. A terra humilde e bela começa a ter história.

Ossela, segundo Pinho Leal, é um dos mais antigos povoados do País. Já acendia o seu lume antes da fundação de Portugal.

Já era paróquia no tempo dos Godos. Teve o seu crasto e viu travarem-se, nos seus vales, ásperas batalhas.

Uma, de Lusitanos contra Romanos, tão dura teria sido, afirmam vários cronistas, que as veigas e encostas ficaram cheias de cadáveres, mais tarde de esqueletos expostos ao sol, tantos, tantos, que a esse ossuário descoberto deveria Ossela o seu nome.

Querem ainda outros pesquisadores que a freguesia de agora fosse, outrora, uma cidade, Ossa chamada, que os gregos fundaram em 1304 a. C.

Posteriormente, no séc X da nossa era, Ordonho II, rei de Leão, doava o padroado de S. Pelágio de Ossela ao mosteiro de Castromide.

Rija batalha se teria realizado aqui pouco depois, isto é, no ano 996, quando reinava D. Bermudo II, o Gotoso.

Dum lado, os Mouros, capitaneados pelo grande Almançor; do outro, os Cristãos, fortes nesta mesma aldeia de Vermoim que atravessamos agora e chefiados pelo progenitor dos condes da Feira, D. Froilaz Vermuiz, que ao lugar teria deixado o seu próprio nome.

Claro, tão longa jornada no tempo não a pode fazer, incólume, a verdade; e latem de chegar até nós, fatalmente como toda a verdade histórica velha de séculos, com mutilações e deformações, inchada duma banda e mirrada da outra.

De tão vasto passado além das sepulturas dum crasto, pouco mais existe que se saiba.

A maioria dos actuais habitantes ignora mesmo o que a sua freguesia foi outrora.

Gente boa e simples, que se levanta com o sol-nado e se deita com o solposto, ela trocou as armas guerreiras dos antepassados pela enxada com que amanha, infatigavelmente, a terra nativa.

A estrada salta um ribeiro, um velho chafariz mais além e principia a subir de novo, pinhal em fora.

Lá em cima, alguns casebres entre o arvoredo. É Sobradelo.

Outra curva, em ascensão, logo duas casas e um ramal à direita.

Este braço da estrada dá para Santo António de Ossela, a 1 km de distância, por uma galeria de pinheiros.

Santo António é o centro oficial da freguesia: ali está a escola, a igreja e o cemitério.

Neste repousa a malograda escritora Diana de Liz, nascida em Évora, que morreu na juventude, autora dos livros «Pedras falsas» e «Memórias duma mulher da época», publicados postumamente.

O sítio, mui romântico, espairece num promontório que domina o vale. Uma avenida de tílias desce para a velha capela de Santo António, donde se vislumbram as terras do Caima, as casitas dispersas na encosta fronteira e, lá em cima, na serra da Felgueira, o templo branco da Senhora da Saúde, afamado desde as regiões da beira-mar às montanhas de Arouca.

É aqui, no pinhal à direita da capela de Santo António, que começa o nosso romance «Emigrantes».

Voltando à estr. deixada há pouco, entramos no lugar dos Salgueiros.

Dele se obtém o melhor panorama do vale de Ossela.

Foi nesta longa bacia, que a serra de Felgueira fecha, como uma muralha imponente, que se teriam realizado algumas das batalhas a que já nos referimos.

Foi nela, também, que se encontrou, trazida de Cambra, uma lápide romana, cuja inscrição Faria e Sousa traduz, assim, na sua «Europa Portuguesa»:

«As coortes e companhias da legião décima, chamada fretense, que se alojavam e presidiam em Vouga, Ossela, Lanco, Cale e Émínium oferecem espectáculos e jogos de gladiadores ao imperador César, Divo Augusto, contado no número dos deuses: e estas cidades da Lusitânia fizeram o dispêndio e diversas hecatombes».

O vale de Ossela, visto dos Salgueiros

Cortado pelo rio Caima, debruado de amieiros e de salgueiros, o Vale de Ossela é uma série de rincões edénicos, onde a Natureza veste as suas melhores galas, despretensiosamente, como se o fizesse por simples hábito…

Torna-se, porém, necessário trilhar ínvios caminhos para surpreender todo o encanto da terra doce, que parece contemplar-nos com uma meiguice sonhadora, numa ternura que não se esquece.

