Isa Monteiro – uma cientista valecambrense

Isa Monteiro

Isa Monteiro trata o Professor Robert S. Langer por “Bob”, desenvolveu investigação científica no conceituado Massachusetts Institute of Technology (MIT) e investiga actualmente na Harvard Medical School (HMS).

E isso não é só: até hoje, já assistiu a aulas de Prémios Nobel da Física, da Medicina, da Química, da Economia ou da Paz e a palestras dadas por indivodualidades como Obama ou o Mark Zuckerberg, fundador do Facebook e conviveu de perto com o saudoso e também ele, cientista, médico e investigador, Dr. Manuel Luciano da Silva.

Isa Monteiro é uma jovem cientista e valecambrense!

Em 2009 fez o doutoramento em Bioengenharia, área de conhecimento de Medicina Regenerativa e Células Estaminais e a partir daí nunca mais parou!

Assume-se como uma pessoa “empreendedora” e que precisa de tomar iniciativas e de criar e encontrou no curso de Engenharia Biomédica na Universidade do Minho, o primeiro passo para não ficar parada e saciar a sua curiosidade por esta área.

Ao juntar a investigação com as novas tecnologias percebeu que “a investigação nos dá a possibilidade de mudar o mundo para melhor”.

De Portugal voou até à Alemanha com uma bolsa do Serviço Alemão de Intercâmbio Académico onde aprendeu alemão e continuou a desenvolver a sua investigação – através de outra bolsa – sobre Terapia Fotodinâmica na Universidade Técnica RTWH Aachen, em colaboração com o Instituto Fraunhofer.

Foi desta forma que avançou no seu projeto de mestrado em que o objetivo era tratar tumores cerebrais, utilizando um endoscópio minimamente invasivo.

Os planos da Isa passavam, nesse momento, por ficar pela Alemanha, mas – coincidência ou… nem tanto (há quem defenda que não existem coincidências!), em 2007 é criado o programa MIT-Portugal que incentivava a investigação portuguesa em colaboração com as melhores universidades norte americanas.

E foi aqui que o mapa da Isa Monteiro alargou ainda mais, tendo sido aceite no MIT, na área de Bioengenharia e escolhendo o tópico de Medicina Regenerativa para o seu doutoramento.

Para o realizar, foi-lhe atribuída uma bolsa de quatro anos pela Fundação para a Ciência e Tecnologia!

No meio de todos estes projetos ainda lecionou Fisioterapia na Escola Superior de Tecnologias da Saúde do Porto.

Não teremos que avançar muito mais para reafirmar que O QUE É NOSSO É BOM (!) e que basta acreditar e empreender para realizar sonhos. Neste caso, é o sonho de uma jovem cientista que, para nossa sorte, é Valecambrense, nascida e criada, e que traz sempre Vale de Cambra no coração, mesmo quando nos corredores do Langer Lab do MIT passava pelo Bill Gates! Sim, esse mesmo, o dos computadores!

— em Vale de Cambra, Distrito de Aveiro
in CMVC

A Voz de Cambra, em boa hora, fez-lhe uma grande entrevista

A investigação dá-me a oportunidade de mudar o mundo para melhor

Isa de Pinho Monteiro é natural de Vale de Cambra, onde residiu e estudou até entrada no Ensino Superior, em 2002.

Em 2009, e no âmbito do seu doutoramento em Bioengenharia, área de conhecimento de Medicina Regenerativa e Células Estaminais, começou a desenvolver investigação científica no conceituado Massachusetts Institute of echnology (MIT), considerado por vários rankings internacionais a melhor universidade do mundo, tendo depois sido convidada a continuar o seu projeto na também prestigiante Harvard Medical School (HMS).

A conversa com o jornal A Voz de Cambra, a jovem valecambrense conta como, começando por ser estudante voluntária para colaborar em projetos de investigação aplicada e clínica, traçou depois o seu caminho na área da Engenharia Biomédica, primeiro a tratar tumores cerebrais na Alemanha e depois na área da Medicina Regenerativa nos E.U.A.

A jovem valecambrense diz que seguiu a área da investigação porque esta Ihe dava a possibilidade de “mudar o mundo para melhor”.

No país das oportunidades, Estados Unidos, já colaborou com os mais conceituados cientistas desta área e admite que partilha com alguns deles, da ideia de que “a Ciência não é mais do que uma ferramenta que nos foi concedida para entendermos a grandiosidade da vida e da natureza”.

