Texto adaptado por Irene Dias
Ilustração de Ana Martins, Beatriz Bettencourt e Fábio André
Temos que recuar no tempo uns séculos atrás, onde cada aldeia vivia num isolamento total.
Os acessos eram por caminhos sinuosos e íngremes, por atalhos e veredas, onde as pessoas andavam a pé e descalço para não estragarem a sola das botas.
Na aldeia da Lomba, que fica nos limites do concelho e dista a 15 km da sede de freguesia – Arões, até os seus mortos sempre lá tiveram que ficar. Assim como os das aldeias vizinhas, Côvo, Agualva e Macieiras.
Ainda hoje esta aldeia mantém algo sui-generis que é o seu cemitério, junto à Capela da Senhora dos Milagres, rodeado de espigueiros, para que o Senhor abençoe o fruto do seu trabalho.
Agualva fica nas escarpas da serra e em tempos idos um dos seus habitantes teve o infortúnio de morrer de morte repentina, sendo um homem alto e robusto, o seu peso era “o chamado peso morto”.
Na época em que se vivia, os mortos eram transportados em mãos ou em ombros por outros homens da aldeia até ao cemitério, pois os caminhos eram estreitos uma vez que qualquer metro de terra desperdiçado poderia ser sinal de fome para uma família.
Além disso, os homens só podiam parar onde houvesse as chamadas alminhas ou nichos, para encomendar o corpo de Deus e para descanso dos vivos, rendendo-se uns aos outros dessa árdua tarefa de enterrar os seus mortos.
Indo eles ladeira abaixo eis que tropeça um dos homens da frente, rebolando pela encosta seguido do morto no caixão, que perseguiu o vivo até o matar. O morto nada sofreu! Mas o vivo virou defunto.
Dizem ser um facto verídico, mas que pelo inusitado da história virou lenda, e ainda hoje qualquer visitante ao contemplar esta aldeia da Lomba de Arões exclama:
– Eis a terra onde o morto matou o vivo!