Lá no fundo do vale, já nas faldas da serra, divisa-se «a igreja velha», o Mosteiro, presumível lugar, outrora, de anacoretas contemplativos.

O velho templo, levantado sobre as ruínas de outro, carece de valor artístico; mas numa das paredes mostra curiosa lápide fúnebre:

João L. C.º Buel, cavaleiro, instituiu capela nesta igreja onde tinha seu muimento levantado na era de 1410.

Por não bastarem os bens que dele ficaram, se dizem somente 220 missas…

Deixando a parte sobranceira ao Vale de Ossela, a estr. apresenta, entre grandes sobreiros, um dos seus mais lindos trechos, que finda no pontão onde, a 7,5 km de Oliveira de Azeméis, a Junta Autónoma das Estradas colocou uma placa com o nome de «Rio Salgueiros».

Não merece tão pomposo título, nem muito menos, o humílimo fio de água que passa, marulhando de pedra em pedra, dia e noite, sob a ponte; mas o sítio é belo, austero duma parte, suavemente melancólico da outra, e propício à meditação.

Agora, nova subida, novas curvas; pinhal, apenas pinhal, o menos interessante da viagem.

Ao cimo da encosta, termina o conc. de Oliveira de Azeméis e começa o de Vale de Cambra.

Em frente, está o lugar das (8,5 km) Baralhas; à esquerda, um ramal da estrada para a aldeia das Cavadas; à direita sinuosa vereda.

Por esse carreiro, mau grado a sua rudeza, deve seguir, preferivelmente acompanhado por alguém das Baralhas, quem quiser pôr-se em contacto com o passado desta região, pois foi no monte próximo que existiu o crasto de Ossela.

Entre pinheiros e bravos penedais anda-se algumas centenas de metros.

Na colina, antigamente cheia de lares, de muralhas e de armas bélicas, há agora, apenas pinheiros, tojo e soledade.

Olha-se para as rochas, tão trilhadas outrora, em busca duma pegada impossível, e só se vêem indolentes sardões expondo ao sol os seus verdes e os seus oiros.

Mas este próprio abandono, este próprio silêncio da terra de onde a vida humana desaparece, torna mais sugestiva, mais profunda, a áspera paisagem.

Chega-se, enfim, ao topo do outeiro. Há lá uma ermida, debaixo da qual o povo crê existirem fantásticos tesouros, e um pequeno adro.

Há isto e o mesmo silêncio de há pouco, a mesma solidão.

Em baixo, corre o Caima, entre escuros fraguedos.

[O Museu Mun. do Porto mandou fazer escavações neste cerro, em 1908. As picaretas trabalharam dias seguidos, sob os olhos do poviléu que acudia em massa, julgando tratar-se de busca de fabulosos tesouros. Anos antes, nas Baralhas, aqui perto, um sapateiro encontrara, ao abrir os alicerces para um muro, 16 manilhasde oiro, trabalho pré-romano, que lhe valeram uma pequena fortuna e deram brado entre os arqueólogos. O crasto de Ossela reservava, porém, surpresas de outra ordem. 

Levantadas as primeiras camadas de terra, em breve se mostravam, aos olhos dos escavadores, várias sepulturas feitas de lajes, numa das quais se ostentava, ainda, um crânio. 

Mais fundo, havia ruínas de edifícios antiquíssimos e, ainda mais abaixo, vestígios de muralhas mais remotas ainda. 

Moedas de outrora, romanas e lusitanas, fragmentos de cerâmicas de várias épocas, fíbulas, pedaços de vidro e bronze, outros destroços jaziam na terra. 

Pelo que se descobriu, conclui-se que o morro era estação pré-romana. 

Quando fortificado, devia ter tido duas ou três ordens de muralhas e, dentro, as casas dos habitantes. Mais tarde, os Romanos apossaram-se da colina. 

«Efectuada a conquista - diz Rocha Peixoto, então conservador do Museu Municipal do Porto, que ordenou as pesquisas - sobrevivera a residência, como o comprovam alguns restos de loiça do tipo de Arezzo; e, por ventura, dilatou-se por muito tempo, extinguiu-se numa época histórica já adiantada e, finalmente, transmudou-se numa vasta necrópole cristã, a seu turno também apagada da memória dos homens».

