Margarida Negrais

Margarida Negrais, natural de Vale de Cambra, licenciou-se em Filologia Românica, e foi professora do ensino secundário, tendo estado ligada à actividade de formação de professores na área da disciplina de Português.

Exerceu funções docentes no Colégio Luso-Francês e dedicou-se igualmente a trabalhos de tradução para o JN.

Após a aposentação, publicou dois livros na área da literatura infantojuvenil e infantil. “História de bichos” (Campo das Letras) e “Mig, a formiga comodista” (Letras e Coisas), tendo ainda participado no livro “Contos do Vale“, editado pelo município de Vale de Cambra, bem como uma participação no livro “Sem segredos“, citado pelo Hospital Veterinário Montenegro, do Porto.

Em 2012, publicou, em coautoria com o Professor Doutor Levi Guerra, “O Rim Artificial – Uma História de Afetos“.

É docente de Duas Unidades Culturais no Instituto Cultural D. António Ferreira Gomes, naquela cidade, em particular da Unidade de Escrita Criativa.

A obra mais recente é A Gramática das Imagens.

A gramática das imagens

Esta obra comporta uma série de poemas autobiográficos, que percorrem a vida da autora.

Tem prefácio de José Carlos Seabra Pereira. Os testemunhos poéticos são coadjuvados por uma leque de pinturas de José Emídio (1) e de Levi Guerra (7).

Histórias de Bichos

Por que motivo nos encantam os animais quando deles fazemos personagens humanas? Não sabemos.

Todavia, desde sempre a língua realizou o milagre do faz-de-conta, da criação de mundos alternativos àquele onde vivemos: sem esquinas, mais suaves, mais empolgantes, mais apetecidos para aí vivermos o que no mundo real já se torna impossível…

Por isso a fábula é tão apreciada por crianças e adultos e por isso as histórias de bichos nos prendem e encantam. (…)

Se outra descoberta não tivesse realizado nessa leitura primeira, cujo privilégio me foi dado pela Dr.ª Margarida Negrais, esta me bastaria: saber existirem ainda mestres para quem o fazer escritas é a melhor forma de ensinar a escrever.

Para quem, na peugada de Voltaire, a melhor forma de transmitir ideias e formar homens é contar-lhes Histórias de Bichos.

Mig a formiga

Mig, a formiga comodista é um pequeno livro que se destina a crianças mas em que os adultos podem perceber perfis humanos.

Nele, uma formiga macho preguiçosa, comodista, fechada sobre si, desconhecedora de tudo, mesmo das redondezas circundantes à lura onde se refugiava e, naturalmente por isso, nada sociável, é metáfora de traços comuns a certas pessoas.

A fábula pretende, na alegoria contida, mostrar, na imprevisibilidade da vida, como aparecem caminhos de regeneração, tal como aconteceu a Mig…

Como se diz no prefácio feito à obra pelo Doutor Levi Guerra, nela se descobrem, subentendidos e encriptados, vários perfis comportamentais, além do da Mig, e como, sobretudo Ela, foi forçada a reagir, regenerando-se pelas exigências que a vida lhe trouxe.

No fundo, é mostrar como os erros na vida, pela própria vida se emendam.

Ora, foi esta possibilidade de dois níveis de leitura do texto que fez com que as ilustrações do pintor José Emídio nos revelem as formigas figuradas num antropomorfismo original e pleno de expressividade.

Afinal, uma combinação simbiótica e paralela de comportamentos animais e humanos.

O VALE, UM BEM DE RAÍZ: Livro sobre a história dos laticínios

O Vale

 O VALE, UM BEM DE RAÍZ, tem autoria de Margarida Negrais, em co-autoria com Rui Leite.

A apresentação pública ficou a cargo de duas eminentes figuras públicas da atualidade nacional: o Comendador Engenheiro Ilídio Pinho, Doutor “Honoris causa” pela Universidade de Aveiro, e o médico patologista, eleito entre os pares, em 2015, como o mais influente do mundo, Professor Catedrático Emérito da FMUP, Doutor Sobrinho Simões, fundador e Diretor do IPATIMUP.

A  moderação coube ao Professor Doutor Levi Guerra.

Margarida Negrais

Porque relembrar o que é dádiva nunca é de mais, republico o texto que segue.

Acabo de ler um excelente livro, “Luzia, da Humildade à Benemerência”, de homenagem a uma mulher de alma e coração grande, que, no final do século dezanove, e início do século vinte, se notabilizou na cidade do Porto pela sua entrega à generosidade e à benemerência, Luzia Joaquina Bruce.

Em tempos tão desumanizados como os que correm, em que reconhecer e louvar o valor de outros pelo seu mérito humano é quase raridade, é um alívio de alma tomar conhecimento de que ainda há gestos e atitudes louváveis de quem, 100 anos depois da morte da pessoa em causa, no caso de Luzia, feitos em 2017, soube não esquecer, fazendo em sua memória nascer este livro maravilhoso.

Por tal, a minha vénia à Santa Casa da Misericórdia do Porto, e o meu muito obrigado à autora do livro, Margarida Negrais, uma minha ilustre conterrânea, que numa linda e romanceada escrita, perfeitamente adaptada à época de então, nos coloca vivendo aqueles anos de Luzia, tal como às circunstâncias históricas em que ocorreram, fim da monarquia e implantação da república.

