por Irene Tavares Dias
As lendas ou estórias reais
como esta que vou contar
“A lenda da Ribeira Pomba”
passada no meu lugar.
Ficou na oralidade do povo,
a ela faço jus
a atestar a veracidade dos factos
na pedra ficou uma cruz.
Os montes eram de pastoreio
sem nada a delimitar.
Os homens acharam por bem
fazer cercos e tapar.
Neste local de passagem
havia umas carvalhas centenárias
motivo de cobiça desse chão
e assim começa a disputa
entre os Rodrigues de Cabrum
e os Tavares de Carvalhal do Chão.
Eram homens de rija têmpera,
mas havia um mais afoite
o que cercavam de dia,
ele deitava abaixo à noite
As leis foram-se alterando
e a disputa acabou em tribunal
e no dia da sentença
as testemunhas foram jurar.
Dizem que juraram falso
e sem pudor algum
e as carvalhas ficaram
para os Rodrigues de Cabrum.
Ainda dentro do tribunal,
a mulher dos Tavares ergueu as mãos
e para Deus ou para o Diabo
rogou uma praga:
– Com a verdade que tu falas
que morras debaixo dela
com a língua de fora”.
Passados quarenta anos,
ninguém se lembrava do acontecido
e o dono da carvalha
ao amigo fez um pedido.
Ajuda para deitar abaixo,
a carvalha ali erguida,
muito longe de pensar
que a praga ia ser cumprida.
Quem tal ato presenciou
diz que a carvalha no ar rodou
e à distância de cinquenta metros
a testemunha matou
e a língua de fora ficou.
E aqui começa a lenda,
o local ficou amaldiçoado
e temido por toda a gente
que tinha que ali passar,
fosse incrédulo ou crente.
Mil estórias eram contadas
à noite, junto à lareira,
algumas bem caricatas
que não deixavam dormir.
Como homens com pés de cabra,
cavalos a galopar,
procissões que não se viam
e só se ouvia rezar.
Luzes a vaguear no espaço,
mas que não davam luz
e ao dar da meia noite
vinham pousar na cruz.
Hoje, já ali não se passa,
o fogo tudo queimou,
mas a lenda da Ribeira Pomba
na mente do povo ficou.