A Lenda

Texto adaptado por Carolina Pinho
Ilustração de Carolina Vilar e Ricardo Cortes

A Lenda

A lenda ou fonte de verdade; eis o que ouvia contar dos tempos dos meus bisavós, que já partiram há cem anos.

Havia na freguesia de Castelões, à qual pertenço, uma casa rica e abastarda. O seu dono chamava-se D. Rodrigo.

Na quinta havia um pomar repleto de árvores de fruto de diversas qualidades, e sabores.

Naquele tempo os ricos destacavam-se e, havia muitas famílias pobres, que eram simples “caseiros” dessas quintas solarengas. Naquela época, os moços divertiam-se a pregar partidas ou maroteiras.

No lugar de Burgães, a rapaziada era do «arco-da-velha» e tinha por alcunha «Os cães das levadas», pois por onde passavam deixavam o seu rasto.

Ora D. Rodrigo tinha no pomar, fruta apetitosa sobretudo, uns peros; bem que a moçada tentava saborear e comer…mas D. Rodrigo, com um valente cajado, ficava de guarda toda a noite…e lá se iam os peros.

Então a moçada reuniu e elaborou um plano para chegar aos peros – tudo combinado, uma noite a horas «mortas» em fila indiana, todos embrulhados em lençóis brancos, lanternas acesas, munidos de tambores rudimentares, há que enfrentar D. Rodrigo.

Monologamente com voz cavernosa entoavam este lugre canto: «quando éramos vivos comíamos peros Rodrigues. Agora que somos mortos, andamos por estes barrocos. «Oh alma lá da dianteira, toca lá nessa caldeira»! – Blam, blam, blam…sufocava o tambor.

Deram a volta ao pomar entoando a sinistra ladaínha lentamente como se fossem mortos vivos. D. Rodrigo quase morre de enfarte e unicamente vê almas do outro mundo. Estarrecido de medo, lá conseguiu fugir para casa, lívido e prestes a explodir do coração…

A moçada logo que se sentiu segura, ria a bom rir e lá se foram todos os «Peros Rodrigues», papadinhos, que nem um sobrou para contar a história.

A partir díi, D. Rodrigo não mais foi guardar o pomar. Os «cães das levadas» saciavam a gula à vontade no «dito» pomar….

Lenda ou fonte verdadeira, quando era criança, no Inverno junto à lareira ouvia contar esta e, outras histórias em que entrava o lobisomem, o diabo, os lobos…assim eram os serões aqui na minha amada aldeia de Macinhata. Ficava encantada e, bebia cada palavra sem perder uma sílaba!…