Depois destas escavações, a terra, que não foi toda explorada, voltou a fechar-se, e assim se encontra, raza sobre as suas velhas lajes, até que um dia outras picaretas venham procurar, nos declives do morro, o mais que ele guarda ainda no seu silêncio e neste abandono a que a branca ermida parece fazer sentinela].

De regresso à estrada, vê-se, logo adiante das Baralhas, um panorama surpreendente.

É o vale de Cambra. Quase ignorado até há pouco, a sua beleza ganha, dia a dia, maior renome.

Cercado de montanhas de formas extravagantes, não é fácil descortinar em Portugal outro mais grandioso e espectacular. Quase não tem planos.

A vista desce para a imensa cavidade onde refulgem o Caima e o Vigues; erra entre os campos agricultados e, depois, encontra, lá longe, o contraforte das serranias, onde branquejam dispersas aldeias, humildes casitas.

A terra é verde e o céu é azul; é tudo verde a azul com raras pintas brancas do casaredo, que mais do que moradias dos homens parecem janelas da própria paisagem.

Ao crepúsculo, porém, o enorme vale sofre metamorfose, torna-se polícromo – e as suas cores separam-se aqui, muito nítidas, e dissolvem-se e confundem-se além, num encanto visual indescritível.

Nas noites de luar, quando o grande balão de oiro surge na lomba das montanhas, o vale enche-se de magia, dum sortilégio que paira desde os píncaros longínquos às águas sussurrantes do Caima.

O espectáculo imponente pode-se contemplar da estr., onde existe um miradoiro próprio.

E pode sê-lo também da Quinta da Bela Vista, proeminência onde um homem de bom gosto, o sr. António Tavares da Fonseca, funcionário público no Porto, mandou edificar uma casa cujas portas se abrem, gentilmente, aos forasteiros que desejem admirar dos seus terraços, erguidos em sítio eleito, este panorama excelso.

A estrada desce, depois faz algumas curvas e entra em Pinheiro Manso, burgo mui asseado e muito branco, já com seus ares de urbanismo e de modernidade.

Estamos no mundo da manteiga, na região de lacticínios mais importante de Portugal.

O leite vem quase todo das serras, como as águas que irrigam o vale, e, transformado aqui, corre o País inteiro.

Em Pinheiro Manso pode-se tomar, à dir., o ramal de estrada que vai para (2 km, SE.) Castelões e Senhora da Saúde.

Atravessa-se Coelhosa, com a sua capela, suas residências silenciosas, mui diferentes das que existem nas outras aldeias da região; cortam-se vários campos do vale, passa-se cerca da junção do Vigues e do Caima, sítio pitoresco, Entre-Pontes chamado, e, finalmente, atinge-se Castelões.

Velha freguesia, com algumas vetustas moradias, o seu cemitério e a sua igreja (constr. em 1899), postos em sítio airoso, dão uma sugestão romântica, melancólica embora, a quem arriba.

Mas não é a ideia da morte que nos sai ao caminho e sim uma ideia de comunhão ilimitada e eterna com a Natureza bela que nos cerca, com o sol que prateia as vinhas e os pinhais, os jardins e as vertentes.

Estamos já ao pé da serra de Castelões, que se levanta por detrás da freguesia e fecha o majestoso Vale de Cambra.

No pico da serra, a 763 m de alt., ergue-se a Senhora da Saúde, ermida até há pouco, recentemente templo maior, acompanhado por um albergue.

Para a festa que em sua honra se celebra todos os anos, começam a passar aqui, na madrugada de 14 de Agosto, verdadeiras multidões.

Vem gente da beira-mar, a muitas léguas de lonjura, vem gente de todos os concelhos próximos, das montanhas vizinhas e das montanhas distantes – e até das bandas do Porto e de Coimbra.

Desde as regiões vareiras às regiões de Arouca, não há estrada nem sinuoso atalho onde neste dia não se projecte a sombra dos romeiros a caminho da Senhora da Saúde.

Empregam todos os veículos: a tartana remota, que se julga tirada de museu, a diligência de há trinta anos, carroças, tipóias, carros de bois engalanados, camionetas e automóveis.

