Cercal – Vale de Cambra
Ao entrar no Cercal somos surpreendidos por um pequeno telheiro que abriga um grande motor. Num dos postes está um cartaz que explica, ao curioso, o que é aquilo e em que era utilizado. Aqui está a explicação.
[O motor] Accionava maquinaria de serração de madeiras, carpintaria e moagem (…)Por ocasião das Bodas de Ouro Matrimoniais, o Sr. Agostinho quis contar-nos um pouca da história da sua vida.
Ele foi o primeiro industrial, desta zona da Serra, com moagem, carpintaria e serração de madeiras.
Conta-nos que teve grandes dificuldades na obtenção das licenças para o funcionamento da indústria, pois as moagens do Rio Vouga tentaram impedir que Ihe fossem concedidas as licenças para laborar, no entanto a Junta de Freguesia de Arões, a Câmara Municipal e a Repartição de Finanças de Vale de Cambra apoiaram-no e tudo fizeram para que a sua indústria funcionasse.
Por dificuldades económicas, devido à falência da indústria, emigrou para Angola, em 11 de Novembro de 1952.
Por lá trabalhou durante 24 anos, primeiro por conta própria e depois como funcionário do Ministério da Justiça, como mestre de construção civil.
Voz da Montanha, Novembro de 1993
No mesmo cartaz encontramos coisas do passado que muito poucos saberão.
Quem ainda se lembra que a pequenina povoação das Novas, naquele tempo só com dois fogos, era bem conhecida desde a beira mar até aos nossos vizinhos concelhos de S. Pedro do Sul e Oliveira de Frades?
Era paragem obrigatória para os comerciantes e romeiros da época.
Ali bebiam a boa pinga pelas grandes canecas de barro usadas na taberna, descansavam e quantas vezes aí pernoitavam.
A sardinha era transportada em mulas, do mar até aos concelhos de S. Pedro e Oliveira de Frades e, no regresso, a carga eram galinhas, ovos, coelhos e produtos da terra, que tinham trocado pela sardinha.
Quando o sardinheiro descia a encosta do Coval, apregoava com a sua voz forte a arrastada:
– Fresca! Fresca! Fresca!… no Cabeçouto, já pertinho das Novas, repetia o pregão.
De Campo d’Arca e Cercal quem queria e podia, lá ia às Novas comprar a sardinha que levava para casa, enfiada “da boa à guelra” numa vara de carqueja ou giesta.
Depois o sardinheíro ou Almocreve, como Ihe chamavam, seguia em direcção a Santa Cruz da Trapa.
Então, o caminho da costa do Coval, via Novas, Fonte Madeiro a Souto-Mau era conhecido por estrada dos Almocreves.
Hoje, em alguns pontos, está instransitável, por isso, e de (troça, há quem Ihe chame o caminho dos “Almocreves”).
Os romeiros que passavam às Novas para a Senhora da Saúde, ali faziam um grande baile do dia 13 para 14 de Agosto e alguns, no regresso a casa, ainda davam continuação ao bailarico. Já poucos recordam esses tempos!…
A povoação das Novas teve a sua história e continua a tê-la, pois está bem situada mas, sempre pequenina.
É servida por estrada esfaltada, tem escola primária uma grande cabine eléctrica, um posto de recepção de leite, poucas mas modernas habitações e espaço para mais.
Hoje, nas Novas, não existe aberta ao público, a velhinha taberna que tanta fama teve, devido ao bom vinho, mas, muito perto, existem outras mais modernas e bem sortidas.
Dantes passavam às Novas os “Manteigueiros” que transportavam à cabeça os latões de nata para a Cooperativa do Couto de Esteves.
Hoje passam grandes camiões carregados de leite para Sanfins.
No passado, havia distribuição do correio todos os dias úteis.
Agora, numa semana é nos dias pares e na outra nos ímpares.
Também havia mensalmente leitor cobrador da luz eléctrica.
Segundo consta vamos ter leitor só de vez em quando, mas pagar continua todos os meses nos locais a serem indicados. É o progresso.
Agora as grandes e notáveis faltas são: fontenário e lavadouro públicos e contentores de lixo «para toda a freguesia».
Esperamos com (im)paciência… talvez um dia tudo venha.
A.R.C.A
Voz da Montanha (Novembro de 1990)
O que é e para que servia o motor, além de outras curiosidades do passado