Histórias dos Nossos Tempos

Vale de Cambra

“Nas noites de luar, quando o grande balão de oiro surge na lomba das montanhas, o vale enche-se de magia, dum sortilégio que paira desde os píncaros longínquos às águas sussurrantes do Caima. De manhã é o milagre, todos os dias há um milagre de luz sobre a terra quando o sol nasce em Vale de Cambra.”

Ferreira de Castro

«Situado num vale amplo, entre as margens esquerda do rio Caima e a direita do rio Antuã, numa zona de transição entre o litoral e o interior, o concelho de Vale de Cambra confina com os municípios de Arouca, Sever do Vouga, Oliveira de Frades, São Pedro do Sul e Oliveira de Azeméis.

Apesar de ser essencialmente agrícola, tem vindo a desenvolver uma importante actividade no sector secundário. Nos últimos anos, foram criadas três novas zonas industriais.

A formação de terras de Cambra perde-se na antiguidade dos tempos. Testemunhos arqueológicos encontrados neste território indicam que já seria povoado três mil anos a.C.. Ainda são visíveis, entre outros, os dolménes e castros na freguesia de Arões e as insculturas, ao que tudo indica da Idade do Bronze, no Outeiro dos Riscos. Da cultura castreja, restam achados em Vila Cova de Perrinho, nas Baralhas, Moutides e Castelo de Sandiães. Do período de ocupação Romana, ficaram pontes e alguns troços de estradas.

A povoação é pela primeira vez mencionada na doação feita em 922 pelo rei Ordonho ao bispo de Gomado e ao mosteiro de Crestuma. Mais tarde, fez parte das terras de Santa Maria de Vandoma, pelo que, durante muitos, foi conhecida pelo nome de Santa Maria de Caymbra. Outros documentos referem-se-lhe sucessivamente como Caymbra, Braveira de Cambra e Macieira de Cambra.

No fim do século IX, já o território cambrense se encontrava num bom estado de povoamento. No início, era uma terra rural, com as suas “quintaneas”, “agras”, “póvoas”, “vilares” e “chaves”, mas, devido a uma importância crescente, baseada na riqueza do seu solo e no aumento constante da população, foi elevada á categoria de município. Crê-se que teve foral logo no dealbar da nacionalidade.

Naquela altura, numerosos fidalgos possuíam terras e bens neste vale fértil. No século XII, teve início a estirpe dos “de Cambra”, uma família da linhagem dos Riba Vizela e que teve como precursor D. Afonso Anes, filho de D. João Fernandes de Riba Vizela e de D. Maria Fernandes Varela. No século XIV, o senhorio da terra de Cambra passou para as mãos dos condes da Feira, os Pereiras, e, mais tarde, para a Casa do Infantado.

Um marco importante na história do município foi a atribuição de carta de foral, em 1514, por D. Manuel I, á terra e concelho de Cambra, com sede em Macieira de Cambra.

Após a sua criação, em 1832, o concelho de Macieira de Cambra foi integrado no distrito de Aveiro, mas seria extinto em 1836, por decreto de Passos Manuel. Em 1840, foi restaurado para ser extinto novamente e anexado ao de Oliveira de Azeméis.

Em 1926, foi definitivamente extinto, aquando da criação do concelho de Vale de Cambra.»

Foral

«O valor deste diploma está em que ele constitui o reconhecimento da importância da Terra de Cambra no conjunto do Reino.

O Pelourinho que está associado a esta Carta de Foral foi classificado como imóvel de interesse público pelo Decreto n.º 23122 de 11 de Outubro de 1933. É ele próprio símbolo de poder municipal e da administração da justiça.

Era donatário destas terras o Infante D. Pedro, futuro Rei D. Pedro III. Outrora, até 1700, era dos Condes da Feira, dos Forjazes e Pereiras.

Macieira de Cambra integrou a província da Beira e pertenceu à comarca de Esgueira.»

Lugares que integravam as Terras de Cambra:

Titollo de Cabruum

Arooes

Campo d’Amçam

Paraduça Ervedoso Lourosella

Chaao do Carvalho

Merlaaes Caviao

Costellaaos Cabril e Areaaes

Coelhosa

Armental

Reffoyos e Gaynde e Aljariz

Codal e Paul

Brasão

Histórias dos Nossos Tempos

«Brasão: escudo de verde, vaca de ouro passante; bordadura de negro carregada de quatro cachos de uvas de púrpura folhados de ouro, alternados com quatro abelhas do mesmo. Coroa mural de cinco torres de prata. Listel branco, com a legenda a negro, em maiúsculas: “VALE de CAMBRA”.

Bandeira: gironada de oito peças de amarelo e negro. Cordão e borlas de ouro e negro. Haste e lança de ouro.

Selo: circular, com as peças do escudo sem a indicação de cores e metais, tudo envolvido por dois círculos concêntricos, onde corre a legenda: “Câmara Municipal de Vale de Cambra”.»

Histórias dos Nossos Tempos

Bibliografia:

História das Freguesias e Concelhos de Portugal – Volume 18

Jornal de Notícias, JN Concelhos, Vale de Cambra

Município de Vale de Cambra

Marcelo Sousa

24 maio 2009

Fonte