Para além de algumas personalidades, bem conhecidas do mundo cientifico, Isa Monteiro recorda também aqui nesta entrevista, o saudoso Dr. Manuel Luciano da Silva, com quem privou acerca de assuntos relacionados com a investigação e a quem aqui presta homenagem.

A valecambrense diz querer aproveitar a sua juventude para aprender sempre mais em outras partes do mundo e deixa uma mensagem aos jovens de hoje: “apesar de uma pesada herança de dificuldade económica e incerteza face ao futuro, os jovens têm de perceber que está nas suas mãos a possibilidade de mudar.

Cristina Maria Santos
cristinavozdecambra@gmail.com

Qual o percurso que fez até chegar à considerada “melhor universidade do mundo”?

Foi muito normal. Sempre estudei em escolas públicas, tendo passado pela escola primária Sede de Vale de Cambra, depois a EB2,3 do Búzio e, depois, completado o 12° ano na Escola Secundária de Vale de Cambra.

Na altura de escolher que curso seguir a nível do ensino superior, eu sabia que tinha interesse em Medicina, mas também gostava muito de Inovação e Empreendedorismo.

Na verdade, sempre fui bastante empreendedora e precisava de algo que me aliciasse a tomar iniciativas e a criar.

O Mestrado Integrado em Engenharia Biomédica era novo e tinha um currículo muito diferente dos cursos tradicionais, com uma forte ênfase nas novas tecnologias médicas, pelo que fiquei muito interessada.

Escolhi a Universidade do Minho porque era a mais recentee com melhores infraestruturas para lecionar um curso que exige muitos equipamentos de ponta e laboratórios.

Foi uma escolha acertada, pois adorei os anos que passei como aluna de Engenharia Biomédica.

Penso que a crescente procura por este curso reflete a sua qualidade. Por exemplo, este ano de 2012, a média de entrada foi de 17,26 valores.

De onde vem o interesse pela investigação?

Como aluna de Engenharia Biomédica, sempre me interessei pela investigação inovadora que Universidade do Minho desenvolvia e tentei desde cedo participar em projetos de investigação.

Comecei por trabalhar em terapia fotodinâmica em 2005, num projeto em que o objetivo era tratar infeções provocadas por bactérias fungos recorrendo a lasers.

As pessoas devem conhecer, por exemplo, infeções causadas por fungos nas unhas, que são muito dificeis de tratar recorrendo a métodos convencionais.

Como queria ver a aplicação da tecnologia a ajudar pessoas, voluntariei-me para colaborar na monitorização de ensaios clínicos no Hospital de São Marcos, em Isa Monteiro, no laboratório do professor Robert Langer, no MIT.

Braga, em que nós tratávamos lesões pré-cancerosas da pele com a Terapia Fotodinâmica.

Ao ver os resultados da nossa intervenção na melhoria das vidas dos doentes, percebi que a investigação nos dá a possibilidade de mudar o mundo para melhor e que, por isso, gostava de continuar a investigar…

Uma vez que a Alemanha era (e ainda é) um pais por excelência na vanguarda da tecnologia médica, comecei por essa altura também a estudar alemão, tendo em vista uma oportunidade de ir aprender mais na Alemanha.

E essa oportunidade de “aprender” mais na Alemanha veio a acontecer?

Sim. A minha professora de alemão incentivou-me a prestar provas para me candidatar a uma bolsa do Serviço Alemão de Intercâmbio Académico (Deutscher Akademischer Austauschdienst, DAAD) para ir estudar alemão na Alemanha.

Consegui uma bolsa de dois meses em Munique, onde desenvolvi muito a minha comunicação em Alemão.

Entretanto, candidatei-me a uma bolsa desta mesma instituição para jovens cientistas, que me foi concedida para continuar a minha investigação sobre Terapia Fotodinâmica, na conceituada universidade técnica RTWH Aachen, em colaboração com o Instituto Fraunhofer.

Assim, desenvolvi o meu projeto de mestrado, em que o objetivo era tratar tumores cerebrais, utilizando um endoscópio minimamente invasivo.

Como surgiu a oportunidade de ir, posteriormente, para os Estados Unidos?

Nesta altura, ou seja 2007, o meu plano era aceitar o convite continuar a mesma linha de investigação na RWTH Aachen, fazendo aí o meu doutoramento.