A maioria vai a pé nu que a festa nasceu humilde como a ermida primitiva e é, sobretudo, para gente de pé descalço.

Lá vão elas com os pés grandes sobre o pó dos caminhos, a saia nova a bater-lhes na barriga das pernas; nas orelhas as arrecada se, sobre a cabeça, um cesto com o farnel. Ao lado, vão eles.

Como ganham mais dinheiro do que elas, compraram sapatos para este dia; levam cavaquinhos, harmónicas, violas e, desde madrugada alta, começam a cantar por todos os caminhos.

Chegados à ermida, não entram, pois já a viram da primeira vez que ali vieram e a festa é mais pagã do que outra coisa.

O píncaro está cheio de bandeirolas, de vendedores de quinquilharias coloridas, de frutas estivais, de chitas das mulheres; não há maior cromatismo em parte alguma, nem bulício maior.

Eles e elas pousam o farnel debaixo de velho carvalho, na vizinhança dum carro de bois com uma pipa de vinho em cima, e logo desatam a bailar, não acompanhando a música da filarmónica de Cambra e sim a dos milhares de instrumentos populares que os romeiros levam.

Bailam, cantam, suam e comem durante o dia inteiro.

À noitinha, as chitas das raparigas, depois do sol e do suor, desbotaram levemente; mas eles e elas compram plumas tingidas e estampas polícromas da santa; colocam-nas no peito e no chapéu e, assim adornados, iniciam a descida da serra, sempre a cantar e a bailar, enquanto outros, dispondo de maiores ócios, ficam, durante a noite, a fazer a mesma coisa no arraial.

E cantando aqui, parando ali para o bailarico, cobrem léguas e léguas, até que a voz do oceano, lá para as praias de Ovar, se sobreponha à voz deles e delas ou o silêncio das montanhas arouquesas lhes lembre que chegaram a casa – às preocupações da vida, ao árduo trabalho pelo pão de cada dia.

A estrada, ainda em construção, que parte de Castelões para a Senhora da Saúde, oferece, por enquanto, penoso trânsito aos veículos; mas, em automóvel, em carro de bois, a cavalo ou a pé, a vista que lá de cima se obtém justifica o sacrifício da ascensão.

Uma hora, para quem vai sem outro auxílio que o das pernas, bastará.

A via ladeia despenhadeiros imponentes e está cheia de múrmuras fontes, que amenizam a subida.

Passa-se por algumas aldeias serranas e, por fim, entra-se no planalto onde se ergue o templo.

Agora, não há muralhas a cortar o voo dos olhos; as montanhas estão à nossa altura ou abaixo de nós.

As suas próprias cristas, atormentadas e de milhentos relevos, de milhentas formas diferentes, constituem um maravilhoso espectáculo.

O **panorama é vastíssimo. Só termina onde o olhar já não alcança mais, onde o olhar confunde tudo.

Dum lado, o vale de Cambra, em frente o vale de Ossela, com a sua igreja a surgir dos pinhais; lá muito longe, o mar, barra azul a ligar-se ao céu; à esquerda o vale de Lafões e outros vales, outras aldeias, outras montanhas. É a paz das alturas.

Uma superação da terra baixa e uma superação do espírito. Uma festa visual que não se olvida mais.

Regressando a Castelões, encontramos duas estradas para a sede do concelho: uma, directa; a outra, a que já fizemos referência, dando volta pelo Pinheiro Manso.

A primeira atravessa, em leve ascensão, um bom trecho do vale; pela segunda retomamos a estrada de Oliveira de Azeméis a Cambra.

Meio quilómetro além do Pinheiro Manso, após breve descida entre velho pinhal, abre-se, à nossa esq., outra estrada.

Deita a Carregosa, onde há um santuário, a Pindelo e Azeméis e, em breve, deve bifurcar para S. João da Madeira.

Na nossa frente, agora, a estr. que vamos seguindo principia a subir.

Atravessamos a ponte sobre o rio Vigues (38 m), passamos por um ramal que vai para a Guincheira, aldeia próxima, e duas centenas de metros acima encontramos Gandra de Cambra, actual sede do conc. que usa hoje, designamos a parte pelo todo, o nome de Vale de Cambra.

Cronologia