É uma realidade bem evidente, os médicos, normalmente, têm uma acentuada tendência para a escrita, para as artes e para a cultura em geral: Abel Salazar, Miguel Torga, e Fernando Namora, no seu tempo, eram médicos e foram grandes escritores, tal como hoje o é Lobo Antunes, que também já exerceu a medicina.
Nas artes, entre vários, podem-se destacar, Abel Salazar, uma figura eminente da medicina e da cultura portuguesa, Celestino Gomes e Mário Botas.
E a atestar que a arte toca muito de perto os médicos, a Ordem dos Médicos, através das suas diversas delegações regionais, promove regularmente exposições de médicos artistas.
No ano em curso, em Viana, a OM quase só vai fazer exposições com médicos, em várias especialidades artísticas.
E foi aqui que, no sábado passado, dia 01, mais uma mostra foi inaugurada, desta vez com Adão Cruz, um médico cardiologista, com um longo percurso ligado às artes e à escrita, com inúmeras exposições realizadas, particularmente em Portugal e Espanha, representado em oito países, com 12 livros publicados, na área da literatura e da pintura. Segunda afirma, pinta e escreve com a mesma paixão com que exerceu a medicina, que ainda hoje pratica de forma voluntária, apesar de dez bem sentidas décadas de vida.
Como a justificar o seu percurso pelos caminhos da arte diz “que sempre amou a liberdade de pensamento e da razão, a verdadeira riqueza do ser humano e que foi com este amor que sempre sonhou libertar-se ao longo da vida, também pelos caminhos da ciência, da escrita e da pintura”.
Adão cruz apresenta 22 quadros com pintura em acrílico, com laivos expressionistas, predominância de cores quentes e onde perpassa, em muitos deles, uma acentuada crítica social.
Diz que nem sequer gosta de atribuir títulos para os seus quadros, com a preocupação de que seja o observador a interpretar o que passou para a tela.
Atribuir nomes aos quadros pode não se conjugar com a visão de quem os aprecia, afirma. Presente na cerimónia, Emerenciano, um pintor de referência no contexto da arte em Portugal, salientou o facto de Adão Cruz, apesar de não ser um pintor de escola, ter feito uma carreira de permanente aprendizagem na pintura, sempre com a preocupação de ver para além da estética em cada quadro que produz.
A exposição vai estar patente até a o dia 30 do corrente mês na Galeria da Ordem dos Médicos, sita na Rua da Bandeira, 472, aberta ao público às terças e quintas-feiras, das 17, 30 às 19, 30 horas e aos sábados, das 9,00 às 13,00 horas.
Gonçalo Fagundes Meira