No entanto, esse mesmo ano foi marcado por um forte incentivo do governo português à investigação em colaboração com as melhores universidades norte-americanas.

Um destes incentivos foi a criação do programa MIT-Portugal. O meu orientador na Alemanha aconseIhou-me a candidatar-me, dado o prestígio e a oportunidade de aprender no MIT.

Fui accite neste programa, tendo escolhido a área de Bioengenharia e o tópico de Medicina Regenerativa para o meu doutoramento.

Para o realizar, foi-me atribuída uma bolsa de quatro anos pela Fundação para a Ciência e Tecnologia.

Depois da investigação na área da Terapia Fotodinâmica teve a oportunidade de fazer o doutoramento numa área diferente. Em que consiste concretamente?

Sim, foi uma decisão arriscada, mas havia muito para explorar na área das células estaminais e da Medicina Regenerativa.

O meu doutoramento está relacionado com a aplicação de materiais biocompatíveis e células estaminais adultas na regeneração de pele, tendo em vista o tratamento de úlceras e de queimados.

Um dos tipos de células que tenho utilizado são células estaminais do fluído amniótico, que são recolhidas na amniocentese.

Sendo células adultas (e não embrionárias), não existe a destruição do embrião. Contudo, a capacidade regenerativa das células do fluído amniótico é semelhante à das células embrionárias, daí o interesse em estudar a sua aplicação na regeneração de órgãos.

Tem sido uma experiência marcante? Quais os momentos que destacaria desta estadia nos Estados Unidos?

Apesar da crise também ter afetado o sonho americano, pude comprovar que os Estados Unidos continuam a ser a terra das oportunidades.

Um dos momentos mais felizes para mim foi ter realizado o sonho de fazer parte do laboratốrio do Professor Robert S. Langer, que nós sempre tratamos por Bob.

Desde que comecei a estudar Engenharia Biomédica, que admiro o Prof. Langer como cientista, empreendedor e pessoa.

Com ele tenho aprendido muito, não só a nível científico, mas também sobre a vida.

Agora com 800 patentes e nomeado para o título de “Institute Professor”, a maior honra que se atribuiu no MIT, premiado com a Priestley Medal, the United States National Medal of Science, the Millennium Technology Prize, the Lemelson-MIT Prize e o the Charles Stark Draper Prize, ele continua a contar-nos sobre os tempos em que ninguém acreditava no seu potencial, tendo as suas ideias e iniciativas sido mesmo ridicularizadas.

Essas ideias deram origem a várias empresas na área médica e de biotecnologia e a produtos que agora estão na clinica e no mercado para ajudar pessoas.

A empresa mais recente é Living proof, que comercializa champôs anti-frizz, e que até conta com a publicidade da atriz Jennifer Aniston.

Para além do trabalho laboratorial, em contacto com os melhores cientistas da área, estar no MIT deu-me a oportunidade de assistir a aulas lecionadas por Prémios Nobel da física, medicina, química, economia, paz..bem como a palestras de várias individualidades que visitavam o MIT, desde o português Durão Barroso, ao Presidente Obama e mesmo o fundador do Facebook, Mark
Zuckerberg.

Um dia estava o Bill Gates a passear pelos corredores do Langer Lab e nesse dia eu pensei que isso só poderia acontecer no MIT.

Um dia também que me marcou foi quando tive a oportunidade de conversar com Francis Collins, o diretor do National Institutes of Health e do Projeto Genoma Humano, e por isso um dos responsáveis pelo mapeamento do DNA humano, um dos marcos mais importantes da ciência moderna.

Tinha lido um dos seus livro sobre a coexistência de Deus e da Ciência e admirava o facto de, tal como eu, ele pertencer a um pequeno grupo de cientistas que não têm problemas em admitir a sua fé, acreditando que a Ciência não é mais do que uma ferramenta que nos foi concedida para entendermos a grandiosidade da vida e da natureza.

O mais engraçado ainda foi vê-lo neste dia a pegar numa viola e tocar e cantar para todos os estudantes que estavam na sala.

Não posso deixar de referir outro acontecimento importante para mim que foi visitar, o saudoso Dr. Manuel Luciano da Silva, que nos deixou no passado dia 21 de outubro e a quem gostaria de prestar uma merecida homenagem.

Isa Monteiro e D. Silvia Jorge no Dighton Rock Museum, Rhode Island, fundado pelo Dr. Manuel Luciano e onde se encontra a Pedra de Dighton.

