A lenda da Ribeira Pomba II

A lenda da Ribeira Pomba II
Foto de Ângela Morais

por Irene Tavares Dias

As lendas ou estórias reais
como esta que vou contar
“A lenda da Ribeira Pomba”
passada no meu lugar.

Ficou na oralidade do povo,
a ela faço jus
a atestar a veracidade dos factos
na pedra ficou uma cruz.

Os montes eram de pastoreio
sem nada a delimitar.
Os homens acharam por bem
fazer cercos e tapar.

Neste local de passagem
havia umas carvalhas centenárias
motivo de cobiça desse chão
e assim começa a disputa
entre os Rodrigues de Cabrum
e os Tavares de Carvalhal do Chão.

Eram homens de rija têmpera,
mas havia um mais afoite
o que cercavam de dia,
ele deitava abaixo à noite

As leis foram-se alterando
e a disputa acabou em tribunal
e no dia da sentença
as testemunhas foram jurar.

Dizem que juraram falso
e sem pudor algum
e as carvalhas ficaram
para os Rodrigues de Cabrum.

Ainda dentro do tribunal,
a mulher dos Tavares ergueu as mãos
e para Deus ou para o Diabo
rogou uma praga:
– Com a verdade que tu falas
que morras debaixo dela
com a língua de fora”.

Passados quarenta anos,
ninguém se lembrava do acontecido
e o dono da carvalha
ao amigo fez um pedido.

Ajuda para deitar abaixo,
a carvalha ali erguida,
muito longe de pensar
que a praga ia ser cumprida.

Quem tal ato presenciou
diz que a carvalha no ar rodou
e à distância de cinquenta metros
a testemunha matou
e a língua de fora ficou.

E aqui começa a lenda,
o local ficou amaldiçoado
e temido por toda a gente
que tinha que ali passar,
fosse incrédulo ou crente.

Mil estórias eram contadas
à noite, junto à lareira,
algumas bem caricatas
que não deixavam dormir.

Como homens com pés de cabra,
cavalos a galopar,
procissões que não se viam
e só se ouvia rezar.

Luzes a vaguear no espaço,
mas que não davam luz
e ao dar da meia noite
vinham pousar na cruz.

Hoje, já ali não se passa,
o fogo tudo queimou,
mas a lenda da Ribeira Pomba
na mente do povo ficou.