Bem hajam os que dão de si.

Margarida Negrais

O rim artificial

O Rim Artificial. Uma história de afetos foi apresentado no auditório da Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos.

A obra, com intenções pedagógicas, estabelece um diálogo entre uma máquina de diálise humanizada e uma criança que sofre de doença renal crónica.

A autoria é repartida a três mãos, entre a escritora Margarida Negrais, o médico nefrologista Levi Guerra e o ilustrador José Emídio.

por Nelson Soares

Diz Miguel Guimarães:
“As crianças, mas também os adultos vão deliciar-se com esta história que tem um claro sentido pedagógico e informativo.

Combina uma escrita agradável, com o rigor científico do Prof. Levi Guerra e umas ilustrações absolutamente geniais”, considerou.

Convidado a apresentar a história de “O Rim Artificial (…), o reitor da Universidade Fernando Pessoa, Salvato Trigo, avaliou a obra como uma realização da “função poética da linguagem”, recordando que a autora fundou “a fábula do livro na memória do
sofrimento de uma antiga aluna, doente crónica renal, que lhe relatava as apreensões e o cansaço da hemodiálise até ao transplante”.

A narrativa, assente num diálogo improvável entre a máquina Rute e o menino Roque, recordou ao linguista a proverbial interacção entre o homem e a máquina e o tempo que vivemos em que “a tecnologia aposta em substituir-se ao animus, à fonte de vida que nos dá alma”.

“Não vale a pena pensar numa civilização das máquinas, porque sem homens não há civitas, não há vida e não há civilização”, constatou.

Para Salvato Trigo o texto é, simultaneamente, uma homenagem “ao triunfo da ciência”, da “ética na investigação e na Medicina” e “um tributo merecidíssimo ao Prof. Levi Guerra”, “pedagogo e investigador da clínica assente na solidariedade com a dor alheia”.

O aspecto científico do livro foi acentuado com a presença do nefrologista João Frazão. O médico elogiou “a clareza, simplicidade e rigor” das explicações contidas na história e antecipou um bom resultado pedagógico: “não tenho dúvida que esta obra vai ajudar muitos dos nossos doentes a perceberem melhor a sua doença e penso que pode alterar a sua relação emocional com o tratamento e a própria máquina de diálise”.

“O Rim Artificial (…)” tem uma forte componente visual traduzida pelo trabalho de José Emídio.

As suas ilustrações, reveladas no hall de entrada do auditório da SRNOM, foram, na opinião do director da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, concretizadas “num ritmo quase alucinante”, dada a “elevada densidade de imagens” presentes.

Francisco Laranjo sublinhou ainda a forte “identidade cromática” apresentada e o “balanço quase metafórico entre o azul, uma cor fria, e o vermelho, uma cor quente”.

AJUDAR A LIDAR COM A DOENÇA

Após a análise textual, científica e visual da obra, foi a vez dos autores partilharem uma visão mais pessoal e relatarem alguns dos aspectos que estiveram na sua génese.

Margarida Negrais lembrou que a ideia deste livro nasceu a partir de um acto de voluntariado no Hospital Maria Pia, onde contactou com muitas crianças insuficientes renais.

“A semente foi germinando e culminou neste desafio”, acrescentou. A autora expressou o desejo de que a obra “seja um apoio a todos os que lidam diariamente com esta doença”.

Levi Guerra dedicou a obra à família e “também à nefrologia portuguesa”, bem como aos médicos e enfermeiros que o acompanharam ao longo da vida.

Passando em revista a sua participação na construção da narrativa, o autor assegurou que a ideia inicial era “contribuir para uma referência à origem da diálise “e fazer com que “só o essencial fosse escrito, mantendo o rigor e o estilo da escritora”.

“O Rim Artificial (…)” confunde-se com o percurso profissional de Levi Guerra, desde que, recordou, tomou contacto pela primeira vez com a hemodiálise em Paris. Toda a sua vivência clínica, observou, foi partilhada com Margarida Negrais, “dando-lhe a laboriosa tarefa de a integrar no texto”.

O “mestre” José Emídio, por fim, lembrou num tom bem-humorado as dificuldades porque passou ao tentar ilustrar “uma máquina a falar”.

“Foi um desafio”, confessou, acrescentando ter-se inspirado noutro grande artista plástico para o concretizar.

“Aprendemos muito com os nossos mestres e se há pessoa que domina bem a transposição entre figuras e formas é o escultor José Rodrigues. Fica aqui a minha homenagem”, referiu.

O ilustrador deixou um novo desafio “a três” para o final: “quero ver a obra poética da Margarida [Negrais] editada e gostaria de participar nesse projecto.

Só temos de perceber como vamos enquadrar o Prof. Levi Guerra”.

A apresentação do livro ficou concluída com uma breve intervenção do director da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, Agostinho Marques, que justificou a sua presença pelo facto de ser “a escola do Prof. Levi Guerra”.

Somos uma escola de ciência e de pessoas, também. Temos produzido grandes vultos da cultura e das artes, como Júlio
Dinis, Abel Salazar e Pinto Machado. O Prof. Levi Guerra integra esse lote com todo o mérito”, salientou o responsável.

nortemédico
Revista da Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos

Os Lusíadas

A coordenação literária deste livro é de José Carlos Seabra Pereira e Margarida Negrais (ver aqui)