Quem conheceu o Dr. Luciano sabe da sua curiosidade incessante, da sua genica e da sua forma afável de ser, que não fazia adivinhar a sua idade.

Passei um fim de semana em sua casa em Bristol, em que ele e sua esposa, D. Silvia Jorge, que aproveito para saudar, tiveram a gentileza de me mostrar quase todo o estado de Rhode Island – sorte que este é o estado mais pequeno em área nos Estados Unidos.

Na sua biblioteca, apinhada de papéčis e livros médicos e históricos, mostrou-me parte da sua obra e falou-me dos programas de televisão sobre medicina que fazia para a comunidade portuguesa nos Estados Unidos. Guardo com carinho os livros da sua autoria que me ofereceu, a Eletricidade do Amor e Cristóvão Colombo era Português, sentindo a responsabilidade de continuar a apoiar e a divulgar a sua obra.

O Doutor Manuel Luciano sempre gostou de me propor desafios. Lembro-me, por exemplo, de numa das correspondência que trocamos, me ter desafiado a deslocar-me até à Biblioteca Pública de Boston e ver se na fachada havia alguma coisa de especial. Bem, num Domingo reservei algum tempo para ficar a “olhar para as paredes” e qual é o meu espanto quando começo a encontrar nomes de ilustres portugueses gravados na pedra.

Outro desafio que ele me colocou, e que tenho muita pena de não poder discutir os resultados com ele, consistia em analisar ao microscópio o tamanho das farinhas produzidas por moagem tradicional na região de Vale de Cambra.

A ideia do Dr. Manuel Luciano era que as farinhas produzidas em moinhos de água e de vento têm um valor alimentício, que não existe nas farinhas refinadas, sendo estas última maléficas para a saúde.

Espero conseguir concluir este estudo, com análise em microscopia de varrimento e partilhar as conclusões desta pesquisa, como era intenção do Dr. Manuel Luciano.

Das diversas conversas que tive com o Dr. Manuel Luciano, percebi o quanto ele gostava de Vale de Cambra e a sua vontade de que a cultura e a informação médica chegasse à sua população.

Prova disso é a doação do seu espólio à Biblioteca-Museu e as consultas médicas gratuitas que fazia por vídeo-conferência.

Vou para sempre recordar o Dr. Manuel Luciano como uma referência e uma inspiração para ir à descoberta e para fazer obra que possa ser lida ou partilhada pelos outros.

As palavras de incentivo dele vão continuar a ser para mim um grande apoio na minha investigação.

Já tem planos para o futuro?

Dentro de uma semana parto novamente para os Estados Unidos, rumo à Harvard Medical School, onde vou continuar com a investigaçāo científica.

Durante o tempo que estive em Portugal, tive a oportunidade de lecionar aos alunos de Fisioterapia da Escola Superior de Tecnologias da Saúde do Porto, e como foi uma experiência que gostei, talvez continue a lecionar no futuro.

Acho que hoje em dia, no mundo globalizado, não podemos limitar o nosso futuro à região onde nascemos e crescemos, e por muito que eu goste de Vale de Cambra, tenho noção que tenho de aproveitar a minha juventude para aprender sempre mais em outras partes do mundo.

De resto, para já só sei dizer com certeza que o futuro a Deus pertence e o céu é o limite.

Que conselhos deixaria aos jovens de hoje?

Gostaria de ver os jovens mais interessados, atentos e interventivos, mas sobretudo mais responsáveis, não só a nível pessoal pelas decisões que tomam, mas também a nível social, nomeadamente na redefinição dos valores.

Apesar de uma pesada herança de dificuldade económica e incerteza face ao futuro, os jovens têm de perceber que está nas suas mãos a possibilidade de mudar.

Esta mudança está na coragem de ser empreendedor e tomar iniciativas, e também em denunciar e combater a injustiça.

Temos uma geração de jovens qualificada, com capacidade para ser crítica e intervir politicamente e que deve exigir pessoas exemplares para representar e liderar o país.

Aproveito para citar Kennedy nas suas palavras de “não perguntes o que o teu pais pode fazer por ti, mas sim o que podes fazer pelo teu país”.

Gerações passadas, muitos menos qualificadas conseguiram muito, então esta geração tem de conseguir ainda mais.

Concretizar seja o que for só depende de nós mesmos, o resto são desculpas.

in Museu Biblioteca Dr. Manuel Luciano da Silva