A lenda do calhau do dinheiro

Texto adaptado por Adão Tavares
Ilustração de Ana Vieira e Vitória Fengira

A lenda do calhau do dinheiro

Escondidos nas serranias
Hoje encobertos por pastos
Há em várias freguesias
Vestígios dos chamados Crastos

Eram cercos bem murados
E em altos miradouros
Dentro deles habitados
Por celtas, gregos e mouros

Povos que viviam da guerra,
Do comércio, da pesca e da caça
E também na nossa terra
Eles deixaram sua raça

Travavam lutas sangrentas
Movidos pela ambição
E com suas ferramentas
Enterravam a riqueza no chão

Na pedra ficou gravado
Em riscos o signo Saimão
A patada de um cavalo
Ou o rabo de um sardão

São essas iniciais marcadas
Que atravessaram gerações
E a elas estão ligadas
Encantes e superstições

É a lenda mais antiga
Merece o lugar primeiro
Por todos mais conhecida
“A lenda do calhau do dinheiro”

Fica no monte sobranceiro
Ao lugar do Chão do Carvalho
Por ter fama de dinheiro
É que deu tanto trabalho

Este penedo gigante
Guarda grande tesouro
Ninguém lhe tira o encante
Que esconde grades em ouro

Diz a lenda que se ouvia
Em horas mortas da noite
E toda a gente temia
Mesmo o homem mais afoite

Rumores de almas penadas
Assombravam a região
Ténues luzes azuladas
Andavam suspensas do chão

As almas nele encantadas
Que lhe serviam de vigia
Tinham que ser responsadas
Prá acabar sua agonia

Já em tempos recuados
Conta a história que um dia
Sete homens arrojados
E o pároco da freguesia

Dirigiram-se ao local
E desenharam no chão
Prá ninguém lhes fazer mal
Um grande signo saimão

Mas havia um seu vizinho
Que armou grande confusão
Indo ao local de mansinho,
por fora do signo saimão

Fez-se o padre acompanhar
De missal, estola e batina
E começou a rezar
Como mandava a doutrina

Expulsar o demónio mau
Que a região assombrava
Deixar livre o Calhau
Que tal tesouro guardava

Era feito um pedido
Por essa moura encantada
Só a troco de um ser vivo
É que a fortuna era dada

Um dos homens respondeu
Sem nenhuma hesitação
Damos-te o que entre nós
Está fora do signo saimão

O cabeço abre-se em instantes
Vê-se machados, grades d’ouro
Ficaram todos radiantes
Ao ver tamanho tesouro

Um remoinho se formou
E o homem num sopro subiu
E feito o sinal da cruz
No meio do mato caiu

De repente fechou-se o penedo
Os homens ficaram pasmados
E regressaram com medo
E todos desanimados

E a riqueza ali ficou
Nesse calhau encantado
E a lenda continuou
Ninguém lhe quebrou o fado