por Irene Tavares Dias
As lendas estão sempre associadas a estórias, crenças antigas, espíritos a cumprir penitências, as chamadas almas penadas, Mouras encantadas ou episódios reais que com os anos viraram lendas.
Tais como: a lenda onde o morto matou o vivo, que eu própria descrevi para o livro “Contos do Vale” que está para consulta na Biblioteca Municipal, bem como “A lenda do Calhau do Dinheiro“, em verso, escrita pelo meu pai, Adão Tavares.
Eu queria deixar impresso, aqui, “A lenda da Ribeira Pomba” tal como o meu pai a descrevia.
Em tempos recuados havia os chamados baldios em que os montes eram de todos para os gados pastorearem.
Sucede uma lei em que os habitantes que cercassem o terreno com paredes tornavam-no sua propriedade, o que deu azo a muitas guerras e mortes.
Cabrum sempre fez partilha com Carvalhal-Chão. E nesse sítio chamado Ribeira Pomba havia grandes carvalhos que a todos metiam cobiça, tendo os Tavares de Carvalhal-Chão ficado donos dessas árvores, o que um senhor de Cabrum deita abaixo as partilhas assenhorando-se dos ditos carvalhos.
E já existia a lei e os tribunais para a executarem.
O tribunal era em Oliveira de Azeméis. Ditou a sentença, usando falsas testemunhas, os carvalhos ficaram pertença do senhor de Cabrum.
A bisavó do meu pai, ainda no tribunal, disse:
– Oxalá que com a verdade que tu falas morras debaixo da carvalha com a língua de fora!
Passados quarenta anos, o dono da Carvalha pensou em deitá-la abaixo e convidou o homem que tinha servido de testemunha. Acontece que a árvore ao cair foi matar o homem que ficou com a língua de fora da boca.
Hoje ainda existe lá uma cruz na pedra a assinalar o acontecido.
A partir daí, e porque ficava num local escuso e feio, começou a existir a lenda. Que vozes agoiradas e figuras com pés de cabra, luzes azuladas frequentavam o local ao dar da meia-noite.
As pessoas que tinham que aí passar para ir ao moinho do Ribeirinho já não o faziam sós.
E assim se foi alimentando a lenda, que mais não seria do que o grito da coruja, luzes de pirilampos ou saltos de raposas em busca de alguma presa ou então alguma alma a cumprir a penitência
E todas estas interrogações atravessaram gerações e por isso viraram lendas. Daí aplicar-se o provérbio “Pragas com razão nem ao meu cão”.