Exposição – Alberto Bastos, uma figura ímpar do desporto e da cultura cambrenses.
Esteve patente, na Biblioteca Municipal de Vale de Cambra, esta exposição que aqui se regista para conhecimento de todos os que não a puderam visitar.
Fotografia enviada a seu pai que se encontrava emigrado na América do Sul com o seguinte texto, manuscrito redigido pelo seu punho: “Ao meu querido pai / com todo o afecto / uma recordação da Queima das / Fitas no dia 30 de Abril de 1969. / Seu filho muito amigo / Alberto Tavares de Bastos / 23/08/69”.
Crescer
Eu não quero crescer.
Assim quero permanecer,
Mas todos à minha volta o estão a fazer
Fisicamente ou mentalmente
Já não está ninguém no meu presente…
O mundo lá fora é assustador!
Tenho medo que me faças sentir dor.
Eles dão um passo para o futuro
Eu dou um passo para o passado.
Aqui quero ficar
Pois tenho medo de avançar.
O amanhã não precisa de vir
Para quê ir para o futuro
Para o desconhecido para o inesperado
E se não percorrer o caminho
Que me era esperado?
E se ficar perdido ou especado,
Sem ninguém ao meu lado?
Sou o Peter Pan desta dimensão
Para “Neverland” quero ir então.
Não quero ser velho, não quero ser adulto
Preciso de um feitiço encantado
Para me levar para outro lado.
Memórias da minha infância
Dançam sobre a luz das estrelas,
Ainda que elas lentamente desapareçam
Eu só quero poder revivê-las.
Bailam flores
Bailam emoções, canções
Deslizam através das pétalas delicadas
E caem no relvado como gotas de orvalho apressadas
Baloiçam como se fossem livres
Como se não tivessem o caule preso ao chão
Bailam com alegria
Bailam até mais não
E naquela noite de luar
Com os rouxinóis a cantar
E as flores da noite a desabrochar
Elas bailam e bailam
Bailam com o vento e com a música
Bailam mesmo com vontade de se abanar
Até nelas um pássaro poisar
Que um serão irá iniciar
Debaixo daquele banho de luar.
A Arte
De manhã ao acordar
Eu só penso em desenhar
Com lápis, tintas, pincéis e canetas
e surgem logo os planetas.
Tudo ganha cor com a imaginação
Basta colocar um lápis na minha mão
E assim surgem novas imagens
E crio na minha cabeça novas personagens.
Sempre que pinto e desenho
Vejo a minha vida começar
E tudo aquilo que obtenho
Está mais perto do sonho realizar
Riscos, pinceladas, círculos e cor
Em tudo que pinto transborda amor
Quero com os meus quadros ser artista
E a arte será a minha maior conquista!
ferida
as águas do caima sussurram, trepo a encosta, encontro o sol
na vizinhança do tojo em flor
de sombra, desfrutarei por toda a minha morte
contemplo o falcão que paira alheio a qualquer pensamento
o tiro do caçador estilhaça o silêncio, ferindo-me os sentidos
o seu eco amordaça a voz do rio e apressa-me o sangue
que reconhece as enormes distâncias
do desejo pelas velas tortuosas dos corpos
em breve a luz do dia foge, o chumbo-com a cegueira
dos fiéis portadores de mensagens – entrega-se ao voo
irrompe do céu nocturno
nos confins, para lá de qualquer reflexão, uma estrela cadente, de asa ferida
despenha-se
Mãe!
O que é feito do azul do meu bibe?
Onde estão as cores do arco-iris?
O que foi feito do meu riso de criança
onde cablam toda as alegrias e esperanças?
Mãe!
Anda comigo ao anoitecer contar as estrelas
contemplar o adeus ao sol e sentir a noite fresca,
a ouvir a primavera a revelar-se nos sons de maio!
Mãel Faz-me companhia nas minhas insónias
e canta para mim a música de embalar do Zeca!
Mãe!
Tenho saudades de te ouvir cantar para mim!
A dor da tua distância é tão grande como o firmamento…
Sabes que todos os dias nasce em mim a esperança
porque em ti penso e olho imenso no firmamento?
Mãe!
O que é feito do brilho das estrelas?
Desde que partiste as estrelas brilham menos!
Mas apenas uma estrela mãe,
Uma só estrela mãe, é que tem um brilho diferente!
É essa estrela que eu contemplo quando a noite vem ter comigo,
eu sinto que é lá onde encontro o meu abrigo!
Recados de alma
Recados de alma estes, bem sentidos,
Que ao som de letras lanço aos quatro ventos,
Em esperança, medo e sonhos envolvidos,
Eis os meus desabafos e lamentos.
Viver, sofrer, partir… tudo é normal,
Mas sempre bem com anjos e diabo,
Pois não são estes seres que fazem mal,
O mal já está no mundo em que eu acabo.
Sentimentos estranhos de fobia,
À cor da pele, à raça, aos ideais,
Polvilham loucas mentes, essas tais,
Em que as demências brotam, já se via,
Fazendo guerras, fome e agonia,
Neste pequeno mundo, grande demais.
Fotos do espólio particular de Alberto Bastos