As festas de Santo António são o orgulho de Vale de Cambra.
Festas de âmbito concelhio, é certo, mas bem animadas.
Desde 1977 que o 13 de Junho é feriado municipal, e não se pode dizer que, a partir daí, as condições meteorológicas não tenham sido as mais agradáveis.
A procissão prima pela imponência e concorrência, com todas as irmandades do concelho integradas, combinando-se os aspectos religiosos com os culturais.
Exposição de artes e artesanatos e muita música. Porém, nem sempre tudo correu bem como agora.
E Fernando de Bulhões, o nosso Santo António, não deve ter ganho para o susto!
Por muito amado que seja o grande taumaturgo, faz-se lá ideia do que lhe passou pela cabeça quando ouviu a ameaçadora sentença que lhe atirou Chico de Brão, que ele sempre considerara um dos mais fiéis amigos, que é como quem diz, devoto de coração:
– Enfia-se o santo num saquinho e mete-se na água, ali mesmo ao pé da ponte de Gandra!
Ante uma assembleia de amigos e mordomos da festa, Chico Brão, na verdade, Francisco Pinto Soares, não teve dúvidas em explicar:
– Se o nosso rico Santo António quer água, que a tenha, mas só para ele! A nós, já bom prejuízo nos deu!
Pois nem queiram saber o que acontecia! Raro era o dia 13 de Junho que um de Macieira não agarrasse num telefone e ligasse para um amigo de Gandra a perguntar à falsa-fé:
– Por favor, dizes-me se está aí a chover?
Era uma pergunta de chacota. Os macieirenses não perdoavam aos de Gandra terem ficado, a favor deles, sem a cabeça do concelho. E até aquelas irritantes chuvas, diríamos mesmo: até aquelas tradicionais chuvas, no próprio dia da romaria, serviam para o gozo de sempre!
Os da Gandra, logo que conseguiam as verbas necessárias para a festa, começavam a decorar a capela de Santo António e a engalanar os espaços públicos.
Naquele tempo usavam mais papelinhos que outra coisa, pelo que as chuvas do fim da Primavera eram extremamente arreliadoras pois encharcavam tudo.
Porém, no ano em que Chico Brão decidiu dizer que metia o santo nas águas, isso foi uma ameaça vingativa.
É que nesse ano, por volta de meados da década de 40, do século passado, o inverno parecia que se tinha esquecido de qualquer coisa e reapareceu. E logo a 13 de Junho.
Sem contemplações, destruiu as ornamentações e mais ainda o que era de todo o ano.
Os romeiros tiveram de regressar a suas casas sem terem comprado um rebuçado e os da Gandra aguentaram-se com aqueles ribeiros correndo pelas ruas.
Nesse dia, nem os de Macieira fizeram a pergunta anual!
Vale de Cambra reatou as suas relações com Santo António praticamente quando ele se decidiu proteger a vila da intempérie no dia grande da sua romaria. Mas teria sido por via da ameaça de Chico Brão ou pelo respeito que o santo tinha pelos seus amigos das terras de Cambra?
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