“Vidas à Deriva”, de Ana Pinho, conduz-nos pelos corredores sombrios e desconhecidos das histórias de seres humanos detidos em situação irregular em Portugal.
Baseado em entrevistas profundas, e perspicazes, conduzidas junto aos emigrantes detidos no único Centro de Instalação Temporária do país, esta obra literária oferece uma visão esclarecedora e comovente das experiências de pessoas cujas vidas foram marcadas por uma trama complexa de esperança, desespero e resiliência.
O livro desenrola-se como uma colecção de relatos autênticos e cativantes, com histórias tão únicas quanto representativas das realidades lamentavelmente comuns enfrentadas pelos imigrantes em situação irregular.
A autora dá voz aos protagonistas dessas narrativas e, por meio de uma escrita poderosa e empática, somos transportados para os corações e mentes desses indivíduos, cujas vozes muitas vezes são sufocadas pela opressão e pelo sistema de imigração.
As personagens reais que habitam as páginas deste livro, são complexas e multifacetadas.
São pessoas com sonhos e ambições, cujas vidas foram interrompidas por circunstâncias além do seu controle.
No entanto, no meio da adversidade, esses imigrantes mostram uma resiliência impressionante.
Através da conscientização gerada pelas narrativas do livro Vidas à Deriva, somos desafiados a repensar as políticas migratórias, a promover a empatia e a solidariedade, e a lutar por uma sociedade mais justa e inclusiva.
Conjunto de sete histórias, com relatos excepcionais de pessoas extraordinárias, recolhidos pela autora, aquando do seu trabalho com o Serviço Jesuíta aos Refugiados, na Unidade Habitacional de Santo António, no Porto, há cerca de 9 anos.
A autora, a dada altura, na introdução do livro afirma:
Ao analisar com atenção as suas histórias e os contextos que as emolduram, é clara a percepção de que as suas escolhas não foram, na verdade, escolhas, senão imposições das circunstâncias que os rodearam, sendo, portanto, migrantes forçados, que não se enquadram no conceito da forma que é comummente utilizado, mas que o são, por via das suas vivências e dos seus percursos.
Tal como muitos outros, alguns partiram de países ditos “em desenvolvimento”, onde, além dos já referidos conflitos armados, a pobreza é uma realidade, com origem em factores históricos, como o colonialismo e a escravidão, marcados por recursos, instituições e políticas nacionais inadequados, muitas vezes impostos pelos poderes colonizadores, do passado e do presente, traduzindo defeitos na ordem internacional que “sustentam a pobreza absoluta e prejudicam os esforços para a reduzir”, empurrando os cidadãos para onde os recursos a que têm direito, mas que não estão ao seu alcance nos países de origem, existem.